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Tempo está ficando ruim em Floripa. Foto: flickr.com/photos/trekman/
Florianópolis vem se firmando nos últimos anos como uma referência em inovação e empreendedorismo no Brasil: figura carimbada em rankings nacionais e internacionais, a capital catarinense parecia estar fazendo tudo certo – parecia.
A decisão de duas startups promissoras de trocar a Ilha da Magia pela bem menos charmosa Palhoça, na região metropolitana, junto com uma matéria cheia de críticas de entidades à prefeitura municipal de Floripa mostram que nem tudo vai bem numa das concorrentes ao título de “Vale do Silício Brasileiro”.
As startups em questão são a Neoprospecta, criadora de uma tecnologia para fazer diagnóstico microbiológico em larga escala e a Welle Laser, fábrica de equipamentos a laser de ponta para manufatura.
Ambas tem o perfil de empresas com alto potencial de crescimento, tecnologia de ponta e empregos qualificados e bem pagos que as cidades buscam atrair hoje.
A Neoprospecta já levantou R$ 4 milhões do fundo Cventures Primus e prêmios internacionais. Fundada por pesquisadores gaúchos, a empresa havia se transferido para o InovaLife, incubadora voltada a empresas do segmento de ciências da vida localizada no Sapiens Parque e mantida pela Fundação CERTI.
Já Welle Laser a foi a única empresa a ser selecionada por unanimidade para participar do programa da ONG Endeavor além de ser apontada em um ranking da Deloitte como a empresa média com maior crescimento do país. Ela estava no CELTA – Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas.
A saída das duas foi atribuída a mesma causa por representantes de três entidades de TI representativas de Florianópolis ouvidos pelo Diário Catarinense: dificuldades burocráticas na prefeitura.
“As empresas de tecnologia não dependem do apoio da prefeitura. Mas a gente está diante do risco de o município perder várias dessas companhias”, disse ao jornal o presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Guilherme Stark Bernard.
De acordo com Bernard, os planos da Neoprospecta de se instalar no Sapiens Parque, condomínio tecnológico no norte da ilha, foram frustrados pela lentidão da prefeitura em liberar alvarás de atuação. A Welle teve problemas em encontrar um local pelo zoneamento restritivo da capital catarinense.
“O próprio Plano Diretor ignorou o setor que mais contribui com recursos para o município”, criticou ao jornal catarinense Heitor Blum, presidente da Sucesu-SC.
A nova sede da Acate, um complexo de mais de 6 mil m2, projetado para concentrar a sede da associação, a incubadora MIDI Tecnológico e espaços para serem locados para empresas, também ainda não tem alvará.
As empresas do setor de tecnologia são, entre as instaladas na cidade, as que mais arrecadam impostos para Florianópolis. Foram R$ 72 milhões em 2014, com crescimento de 20% em relação ao ano anterior.
Também manifestaram críticas na matéria Alexandre d’ Ávila, presidente do Sindicato das Indústrias de Informática de Santa Catarina (Siesc).
Os instrumentos institucionais da cidade para promover a inovação também estão mal das pernas.
Os dirigentes de entidade reivindicam da prefeitura que aumente a dotação orçamentária da secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável, criada em 2009.
Outro assunto pendente é a regulamentação da Lei de Inovação, aprovada de maneira pioneira na cidade em 2012, mas ainda não regulamentada.
Um dos instrumentos previstos na lei é um fundo municipal a ser abastecido com uma participação dos impostos pagos pelas empresas de tecnologia da cidade. Previsto para ter R$ 15 milhões, o fundo ainda não tem um centavo.
É difícil avaliar qual será o impacto futuro na capacidade atração de investimentos em tecnologia na Florianópolis, apontada pela Endeavor como a mais empreendedora em uma lista com 14 capitais (São Paulo é a segunda, seguida de Vitória, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre).
Alvarás e licenças são um assunto complexo em Florianópolis, uma das cidades mais visitadas do país: segundo dados da secretaria de turismo da cidade, são esperados um milhão de turistas em 2015.
Apesar de menos visível para os visitantes que as belas praias, o setor de tecnologia é uma potência na cidade. De acordo com a Acate, hoje, a cidade já soma 600 empresas do setor que faturam R$ 1 bilhão por ano e cresceram 15% em 2014.
O protesto barulhento nas páginas do Diário Catarinense mostra que o segmento quer ser mais ouvido na decisão dos rumos da cidade.