
Além de minoria, as mulheres são mais propensas a ocuparem cargos júnior na TI. Foto: Alex Kotliarskyi no Unsplash.
Apesar dos movimentos que buscam promover a igualdade de gênero nas empresas de tecnologia, as mulheres desenvolvedoras ainda enfrentam dificuldades para sair de posições de nível júnior.
O estudo Women in Tech 2018, publicado pelo portal americano HackerRank, aponta que as mulheres, independentemente da idade, são mais propensas a ocupar papéis de nível inicial.
Para desenvolver o relatório, o HackerRank pesquisou 14.616 desenvolvedores, sendo 1.981 mulheres e 12.635 homens. Não há uma pesquisa com o mesmo foco com dados brasileiros.
Mesmo afetando todas as gerações, as diferenças crescem de acordo com a idade. As mulheres com mais de 35 anos são 3,5 vezes mais propensas a ocupar uma posição júnior do que um homem da mesma faixa-etária.
Com essa idade, 20,4% das mulheres continuam ocupando papéis júnior, enquanto 5,9% dos homens se mantém nesse nível.
Também há desigualdade entre os desenvolvedores mais jovens, mas não tão significativa: 1,09 vezes mais mulheres estão em cargos de nível inicial nessa faixa.
Para o The Next Web, o estudo não apresenta apenas más notícias. O relatório destaca várias tendências positivas para as mulheres no mundo do desenvolvimento de software, como o fato de que elas trabalham com linguagens e frameworks mais exigidos, além de atuarem em áreas muito lucrativas .
No estudo, mais de 60% das entrevistadas afirmaram tem competência em Java, JavaScript e/ou C. Além disso, mais de 40% disseram saber C ++ e Python. Essas linguagens são as procuradas pelos empregadores, de acordo com o relatório de habilidades do HackerRank.
As mulheres também estão trabalhando em campos que pagam bem. Na pesquisa, mais de 10% das mulheres afirmaram trabalhar no setor de serviços financeiros. Já cerca de 3,6% atuam na indústria automotiva.
O relatório destaca outra tendência encorajadora e mostra que o gap entre homens e mulheres que aprendem a programar com menos de 16 anos está se estreitando. Entre os participantes, 13,9% das mulheres com idades de 18 a 24 anos começaram a programar quando ainda estavam na escola, em comparação com 20,9% dos homens na mesma faixa etária.
Como comparação, os homens com idade superior a 35 tem aproximadamente duas vezes mais chances que as mulheres de ter começado a programar antes dos 16 anos.
Allyson Kapin, que istra a ONG Women Without Tech, atribui o número de mulheres presas em papéis júniors às questões culturais.
"Ainda estamos vendo uma grande diferença de gênero nas carreiras, em que mais homens estão sendo contratados para papéis seniores em comparação com as mulheres, apesar dos conjuntos de habilidades similares. Não conseguiremos desmantelar a cultura do ‘brogrammer’ sem garantir que as mulheres estejam se movendo para funções sênior de programação e liderança", destaca, em entrevista à TNW.
Já Cathy White, da CEW Communications, com sede em Londres, atribui o desequilíbrio em funções seniores a papéis de gênero enraizados.
"Uma das principais razões para a queda inicial das mulheres na área de ciência da computação foram os anúncios para comercializar computadores e jogos para uma audiência masculina na década de 1980. Isso resultou em uma geração de garotas dizendo que a tecnologia é para meninos”, lembra.
Ela acredita que para vermos mais mulheres estudando tecnologia e tendo sucesso em posições seniores na indústria é preciso ter mais exemplos femininos.
“Precisamos continuar a desafiar a norma e a lutar pela divisão 50/50, no topo e em posições iniciais", destaca.
A TNW também relata que algumas mulheres afirmaram que fatores como gravidez e vida familiar ainda hoje tem culpa na diferença das carreiras.
Uma pesquisa sobre o baixo número de mulheres na área da computação, realizada na Southeastern Louisiana University, dos Estados Unidos, mostra que elas são menos estimuladas às carreiras de tecnologia.
O estudo cita propagandas midiáticas, educação escolar e a família como fatores que influenciam na criação do estereótipo de que homens são melhores na área de exatas, enquanto mulheres se dão melhor nas humanas. A pesquisa também aponta a falta de representação de mulheres na área como fator importante para afastar as jovens dos cursos de tecnologia.
Grande parte dos esforços para diminuir a diferença de gênero na tecnologia tem focado em levar as mulheres para dentro das empresas. No entanto, a pesquisa do HackerRank mostra que ainda é necessário criar meios para garantir que elas possam progredir em suas carreiras no mesmo ritmo que os homens com os mesmos conhecimentos.