
Rogério Santanna, presidente da Telebrás
A presença em Porto Alegre do presidente da Telebrás, Rogério Santanna, expôs um possível racha no governo federal em torno do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) – o carro-chefe da inclusão digital do executivo nacional, com orçamento de R$ 600 milhões.
Santanna esteve nessa terça-feira, 19, num seminário sobre o tema.
Após a apresentação, Santanna foi questionado pelo vice-presidente da Federasul, Jaime Wagner, sobre a aparente dissonância entre a Telebrás, defendendo os pequenos provedores; e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que estaria “se bandeando” para o lado das grandes de telecom no Brasil.
“Eu posso falar pela Telebrás, e não pelo ministro”, disse Santana. “E nós (Telebrás) temos, sim, interesse em fortalecer essa quarta força, que são os pequenos”, completou.
O discurso acalentou os provedores – que juntos seriam a quarta maior empresa de telecom do país.
“A gente observa que a Telebrás segue na mesma linha, de que o pequeno vai ser fortalecido na última milha”, afirmou Fabiano André Vergani, da InternetSul. “Não se pode acusar o Santana de incoerência”, completou Wagner.
Apesar do reforço da posição de Santanna, o aparente racha segue preocupando os empresários, afinal, é o chefe de Santanna quem parece estar mudando de lado.
Entenda o caso
“No início, havia um plano de que os pequenos provedores fariam a ponte para o usuário final, agora, isso começa a mudar”, explica Wagner.
Em sua última agem por Porto Alegre, na semana ada (leia a matéria relacionada abaixo) Bernardo declarou que haveria incentivo para as operadoras levarem “um serviço de qualidade aos usuários do país nos rincões mais distantes”.
Subsídios foram prometidos, caso as teles tenham que desembolsar a mais para cumprir com exigências do governo para o serviço de telefonia.
Os pequenos se sentiram excluídos da declaração.
A fala do ministro parece discordar da postura de Santana, que, levantando a bandeira da inclusão digital, tem insistindo na expansão da banda lraga no Braisl através da Telebrás sem citar subsídios para terceiros.
Além disso, desde que assumiu a Telebrás, Santana antagoniza as operadoras. O presidente da estatal já chamou as teles de “choronas” e “medrosas”:
“Onde a Telebrás chegar, eles (as teles) vão ter que se mexer pra concorrer”, repetiu, na capital.
Para Wagner, a contradição é intrigante: “o governo, primeiro, tem que se acertar dentro de casa. Ele tá dando declarações catatônicas, escalafobéticas, sei lá ... até me falta adjetivo para explicar isso”.
O mais inquietante, diz Wagner, é que o PNBL foi gestado dentro do ministério do Planejamento, sob a batuta de Bernardo, com Santana entre os colaboradores. E no governo Dilma, o plano ou para o MiniCom, ainda debaixo de Bernardo, e com Santana à frente da Telebrás.
“Não dá pra entender uma mudança assim”, completa Wagner.
As evidências de alterações na visão do governo iriam além de declarações.
Conforme Vergani, planos de investimentos para os pequenos, via BNDES, e capacitação via Sebrae, estão parados. Até uma pesquisa com empresas de o à internet, realizada no ano ado pelo Sebrae, com previsão de divulgação no início de 2011, parece amarrada.
“As coisas não estão acontecendo, e nós estamos estranhando a situação”, completa Vergani.
O fato de o PNBL estar em pleno vapor aumenta a preocupação. Segundo Santana, a maioria dos equipamentos já foram licitados, grande parte com fornecedores nacionais. Nas contas de Vergani, em cerca de seis meses as instalações serão feitas.
“E aí, como vai ficar?”, indaga.
Santana já agita o mercado
Apesar das contradições, os movimentos da estatal já têm dado resultados. Segundo a Vergani desde o ano ado os IPs, que custavam entre R$ 400 e R$ 600 para os pequenos, já são comprados por R$ 230.
Ou seja, Santana está agitando o mercado. O temor, no entanto, é que se o apoio de Bernardo enfraquecer, o presidente da Telebrás se enfraqueça politicamente.
“Por isso, o recado que levamos dele daqui é que nós é que temos que nos mexer”, finaliza Vergani.