
Diego Aranha arrecadou dinheiro no Catarse para app Você Fiscal.
Diego Aranha, professor de Computação da Unicamp, lançará um app que tem o objetivo de realizar uma apuração paralela das eleições de 2014. O funcionamento será por meio de envio de fotos do Boletim de Urna (BU) feitas pelos eleitores em seções eleitorais de qualquer parte do Brasil.
Aranha fez parte de um grupo de técnicos da Universidade de Brasília que, em 2012, comprovou que o sistema de votação brasileiro não garante o sigilo do voto nem a integridade dos resultados. Os testes foram organizados pelo TSE.
De lá para cá, o TSE declarou que algumas das falhas seriam corrigidas e não voltou a realizar testes abertos à sociedade. Em junho o órgão declarou que neste ano também não serão feitos testes públicos das urnas antes das eleições.
O app entrará em ação a partir das 17h do dia 5 de outubro, quando a votação – para presidente, governadores e deputados estaduais – é encerrada.
Quando uma votação é finalizada, os dados de cada urna eletrônica são enviados para os computadores do TSE, onde são somados para calcular o resultado final.
Também ao final da votação, cada urna imprime o chamado Boletim de Urna, o BU, espécie de recibo com os totais de voto por candidato naquele aparelho. Esse documento deve ser fixado em local público, como a parede ou na porta da seção eleitoral.
O Você Fiscal vai permitir que qualquer eleitor fiscalize a urna em que votou – e a de quantas seções eleitorais quiser percorrer. Utilizando o aplicativo, bastará fotografar de maneira adequada o BU.
A partir dessa amostra colaborativa, o Você Fiscal somará os resultados de forma independente e indicará, em comparação aos resultados divulgados pelo TSE, possíveis erros ou fraudes.
“Podemos detectar se determinada urna for extraviada, trocada ou adulterada pela manipulação da versão eletrônica do seu Boletim de Urna. E, com usuários suficientes, também vamos ver se ocorrer um erro ou fraude no software que roda no servidor do TSE para somar o resultado final”, diz Aranha.
Erro ou fraude no software que funciona dentro da urna e uma eventual fraude de mesários não poderão ser avaliadas pelo app.
“Em 2012, o TSE nos deu cinco horas para analisar mais de 10 milhões de linhas de programação do código do software da urna, que eles nos abriram. Descobrimos como reverter o mecanismo usado para o embaralhamento dos votos [que garantiria o sigilo] em menos de uma hora”, conta o professor.
Aranha e os técnicos que coordenou provaram a falha ao simularem uma eleição com 950 votos e, na sequência, ordenarem esses votos.
“Ou seja, achamos um erro absolutamente banal do sistema, e isso durante um teste limitado e curto. Acredito que, se pudéssemos fazer experimentos realistas e sem restrições, as urnas eletrônicas brasileiras seriam viradas do avesso. Infelizmente, hoje elas são praticamente uma caixa preta”, diz.
O professor conseguiu, em menos de 6 dias, acumular os R$ 30 mil solicitados no Catarse, site de financiamento coletivo, para desenvolver o aplicativo.
O dinheiro arrecadado está em R$ 41,5 mil. O projeto ainda pode ganhar recursos por mais 21 dias.
A previsão inicial de gastos, a partir dos R$ 30 mil solicitados, era de R$ 20 mil para design e desenvolvimento e R$ 5,1 mil para produção de material de divulgação e assessoria de imprensa.
Além disso, R$ 3,9 mil pagarão a taxa do Catarse (13%) e R$ 1 mil será para produção e envio de recompensas prometidas no crowdfunding.