
Piero Contezini, CEO da fintech Asaas. Foto: Divulgação.
*Por Piero Contezini
Originalmente o cartão de crédito foi concebido com o objetivo de conceder a uma pessoa, no caso o titular do cartão, a possibilidade de fazer compras à vista, pagando por elas somente no mês seguinte. Essa modalidade foi adotada no mundo todo e no Brasil não foi diferente, lá no início
No mundo, o emissor do cartão, na maioria dos casos os bancos, entrega ao lojista o valor da venda em até 48 horas. Sendo assim, eles dão crédito ao pagador, porém o vendedor recebe o dinheiro quase que à vista.
Nos anos 80, com a crise econômica e a hiperinflação, alguns emissores de cartão tiveram uma ideia bem interessante: eles toparam baixar suas taxas (na época giravam em torno de 8%) para menos da metade, caso o lojista toe receber o dinheiro somente 30 dias depois. Isso foi um sucesso no mercado, e a bandeira que inovou, acabou por definir o padrão de operações de cartão no país.
Com essa mudança, deixou de existir cartão de crédito de fato no mercado brasileiro. Isso porque a visão dessa modalidade de pagamento é justamente o titular do cartão pagar uma anuidade para portar o cartão, em prol de que o lojista possa lhe dar as mesmas condições do dinheiro à vista. Essa relação mudou completamente, fazendo com que a emissão de cartões se tornasse um dos melhores negócios do sistema financeiro brasileiro, uma vez que quem ou a de fato dar crédito (por 30 dias) foram os lojistas, e mesmo assim, os emissores continuaram cobrando a anuidade do titular. Além disso, os adquirentes também continuaram cobrando as taxas de transação e aluguel de máquinas de cartão.
Os adquirentes (empresas de processamento de cartão), entendendo a lógica desse mercado, criaram os serviços de antecipação de recebíveis. Dessa forma, acabaram por onerar ainda mais o lojista que, além de dar o crédito para o emissor, ainda paga juros para ter o dinheiro liberado mais rápido.
Quem perde de fato é o consumidor e o mercado brasileiro. Estes pagam por um crédito que não existe, pagam para dar crédito como lojista e ainda pagam para receber o dinheiro um pouco mais rápido. Para resolver esta situação, as fintechs podem ser uma solução ao o que, pelo menos no campo da emissão de cartões, já existem alternativas completamente sem custo, algo inimaginável há alguns anos.
*Piero Contezini é CEO da fintech Asaas.