
Uma janela para a nuvem? Foto: Pexels.
A SAP lançou uma grande campanha para promover a migração dos seus clientes para a nuvem e a última versão do seu software de gestão, o S/4 Hana.
Batizada de “RISE with SAP”, o programa promete a migração dos atuais ERPs dos clientes para a nuvem, um momento a partir do qual a SAP ou parceiros selecionados assumirão e, serviços gerenciados e infraestrutura.
Os clientes podem ainda manter suas licenças on premise e os contratos de manutenção, cobrados no formato de subscrição, a forma tradicional de comprar software. O plano já tem 130 clientes piloto na largada.
A estratégia teve um investimento de tecnologia. Nesta semana, a SAP comprou a Signavio, uma startup alemã criadora de um software de controle de workflows, o que pode ser útil no contexto do Rise With SAP.
Não foi revelado o valor do negócio, mas segundo a Bloomberg a SAP pagou US$ 1,2 bilhão pela empresa, que tem clientes como a própria multinacional alemã, a Deloitte e gigante de seguros Mutual.
As ferramentas de análise da empresa serão usadas para criar processos mais estandarizados dentro do S/4.
A SAP vem enfrentando resistência dos clientes a migrar para o S/4 desde o lançamento do produto, em 2015, por uma combinação de fatores.
O novo ERP roda em um banco de dados em memória, o que é um investimento adicional, e rodar software na nuvem requer abandonar uma série de customizações que as empresas desenvolveram ao longo do tempo.
A SAP reconheceu a situação em fevereiro de 2020, ao anunciar uma prorrogação da manutenção das aplicações da família Business Suite 7, conhecidas no mercado como ECC, até o final de 2027, aumentando assim em dois anos o prazo inicialmente estabelecido para 2025.
Além dos dois anos a mais de manutenção normal, ou mainstream, no jargão interno da SAP, a empresa também se comprometeu a manter a chamada manutenção estendida até o final de 2030.
A decisão aliviou a pressão sobre os clientes para migrar para o S/4, porque o fim do e ao ECC significaria um aumento de preços para seguir rodando os sistemas.
As idas e vindas não são de hoje. Em 2016, apenas um ano depois do lançamento, a SAP criou o chamado Value Assurance, outro modelo comercial destinado a estimular a migração para o S/4.
A diferença agora é que a situação é outra e a SAP está mais pressionada do que nunca para fazer acontecer a migração para a nuvem dos clientes.
Em outubro, a poderosa DSAG, associação que reúne 3,7 mil empresas usuárias de SAP na Alemanha, Áustria e Suíça, divulgou que o impacto do coronavírus nos negócios das associadas levou 43% delas a atrasar ou deixar em stand by por tempo indefinido os projetos S/4.
Os atrasos nos projetos refletiram no faturamento e na opinião do mercado sobre a empresa. Em outubro, depois de anunciar a segunda redução na sua previsão de faturamento em 2020, as ações da SAP levaram um tombo de 23%.
No final das contas, a receita da SAP em 2020 caiu 1%, para € 27,3 bilhões. A receita de cloud subiu 17%, mas com € 8 bilhões ainda está longe de ser significativa.
Hoje, o número total de clientes S/4 Hana chega a 16 mil, uma alta de 16% em 2020, mas apenas 8,7 mil estão rodando o software (uma parte compra as licenças como um investimento).
Não são só os clientes e o mercado que questionam a SAP. Também dentro da empresa reina a confusão.
Em outubro de 2019, a empresa nomeou dois co-CEOs em substitução a Bill McDermott, que deixou a empresa depois de quase uma década. O novo arranjo não durou seis meses e acabou com a saída da co-CEO Jennifer Morgan, e a concentração do poder na mão de Christian Klein, um funcionário de carreira da SAP.
Em maio, o Hasso Plattner, atual presidente do conselho de istração da SAP, deu uma entrevista ao Handelsblatt, o maior jornal de economia da Alemanha, lavando uma dose considerável de roupa suja (o editor do Baguete, que lê jornais alemães de monóculo enquanto come Apfelstrudel, trouxe a informação com exclusividade para o Brasil).
E os clientes, o que pensam de tudo isso? A resposta não é muito animadora para a SAP. Um analista da Forrester ouvido pelo The disse que a “inércia” entre os clientes da gigante alemã é muito maior do que em outras bases de ERP.
“Os clientes estão satisfeitos com o atual modo de fazer as coisas”, resumiu para o site inglês Duncan Jones, VP da consultoria de análise de mercado, agregando que se o caso fosse apenas mover sistemas para a nuvem, já existem muitas opções no mercado.