
Candidato da Internet, Mandic não conseguiu transpor a popularidade na rede para as urnas
Aleksandar Mandic, pode-se dizer, foi um candidato 100% internet.
Criador do Mandic BBS e um dos sócios-fundadores do iG, ele concorreu a uma vaga como deputado federal pelo DEM paulista apostando numa campanha voltada para a internet e na interação com os eleitores pelas novas tecnologias.
Não deu certo.
Com mais de 76 mil seguidores no microblog, Mandic, 55 anos, teve apenas 10.981 eleitores apostando na sua candidatura em São Paulo, e é um caso emblemático do uso da rede no pleito desse domingo, 30.
“Respondi mais tuiteiros do que tive votos (risos). Eu não esperava que todo o seguidor votasse em mim, assim como não esperava fazer 100 mil votos... mas contava com pelo menos 50 mil”, disse Mandic.
Na avaliação do candidato, que tirou a segunda-feira para descansar em Florianópolis, o Brasil ainda não está pronto para uma campanha integralmente online.
Mandic revelou ao Baguete que, apesar de querer se eleger, sua participação nestas eleições também foram um teste, tanto que ele chegou a fazer um laboratório com os métodos tradicionais, na cidadezinha paulista de Jaborandi, 3 mil eleitores, na qual ele nunca colocou o pé.
Santinhos, bandeirada e carreata fizeram parte da estratégia jaborandiense do candidato.
“Lá, eu fiz 5% dos votos, mais que o Tiririca (que teve votação recorde)”, entusiasma-se Mandic.
Fama na rede não foi garantia
Popularidade online sem reflexo nas urnas não foi exclusividade de Mandic. Segundo a consultoria E.Life, na noite do último debate entre os presidenciáveis os comentários no Twitter se dividiam entre Dilma (37,9%), Marina (23,4%), Serra (19,9%) e Plínio (18,9%).
Nas urnas, os percentuais foram 46,91% (Dilma), 32,61% (Serra), 19,33% (Marina) e 0,87% (Plínio).
Pesquisadora do núcleo de comunicação da UFRGS, a professora Sandra Bitencourt se debruça sobre o tema da internet nas eleições para sua pesquisa de doutorado. Com a flexibilização das regras para a internet, diz Sandra, houve uma euforia com o uso da rede. O resultado foi um uso da web com pouca interferência no resultado final das eleições.
“O que se viu é que a visibilidade na internet não significa uma boa reputação perante os eleitores. Quem já tinha presença na internet e na mídia tradicional é que acabou se beneficiando”, avalia Sandra.
“O problema é que nós não tivemos conteúdo diferenciado nesta eleição”, acrescenta Jonatas Abbott, diretor da Dinamize e blogueiro do Baguete Diário.
Por “bom conteúdo”, Abbott se refere a uma história que mobilize o público. Para Abbott, o uso da internet ficou concentrado demais nas ações da militância, e acabou dando uma repercussão apática à fala dos candidatos.
“O segredo é fazer uma campanha em que as mídias se complementem e se integrem”, diz o coordenador da Agência Inovapoa, Newton Braga Rosa.
Candidato a vereador em Porto Alegre por duas vezes, Braga usou internet e mídias convencionais nas disputas. Ele teve o dobro de votos entre 2004 e 2008, chegando a 4,5 mil no segundo pleito, usando a dobradinha mídia tradicional e Orkut.
Apesar do mau resultado, Mandic não desanima, e cogita a possibilidade de concorrer novamente, sob as mesmas condições.
“Audiência na internet eu tinha. Mas cada vez que ava a propaganda na TV, eu percebia que o negócio (audiência) estourava. Se eu concorrer de novo vai ter que ser num contexto diferente, partidário e eleitoral”, conclui.