
Se algum desavisado – ok, muito desavisado - entrasse no Sapphirenow como quem não quer nada, poderia achar que o evento estava sendo promovido por alguma companhia de mobilidade, com patrocínio de marcas de tablets e smartphones.
O encontro mundial da gigante de ERP SAP, encerrado em Orlando nesta quarta-feira, 18, martelou até não poder mais sua aposta em transformar os outrora pesados e feios sistemas de gestão empresarial em aplicativos bonitos e intuitivos ados em equipamentos móveis.
Em seu keynote, Jim Snabe, co-CEO da multinacional alemã, mencionou duas vezes a Apple como um exemplo a seguir em termos de inovação, com seus aplicativos amigáveis e o ciclo acelerado de lançamento de atualizações e novos produtos.
“O benchmark dos ERPs tem que deixar de ser outros ERPs e ar a ser coisas como o Facebook”, afirmou Jim Snabe, co-CEO da multinacional alemã durante seu keynote. “Aplicativos móveis são o novo desktop”, completou o Bill McDermott, o outro co-CEO da companhia.
No mesmo evento, a SAP anunciou o lançamento de uma loja de aplicativos e de um kit de desenvolvimento para aplicações móveis empresariais.
Isso significa que em um futuro breve os executivos da empresa trocarão a terno e gravata por jeans e golas rulês pretas, no estilo consagrado por Steve Jobs?
Não é bem assim.
O investimento em mobilidade – a SAP promete lançar 50 apps até o final do ano, 80% deles criados por parceiros – é uma estratégia para ampliar as vendas e ar de ser uma empresa com 40 milhões de usuários para 1 bilhão em 2015, quando a companhia pretende faturar 20 bilhões de euros.
“Existem os heavy s, para quem muitas telas e muita informação não é um problema”, explica Chakib Bouhdary, VP para Estratégia e Valor para o consumidor da SAP. “Agora, um executivo que quer aprovar uma viagem precisa fazer isso também no celular”, completa.
Bouhdary vai mais longe. Para ele, o futuro é integrar aos fluxos de trabalho do ERP mesmo pessoas iletradas em tecnologia, por meio de dispositivos touchscreen “a prova de erro” instalados em caminhões e no chão de fábrica, por exemplo.
A massa de aplicativos móveis – já estão na fila uma solução para vendas, RH e fornecedores, todas com um estilo definido como “peoplecentric” e interações baseadas na mecânica das redes sociais – estará integrada em tempo real com o ERP por meio do appliance de processamento em memória Hana.
“Por baixo de todas essas aplicações, como os encanamento de uma cidade, estará o ERP”, aponta Bouhdary, reforçando o discurso dos executivos da SAP sobre a garantia de continuidade para os investimentos já feitos nos sistemas de gestão. “Esse tipo de sistema não é um caso de uma noite, é um casamento”, completa o executivo.
Um aspecto interessante da virada no modelo de negócios da SAP é velocidade em que ele aconteceu. Em fevereiro de 2010, a companhia não renovou o contrato do então CEO Leo Aphoteker e restabeleceu o modelo de dois CEOs promovendo McDermott e Snabe.
Ao mesmo tempo, Bouhdary assumiu a sua atual posição, com a meta de traçar a estratégia de mobilidade.
Meses depois, em maio a SAP comprou a Sybase por US$ 5,8 bilhões, o segundo maior compra da história da empresa, no qual as ações da adquirida receberam um prêmio de 56%, sinalizando a importância do negócio.
Em meio ao turbilhão de novidades, o executivo e sua equipe desenharam a estratégia de mobilidade a ser apresentada no Sapphirenow 2010, onde foi lançada a promessa de começar entregar em um ano os aplicativos em memória e sob demanda.
“Foram dias agitados, mas nós estamos a 25 anos nesse negócio e sabíamos o que era necessário fazer”, comenta Boudary, para que as mudanças colocam “deixam a empresa pronta” para uma nova geração de líderes. “Além do mais, a pressa foi boa. Não tivemos tempo de pensar demais”, brinca o executivo, tido como um dos grandes visionários dentro da SAP.
* Maurício F. Renner cobre o Sapphirenow a convite da SAP Brasil