
Roberto Astor Moschetta. Foto: Divulgação.
Por Roberto Astor Moschetta*
Reconhecido como o mais importante evento em Smart Cities no mundo, o Smart City Expo World Congress encerrou no último dia 16 de novembro em Barcelona, Espanha. Foram três dias de excelentes oportunidades para compartilhar experiências e conhecer o estado da arte na temática. Além de aprofundar a network, ouvir relatos exemplares de iniciados no ambiente smart, e conhecer, na área de exposições, as mais avançadas tecnologias de software e hardware para cidades inteligentes, o Congresso permitiu obter interessantes insights.
Uma primeira observação se impôs, já na abertura do evento, na primeira caminhada pela área de exposições. Cidades que expunham suas ações inteligentes, o faziam em algumas das áreas de suas competências e atribuições legais. Apesar de apresentarem-se como cidades inteligentes não destacavam todas as áreas de suas atribuições como inteligentes. É natural esperar que uma cidade que se proponha ser inteligente o faça iniciando por algum tema, e daí em diante agregar novas funcionalidades smart em sua estrutura de cidade.
Assim, entre os mais de 800 expositores, 41 cidades se apresentaram em estandes como inteligentes - Amsterdam, Barcelona, Berlim, Chicago, Copenhagen, Dubai, Florença, Madri, Milão, Montevideo, Nova York, Roma, Tel Aviv, Veneza, Yokohama... Obviamente, no senso comum, algumas destacam-se mais inteligentes que outras, mas todas as presentes investem na inteligência como estratégia de diferenciação competitiva.
Portanto em um viés de conceituação muito singela, mas amplamente aceito, cidade inteligente é aquela que deliberadamente introduz a inteligência (em geral via tecnologia) nas suas atribuições de gestão urbana. É mais um posicionamento estratégico do que inovação tecnológica.
Chamou atenção também que em quase todas as manifestações de gestores que deliberadamente implementaram ações smart em suas cidades se observa a preocupação, maior ou menor, mas sempre presente, de expandir o escopo da solução inteligente a área metropolitana da cidade. A atribuição da inteligência a urbe, transcende o limite da geografia da cidade – avança até o limite da metrópole que a engloba. Observa-se que, nas cidades presentes ao evento, smart city não é projeto exclusivo da cidade, é empreendimento da metrópole.
As ações de inteligência urbana não devem restringir-se ao limite do mapa da cidade, exige integração com as comunidades de entorno que irão integrar-se e usufruir das mesmas estratégias, definidas de comum acordo, com as demais comunidades circunvizinhas e com a cidade mãe, para avançar rumo a metrópole inteligente.
Por exemplo, Porto Alegre será inteligente na sua metrópole, iniciando eventualmente por seu bairro mais central, mas irradiando a inteligência nas comunidades interligadas, ultraando limites geográficos que não a definem, somente a circunscrevem em mapas.
Outro aspecto relevante, perceptível principalmente nas palestras do evento, foi um novo posicionamento do indivíduo cidadão na cidade inteligente. Ele agora se empodera de uma forma que pretende ser muito mais participativa na cidade. O cidadão na cidade inteligente é cogestor da inteligência coletiva que cresce e avança.
Títulos de algumas apresentações do congresso reforçaram esta nova relação - “Empowering Cities, Empowering People” (Empoderando Cidades, Empoderando Pessoas) e “Collective Efforts to Tackle Global Urban Challenges” (Esforços Coletivos para Enfrentar Desafios Urbanos Globais).
Mesmo sendo um Congresso de prevalência técnica, alentado pela pujança da área de exposições, percentual significativo dos temas das palestras focaram a relação ampliada do cidadão na gestão da cidade.
Não se trata de um empoderamento exclusivamente reivindicatório orientado a cobrar da istração municipal efetividade em suas ações. Mas sim de um empoderamento compromissado com o desenhar de caminhos para a cidade, compartilhando com o poder público a busca por soluções inteligentes.
Porto Alegre, que já há algum tempo atua participativamente na proposição de seu orçamento, possivelmente está mais próxima deste engajamento mais amplo prognosticado pelos palestrantes do evento.
Se conseguirmos ampliar o escopo da atual cultura participativa, estendendo-a além das reivindicações, incluindo o comprometimento com a inteligência na cidade, potencialmente teremos um agregado de valor relevante na caminhada por introduzir o smart na cidade.
Por fim, ficou claro que as cidades pioneiras no tema, participantes do congresso, aram por um processo de ampliação de sua visão de futuro, introduzindo a inteligência nos processos como fator de mobilização e posicionamento. Sem dúvida estratégias factíveis para a metrópole inteligente de Porto Alegre.
* Roberto Astor Moschetta é diretor de inovação da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre.