
You say you want a revolution... Foto: Cristiano Sant'Anna/Indicefoto
A era da informação acabou. O que se vive agora é a era da inteligência em rede.
A sentença é do canadense Don Tapscott, autor do best-seller Wikinomics e outros 14 livros sobre cultura digital, estratégias corporativas e colaborativas, que palestrou na Campus Party nesta sexta-feira, 1º.
“A Campus Party não é o que você pensa. Ela é parte de uma nova forma de organização em rede, que é crítica para assegurar que o mundo que nossas crianças irão herdar, seja um mundo melhor”, ressaltou o palestrante.
Tapscott seguiu taxando o atual modelo de governança global, com instituições que batizou de “defasadas”, como FMI e ONU, como falido, porque em qualquer reunião de alguma destas entidades, só os representantes se manifestam.
“Você não pode (falar), não tem voz. Este é o modelo que tivemos nos últimos 60 anos, que não funciona”, avaliou. “A humanidade está finalmente descobrindo que a liderança pode vir de qualquer um, desde que bem organizada”, disparou.
Para o canadense, o jeito é apelar para uma revolução. Mas calma, nada de armas: Tapscott defende que o movimento inicie pela tecnologia, baseado especialmente na colaboração via “web social”.
“Na internet, a humanidade cria uma máquina, onde todas as pessoas podem colaborar”, definiu, insistindo nos conceitos de stakeholders trazidos à tona desde 2006, em Wikinomics.
Um segundo o para a revolução é a questão demográfica, segundo ele.
“A maior parte de vocês na plateia nasceu depois de 1977. Vocês são a primeira geração a crescer usando tecnologia digital. A minha geração cresceu assistindo TV, mas a sua geração não é uma receptora iva de conteúdo”, entusiasmou-se.
A terceira revolução é a social, quando acontecem mudanças estruturais e quando se aperfeiçoa a capacidade para inovar, ressaltou o palestrante.
Visitante habitual do Brasil, o escritor exemplificou com uma análise do país.
“Vemos várias organizações colaborando para resolver problemas, para criar uma nova startup. É uma época de empreendedorismo. Isso está presente aqui, onde uma pequena empresa pode ter o mesmo desempenho de uma grande empresa, mas sem a burocracia”, ressaltou.
NOVOS MODELOS
São vários os exemplos de Tapscott para o início da revolução.
Em um deles, ele aponta movimentos em rede como o do grupo da Uganda Invisible Children, que denunciou o tirano foragido Joseph Kony através de um vídeo.
Já movimentos e organizações com objetivos variados como Wikileaks, Creative Commons, Avaaz, Sojo, Ocupy, Primavera Árabe, The Alliance e até o Anonymous são apontados de modelos positivos para uma sociedade auto-organizada com voz, democracia e transparência.
Em recente pesquisa, o autor disse ter chegado à conclusão de que ninguém sabe nada sobre como resolver os problemas da humanidade e que seria necessário criar até um novo idioma para poder trilhar os caminhos mais igualitários.
O primeiro ponto desta nova taxonomia são as redes de conhecimento que permitem que todos compartilhem inteligências.
O segundo é operacional: agir mais, discursar menos.
O terceiro refere-se ao governo, em um modelo em que grupos não-políticos também possam estar no poder.
Já o quarto ponto integrante da ideia de Tapscott é a incitação de problemas, via entidades, nas redes, em busca de engajamento dos internautas.
Dentro do sistema de Tapscott também está o termo “watchdog”, em que grupos monitoram os políticos e exigem transparência, por exemplo.
As plataformas de crowdfunding compõem o sexto elemento e o sétimo é a unificação dos padrões mundiais com base nos estados.
O oitavo refere-se ao que ele chama de governança não tangível.
“Trata-se de um novo ecossistema, que não prioriza apenas as entidades defasadas”, destacou o canadense. “As organizações em que todos podem debater também entram. É o último ponto”, finalizou.