
Bill McDermott se despediu da SAP. Foto: SAP.
Bill McDermott, CEO da SAP, está deixando a empresa depois de nove anos à frente da gigante de software empresarial alemã.
Com a saída de McDermott, o comando será dividido entre dois co-CEOs: o atual Chief Operation Officer Christian Klein, 39, e Jennifer Morgan, 48, que até agora liderava a área de estratégia e cloud.
Os dois são integrantes do board da SAP. Com a decisão, Morgan será a primeira mulher a liderar uma empresa do DAX, o grupo das maiores empresas alemãs com ações abertas na bolsa.
O modelo de ter dois CEOs à frente da empresa já foi usada três vezes nos quase 50 anos de história da SAP, incluindo um período entre 2010 e 2014 quando o próprio McDermott dividiu o comando com outro executivo antes de assumir o controle (depois de um acidente doméstico em 2015 no qual perdeu o olho esquerdo, o CEO ou a usar sempre óculos escuros, o que se tornaram uma marca pessoal).
A Oracle, arquirrival da SAP, também é comandada por dois executivos, ainda que na empresa americana o fundador Larry Ellison, aos 74 anos, ainda é muito mais ativo no cotidiano da empresa do que o seu equivalente da SAP, Hasso Plattner. A Salesforce também optou recentemente por colocar mais um CEO ao lado do fundador Marc Benioff.
A decisão de McDermott não foi precedida dos rumores que costumam preceder movimentações desse calibre, ainda que também seja verdade que as mudanças no comando da SAP nas últimas décadas sempre tiveram esse “elemento surpresa”.
Em entrevista ao site americano Tech Crunch, McDermott disse que foi uma decisão pessoal e que ele não está se aposentando (o executivo tem 58 anos), apenas acha que é a hora certa para sair do comando.
“Eu não tenho medo de tomar decisões. Essa é uma das coisas pelas quais eu sou conhecido”, disse McDermott. De acordo com o executivo, a decisão permite à SAP fazer uma sucessão em um momento de “máxima força”.
“Sem Bill, a SAP não estaria onde está hoje. Foi ele que reconheceu a importância fundamental da computação em nuvem em um estágio inicial e teve um papel decisivo em liderar a mudança cultural necessária”, afirmou Plattner em um e-mail para funcionários.
Para o Tech Crunch, o mais provável é que McDermott apareça no comando de alguma outra empresa em breve (o executivo fica no board executivo da SAP até o final do ano).
A Wirtschafts Woche, principal revista de economia da Alemanha, não está tão impressionada com o momento da SAP ou com a estratégia de apostar em produtos na nuvem.
Na análise da publicação, os novos CEOs precisam “reconquistar urgentemente a confiança perdida na base de clientes tradicional”, entre os quais a estratégia de produto da empresa causa problemas.
“Muitas pessoas tem a impressão que a empresa só cuida dos produtos cloud modernos, deixando de lado seus produtos core”, aponta a revista, que na semana ada trouxe uma matéria sobre como algumas grandes empresas do setor elétrico alemão estão migrando para soluções de gestão da SAP uma startup local.
Recentemente, o DSAG, o poderoso grupo de usuários dos softwares da SAP na Alemanha, Suíça e Áustria, divulgou uma pesquisa com dados que secundam a visão cética da Wirtschafts Woche.
De acordo com o levantamento do DSAG, só 24% dos clientes se sentem bem informados pela SAP, 45% confiam apenas parcialmente na estratégia de negócios da empresa, enquanto outros 30% não tem confiança.
Por outro lado, é possível que o humor da base de usuários na Alemanha não tenha tanto impacto assim em uma empresa que é a líder quando o assunto é software empresarial.
No trimestre encerrado em setembro a SAP teve receita de € 6,8 bilhões, uma alta de 13% e o lucro líquido saltou 30% para € 1,26 bilhões.