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Javier do Porto, gerente do centro de desenvolvimento de talentos da Globant no Brasil (Foto: Divulgação)
A Globant, multinacional de desenvolvimento de software, apostou em uma estratégia diferente para aumentar a retenção de talentos na companhia: deixar que os funcionários troquem de projetos dentro do portfólio de clientes da empresa ou em a trabalhar baseados em um escritório fora do país.
Desde que o programa chamado Open Career foi lançado no Brasil em julho deste ano, 50 dos 950 colaboradores da empresa no páis já aderiram à iniciativa.
Segundo Javier do Porto, gerente do centro de desenvolvimento de talentos da companhia no Brasil, era comum que os “Globers”, no jargão interno, se interessassem por outros projetos, mas não tivessem oportunidade de fazer parte deles. A frustração resultante era um incentivo para trocar de emprego.
“A gente quebrou esse paradigma com o Open Career, fazendo com que ser um programa, primeiramente, aberto, signifique que cada Globant pode ver os projetos do mundo e escolher a sua participação sem precisar que ninguém pré-aprove essa postulação. Nós estamos dando o poder da decisão sem que a companhia faça uma imposição”, explica Porto.
O funcionário pode se inscrever através de uma ferramenta interna e enviar sua aplicação para o projeto almejado sem necessidade de obter uma autorização de seu líder atual.
Em seguida, o pedido será analisado com base em critérios como suas habilidades e senioridade, que devem estar de acordo com o trabalho escolhido.
Caso e no fit, o colaborador se depara com um processo parecido ao de um desligamento, para deixar “a casa em ordem”, mas sendo transferido para seu novo time.
Já em casos em que o funcionário não se adequa aos requisitos da vaga no projeto desejado, a Globant se dispõe a oferecer certificações para capacitação de hard e soft skills.
Mateus Marques, desenvolvedor NodeJS sênior na Globant, explica que em um primeiro momento, antes de migrar de projeto por meio do programa, teve receio de receber retaliação por parte de seus antigos líderes, mas mesmo assim decidiu seguir com a decisão que considera inovadora.
“O fato de manter os desenvolvedores apenas mudando de projeto ajuda a companhia a compreender porque o turnover ocorre, onde ambos os lados pecam e criar meios para mitigar o problema de forma interativa. É uma forma de fazer o turnover jogar no time da empresa. É genial”, analisa Marques.
De acordo com Porto, o segredo para que seja atingido um equilíbrio a fim de evitar grandes taxas de evasão nos projetos é a conduta dos líderes, agora mais dedicados a manter suas equipes satisfeitas para não perder integrantes.
“Não estamos preocupados de haver mudanças muito frequentes Nós procuramos relacionamentos longos e próximos com o cliente, e as equipes também procuram maturidade para aportar valores mais detalhados. É muito difícil que aconteça, porque aí o problema está muito mais no líder do que no projeto”, explica Porto.
Um levantamento divulgado pela Microsoft este ano revelou que 65% dos brasileiros afirmam que permaneceriam por mais tempo em um emprego caso tivessem mais oportunidades de mobilidade interna, tendência que, entre a geração Z e os Millennials, é ainda maior, com 69% de adeptos.
O italiano Gianluca Turano, líder de DevOps na Globant, não fica de fora das estatísticas: como freelancer há mais de dez anos, atuando agora no Brasil, o executivo afirma que a falta de flexibilidade em um ambiente de trabalho seria um “deal breaker” para que continuasse em uma empresa.
Por meio do Open Career, o colaborador conseguiu usufruir ainda da Personal Trip, modalidade em que o funcionário pode solicitar a transição para o trabalho remoto em outro país, desde que feito com dez dias de antecedência.
O período de home office, por sua vez, é definido com base na infraestrutura da Globant no destino, podendo chegar a 30 dias em países em que a empresa não possui escritórios.
“Saber que tenho a possibilidade de mudar de cliente, cargo, emprego ou país, mas continuar na empresa me dá tranquilidade e vontade de crescer nesse ambiente. Quando vi que a Globant permite trabalhar em outros continentes foi surpreendente. Ter a possibilidade de viajar e trabalhar na casa onde fui criado é o verdadeiro home office”, comemora Turano.
Apesar de os intercâmbios entre escritórios ainda estarem com baixa adesão, totalizando apenas seis até agora, com destino para Itália, Peru, México, Argentina, Chile e Estados Unidos, a Globant segue incentivando seus colaboradores através de histórias de sucesso que têm gerado um efeito multiplicador.
Até o momento, o escritório de São Paulo já recebeu uma colaboradora da Colômbia, que aproveitou a oportunidade de estabelecer um vínculo com uma nova cultura para realizar um curso de aprimoramento na Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Queremos abraçar a pessoa e tomar a iniciativa de incluí-la na dinâmica local como se fosse sua casa em um país diferente”, finaliza Porto.
Fundada em 2003 e com sede em Buenos Aires, a Globant possui 25,9 mil funcionários e está presente em 21 países.
A companhia conta com clientes como Google, Rockwell Automation, Electronic Arts e Santander e apresentou um faturamento de US$ 814,1 milhões em 2020.
A Globant foi apontada como "Worldwide Leader of Digital Strategy Consulting Services” pelo relatório IDC MarketScape e foi a primeira empresa latino-americana a abrir capital nos Estados Unidos, ainda em 2014.