
Ioschpe: pagar mais aos professores não melhora educação. Foto: Marcus Quint.
Os professores não ganham mal no Brasil, se comparado a países com melhores taxas de qualidade da educação, e aumentar os pagamentos ou percentual do PIB destinado ao setor não é solução para garantir a melhoria.
A afirmação é de Gustavo Ioschpe, colunista da revista Veja que palestrou sobre o tema "Educação e Competitividade" nesta quinta-feira, 19, na Jornada Inovação e Competitividade, promovida pela Fiesc, em Florianópolis.
Segundo Ioschpe, que é consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), aumentar recursos para o setor, ando de 5% para 10% do PIB, não vai resolver, pois países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) também investem 5% na educação e têm qualidade.
“O Brasil tem um dos piores sistemas educacionais do mundo e que, ao mesmo tempo, consome muito. Gasta muito e entrega muito pouco. E os salários dos professores não podem ser considerados baixos, comparado com o de outros países", disparou.
O consultor argumentou que, enquanto no Brasil o salário médio dos docentes equivale a 1,56 vez o PIB per capita, nos países com maiores índices educacionais, é de 1,31 vez.
Além disso, destacou que, no Brasil, o índice de repetência no primeiro ano do ensino fundamental de 24%, acima de lugares como México e Índia.
Já a taxa brasileira de analfabetismo funcional é de 74%.
Para o Ioschpe, estas taxas geram um problema de qualidade que se estende a todos os níveis de ensino, culminando no mercado de trabalho.
"Não há como uma nação ter triunfo econômico se há gap de conhecimento em relação à maioria dos países. O que determina o desempenho de um profissional é seu preparo”, afirmou. “Educação precisa ser entendida não apenas investimento social, mas estratégico", disparou.
NA SALA DE AULA
Conforme o consultor, a chave para o problema está na sala de aula.
“É preciso conscientizar toda a sociedade sobre a real situação da educação no país e a necessidade de exigir mudanças”, ressaltou.
Ele citou dados do Inep (Instituto de Pesquisas do Ministério da Educação), segundo os quais o índice de satisfação dos pais com o ensino público é de 8,6, em uma escala até 10.
Enquanto isso, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), é de 4, também em escala até 10.
“Se a população achar que está tudo bem, ninguém vai achar que é preciso melhorar o ensino", afirmou.
QUEM TEM MEDO DO SINDICATO?
Para melhorar os níveis de educação, o colunista sugeriu a obrigatoriedade de divulgar o Ideb de cada escola em quadros visíveis aos pais, com comparativos à média da região.
Outra sugestão foi o engajamento do setor empresarial nas campanhas por melhor qualidade na educação.
“A participação da sociedade implica também em enfrentar a resistência de setores como os sindicatos”, afirmou Ioschpe.