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Paulo de Tarso Luna.
O Ceitec pode estar rumo a um salto de qualidade nas suas operações, com uma projeção de faturamento de R$ 100 milhões em três anos, nada menos que 23 vezes o valor obtido em 2015, último ano com resultados divulgados.
A previsão é do novo presidente da estatal federal de chips instalada em Porto Alegre, Paulo de Tarso Luna.
A concretização da meta, no entanto, depende de que o governo federal decida tocar adiante diversas políticas públicas de digitalização estagnadas nos últimos anos - e que o Ceitec se torne o fornecedor dos chips.
O que há de mais concreto é o chip dos aportes brasileiros. Nesta semana, o Ceitec recebeu a certificação de segurança Common Criteria, uma norma da ISO essencial para fornecer chips para documentos. O centro gaúcho é o único fabricante no hemisfério sul certificado.
O Brasil emite dois milhões de novos aportes por anos, todo chipados. Um contrato com a Casa da Moeda para fornecer os chips seria tacada para o Ceitec, que estima poder produzir 300 mil unidades por mês do chip, em um processo produtivo feito parte em Porto Alegre e parte em fornecedores externos.
Os aportes brasileiros já são chipados e o Ceitec está argumentando por uma substituição.
"Não se trata apenas de uma discussão operacional, trata-se de uma definição estratégica, porque ao chip do aporte também estão associadas questões de segurança e de soberania nacional”, argumenta Luna, que está em conversas com o Ministério das Relações Exteriores, Justiça e Fazenda sobre o tema.
A previsão é que o chip do aporte pode gerar em torno de R$ 15 milhões por ano para Ceitec, no segundo ano de implantação. É a frente de expansão mais promissora.
Os R$ 85 milhões que faltam vem de projetos com um histórico bem mais complicado: o Registro Civil Nacional (RCN) e o Sistema de Identificação Automática de Veículos (Siniav).
O RCN prevê um número único para o cidadão, no qual serão associadas informações como F, título eleitoral, biometria entre outras. O projeto foi lançado pela então presidente Dilma Roussef em 2015.
Essa nova identidade é uma reencarnação do Registro de Identidade Civil (RIC), anunciado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva em 2010. Consistindo essencialmente na mesma coisa que o RCN, o RIC nunca foi para frente.
Para decolar totalmente, o RCN depende da biometrização total do registro eleitoral brasileiro (o Tribunal Superior Eleitoral é o dono do projeto). Hoje, são 30 milhões de registros, com a previsão de atingir todos os brasileiros só em 2020.
Já o Siniav determina a obrigação da instalação de chips em carros, motos e caminhões. O problema é que a obrigatoriedade da adesão é protelada desde 2006. No meio tempo, o Ceitec tem emplacado o produto entre veículos transportadores de carga.
Hoje os carros chefes do Ceitec são o chamado “chip do boi” utilizado para controlar grandes rebanhos e um outro focado em logística é utilizado para controle de estoque.
Esse chip foi o primeiro no hemisfério sul a ser aprovado pelo programa GS1 EPCglobal Hardware Certification, que certificou apenas 10 chips em todo mundo.
O Ceitec vem numa trajetória de crescimento nos últimos anos, mas ainda está longe da lucratividade.
O faturamento de 2015, de R$ 4,3 milhões já foi uma alta de 48% frente aos resultados de 2014. Ao mesmo tempo, a companhia aumentou seu prejuízo quase na mesma proporção, fechando com um negativo de R$ 31,2 milhões, frente aos R$ 21,8 milhões do ano anterior.
No ano, foram mais de 17 milhões de chips vendidos, mais do que nos três anos anteriores juntos. O Ceitec começou a faturar em 2012 e desde então vem crescendo, tendo atingido a marca do R$ 1 milhão em 2013.
A empresa precisa ampliar as vendas, uma vez que tem custos fixos altos. Ao todo, são 195 funcionários, a grande maioria formados, 53 deles com mestrados, sete com doutorados e quatro com pós-doutorados.
Como é comum nesse segmento, a empresa também fez investimentos pesados em tecnologia antes de decolar a operação.
Um deles foi a implantação no ano ado do SAP S/4Hana, última versão da solução de gestão da multinacional alemã, a um custo total de R$ 2,5 milhões.
A companhia também comprou em 2014 um HP Pod, solução de data center in a box da multinacional, a um custo de R$ 5 milhões.
O Ceitec, destinado a fomentar a indústria de semicondutores brasileiras, é parte da política industrial do governo brasileiro na última década. Os aportes feitos no centro chegam a R$ 670 milhões desde 2000.
A estatal parece estar ando imune pela turbulência e corte de custos em andamento em Brasília.
A última grande discussão sobre o futuro do Ceitec foi em 2013, quando foi discutida publicamente a possibilidade de venda de parte de empresa, deixando o governo como sócio de uma PPP gerida pela iniciativa privada.