
Reunião interna da Stefanini foi gravada. Foto: Depositphotos.
Funcionários terceirizados da Stefanini dentro da Prodesp foram orientados a se demitir para poderem ser contratados por outro grande fornecedor da estatal de tecnologia do estado de São Paulo.
Pelo menos, é o que se deduz de extratos de uma suposta gravação do RH da Stefanini com funcionários da empresa, publicada pela revista Carta Capital em seu site.
A reunião aconteceu na tarde do dia 3 de janeiro, por meio da plataforma de videoconferência Teams e não havia sido divulgada até agora. A Carta Capital não chegou a divulgar o vídeo na íntegra, apenas diferentes afirmações que teriam sido feitas por uma profissional de RH da Stefanini durante o encontro.
A tônica geral é convencer os profissionais a se demitirem por conta própria, para serem contratados pela IT2B, outra fornecedora da Prodesp. Com isso, os funcionários não receberiam a multa rescisória sobre o FGTS, mas evitariam problemas.
“É muito melhor trocar de emprego quando se está trabalhando, porque o recrutador pensa que a pessoa que está em casa não está buscando melhorias na vida, não está ativa como um todo. Pensem bem, vocês não ficarão desempregados”, orienta a profissional de RH, segundo a transcrição da Carta Capital.
Ainda de acordo com a revista, um dos funcionários pergunta o que acontecerá caso ele não aceite pedir demissão. A representante do RH, então, diz que a empresa irá “realocá-lo onde tiver vaga”, com uma insinuação de eventuais complicações: “pode ser próximo a sua residência, pode ser longe”.
Durante o diálogo, outra colaboradora questiona se o processo, chamado de “acordo amigável” pela representante da Stefanini, seria só pedir demissão. “Isso, recebendo todos os direitos, menos os 40% do FGTS. Nem o aviso prévio”, responde a profissional do RH.
“Vocês vão pedir demissão, mas com a garantia de todas as suas verbas rescisórias pagas”, reafirma a representante do RH ao término da reunião: “Vai ser um acordo amigável, vamos dizer, para ambas as partes saírem ‘ok’, ambas as partes saírem bem”.
A existência da gravação coloca um novo peso sobre as acusações do Sindpd, sindicato profissional de TI de São Paulo, de que a Stefanini teria pressionado 200 funcionários terceirizados a pedir demissão uma redução na quantidade de serviços prestados na Prodesp.
Para os funcionários, teria sido mais favorável ser demitidos e depois migrar para a nova prestadora de serviços.
O assunto já virou uma investigação no Ministério Público do Trabalho de São Paulo no final de março.
Um agravante é que o contrato entre Stefanini e Prodesp teria uma cláusula contratual para pagamento das verbas rescisórias, segundo o MPT.
Procurada pela Carta Capital, a Stefanini não se manifestou, uma linha que vem sido adotada pela empresa nas suas disputas com o Sindpd, lista na qual o tema Prodesp nem seja o mais importante.
Outra briga, que também está na justiça, diz respeito ao pagamento de participação nos resultados aos funcionários da empresa em São Paulo entre os anos de 2013 e 2023.
O Sindpd afirma que a Stefanini pagou PLR aos gerentes, o que a colocaria na obrigação de pagar a todos os demais funcionários, inclusive retroativamente. A Stefanini nega e fala que o pagamento era um bônus, computado erroneamente como PLR.
Também nesse caso vieram à tona documentos internos, publicados no site do Sindpd, que divulgou não faz muito a criação de uma “tropa de elite”, voltada para a coleta de informações sobre empresas de tecnologia.
Em paralelo a esses dois assuntos corre ainda a negociação do dissídio coletivo da Stefanini para 2023, no qual o Sindpd abriu os trabalhos ameaçando uma greve, como a realizada recentemente na Qintess.
As brigas com a Stefanini ganham uma visibilidade extra pelo tamanho da empresa, uma das maiores do setor de tecnologia no país, mas também pela visibilidade de Marco Stefanini, o seu fundador, e de Antonio Neto, presidente do Sindpd e da central sindical CSB.
Ambos são integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conhecido como Conselhão, uma espécie de quem é quem no Brasil atual.