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Seleção ou por aperto para ganhar da Croácia. Foto: Rafael Ribeiro / CBF
Durante a Copa do Mundo o Baguete Diário vai republicar crônicas do site especializado em futebol americano Impedimento sobre os jogos da seleção brasileira. Esse é o primeiro, de autoria de Douglas Ceconello.
Impossível condenar o Brasil por qualquer destempero emocional ou técnico desde que entrou em campo até o momento em que finalmente livrou-se desta enrascada de estrear na Copa do Mundo que sedia. Os mais atentos já suspeitavam que seria uma empreitada árdua desde o momento em que Thiago Silva entrou em campo com os olhos MAREJADOS.
E, se o capitão chora, o mínimo que se espera dos outros é desespero. Na hora do hino, faltava apenas um morto, porque tínhamos onze carpideiras enfileiradas, empenhadas em verter lágrimas. E toda a seleção, Felipão incluído, estava apavorada até as profundezas do espírito, com todos os nervos latejando. Um tanto de felicidade, outro do mais absoluto terror. É natural e bonito e indispensável que assim tenha acontecido.
No fim das contas, o batismo brasileiro em toda esta circunstância nervosa de jogar uma Copa do Mundo em casa não poderia ter acontecido de forma mais conveniente e necessária, justamente pela necessidade de acomodar toda esta aflição mesmo diante de um adversário brioso.
O Brasil começou o jogo obviamente com as pernas cambaleantes, não encontrando amparo no CÉSPED, e ainda por cima se deparou com um adversário que parecia encarnar com gosto o posto de franco atirador. E, se já faz tempo que os laterais brasileiros atrapalham de forma iva, no começo do jogo eles aram a tomar uma atitude PROATIVA na avacalhação. Enquanto Daniel Alves abriu uma via expressa para Olic avançar pela direita, um desastrado Marcelo empurrou o cruzamento para as próprias redes, entrando para a história dos Mundiais como o primeiro jogador a abrir o placar em estreia com gol contra.
O Brasil ainda permaneceu hipnotizado pelo quadriculado lisérgico dos eslavos por uns instantes, quando a Croácia poderia até ampliar o marcador, mas aos poucos, com a marcação avançando, ainda que centímetro por centímetro, o time de Felipão conseguiu se impor.
Paulinho obrigou Pletikosa a espalmar após conclusão dentro da área e, pouco depois, após boa jogada de Neymar, Oscar apanhou o rebote e novamente fez o veterano goleiro esticar os tendões. Aliás, a participação ativa de Oscar e Neymar, chamando para si a responsabilidade, já era uma boa notícia, e foi daí que nasceu o gol de empate, com o meia roubando a bola e o camisa 10 concluindo de canhota, rasteiro e não muito forte, mas o suficiente para LUDIBRIAR o arqueiro croata. E o gol serviu como ÁGUA DE MELISSA para o Brasil, que via o fantasma do fiasco aos poucos evaporar nas quebradas de Itaquera.
O segundo tempo, no entanto, continuaria mostrando um jogo encardido ao extremo para o Brasil. A Croácia defendia-se como se estivesse entrincheirada nas montanhas dos Bálcãs, imune a qualquer investida, o que anulava qualquer intenção ofensiva dos canários, que não criavam qualquer chance de gol. Para piorar, aos poucos o time de Niko Kovac começou a prender a bola, Modric ganhou espaço para coordenar o cenário na meia-cancha e a situação parecia encaminhar-se para uma reversão de expectativas brutal.
Quando o Itaquerão já imaginava que continuaria vendo o time local malograr, eis que uma bola chega a Fred, que durante todo o jogo deve ter feito contato com a pelota no máximo cinco vezes. A menos que demos voz a subterfúgios poéticos e digamos que o Fantasma de 1950 puxou Fred com as duas mãos, é impossível observar qualquer contato que justifique, mesmo que remotamente, o fato de o juiz japonês ter apontado a marca da cal. E Leonardo Di Caprio, presente no estádio, percebeu que há gente mais qualificada na sua frente na fila do Oscar.
Na cobrança, Neymar telegrafou e bateu à meia altura, mas contou com falta de agilidade de Pletikosa, que deve adotar o exoesqueleto robótico para o restante da primeira fase.
Até o final do jogo, uma bolsa de tensão parecia pender sobre o Itaquerão, já que a Croácia não se acadelou e inclusive obrigou Julio César a desdobrar-se para evitar o empate. A angústia durou até o momento que Oscar, de grande atuação, arrancou em um contragolpe e finalizou com um bico de extrema pertinência, de fora da área.
Tratou-se de uma provação, um esforço LABORAL para o autocontrole e com intervenção do juiz, mas o Brasil superou os 64 anos de um hiato anímico que neste Mundial praticamente desconsidera cinco títulos mundiais conquistados. Porque nesta Copa do Mundo, sabemos, apenas um desfecho não será considerado uma decepção para os brasileiros.