Renato Osato. Foto: divulgação.
Em um dos mercados onde a inovação é um dos maiores motores, as operadoras de telecom vivem um momento complicado, com visões conflitantes sobre como emplacar novos modelos de negócios através de tecnologias - a chamada transformação digital.
Essa foi a tônica de uma pesquisa encomendada pela Amdocs junto ao IDC e divulgada pela multinacional de soluções de experiência do cliente nesta quinta-feira, 18, em São Paulo.
De acordo com a pesquisa realizada mundialmente, CEOs e líderes tecnológicos não estão sintonizados em relação a projetos de transformação.
Atualmente, 64% dos líderes executivos perguntados pelo IDC dizem ter um plano digital para o negócio. Enquanto isso, apenas 39% dos CIOs, em tese os responsáveis por por em prática essas ideias, afirmam ter esse plano.
"O que acontece é que as empresas já acordaram para esta necessidade e tem uma ideia de como ela deve ser, mas na hora de transformar isso em um projeto palpável é quando nascem os problemas", aponta Renato Osato, VP da Amdocs para América Latina.
Na América Latina, 53% das operadoras afirmaram não ter uma estratégia digital implantada, assim como não vêem seus negócios se transformarem de forma rápida o suficiente. 63% dos executivos sênior apontam que suas empresas levarão mais de cinco anos para migrarem a um modelo digital.
Para a Amdocs, essa mudança exige a figura do Chief Digital Officer, que tem o papel de conduzir projetos de informação junto ao setor de TI e lideranças executivas.
Atualmente, apenas 32% das operadoras na região tem esse cargo. Segundo Osato, a presença do CDO se complementa à do CIO nestes processos.
"São projetos complexos de transformação, o que exige visões focadas em diferentes processos. As empresas podem se beneficiar com esta separação", avalia o executivo da Amdocs.
Além da falta de uma estratégia clara, a pesquisa da Amdocs aponta outros dois obstáculos para a transformação digital: a baixa adoção de canais e ambientes criados em cima de sistemas de múltiplos vendedores também são agravantes.
"São fatores que podem desacelerar ou comprometer os projetos por completo", afirmou a companhia no relatório, vendendo seu peixe.
Para Edson Paiva, head de vendas da Amdocs na América Latina, o ritmo lento de modernização nas operadoras cria aberturas para outras empresas e serviços alternativos, como é o caso das OTTs, de serviços como WhatsApp, Netflix, entre outros.
"Muitas empresas ainda estão engessadas em modelos antigos, e não estão vendo possíveis oportunidade de renda que podem ter com sua infraestrutura, trabalhando em parceria com diversos destes serviços, ao invés de competir com eles", afirmou Paiva.
As operadoras de telefonia brasileira vivem uma reação de amor e ódio com os OTTs, em especial com o WhatsApp.
Claro, TIM e Oi oferecerem ou já ofereceram promoções de zero rating, nas quais o uso de dados no aplicativo (e outras redes sociais como Facebook) não consome os pacotes contratados. A Vivo, líder de mercado, se nega a fazer isso.
Em agosto, o presidente da operadora, Amos Genish, ganhou manchetes por garantir que a companhia jamais faria isso (a Claro disse a mesma coisa numa ocasião, para voltar atrás depois) e disparou palavras duras contra o WhatsApp.
"É pirataria no pior sentido, é um operador na Califórnia, usando nossos números e clientes e sem obrigações regulatórias, jurídicas e fiscais", fulminou Genish em conversa com jornalistas.
A dura verdade, porém, é que serviços como o WhatsApp (Facetime e o iMessage da Apple também) vieram para ficar, aproveitando-se de redes de comunicação cada vez mais onipresentes, bancadas pela operadoras.
Segundo Osato, empresas como a norte-americana AT&T estão experimentando modelos de casa conectadas e serviços para saúde através de sua rede, agregando funcionalidades a sua principal proposta de valor - no caso, a conexão.
De acordo com outra pesquisa da Amdocs com 25 milhões de conexões de voz e dados divulgada no ano ado, as conexões 4G devem ter sua capacidade de tráfego esgotada em três anos.
De acordo com o VP da Amdocs Latam, as operadoras precisam medir quais os mercados onde poderá ter maior valor ao fornecer seus serviços de conexão, alinhando-os com soluções atraentes para o consumidor. E elas não precisam ser feitas internamente.
"As operadoras brasileiras ainda estão muito ligadas a um modelo de controle sobre sua rede e serviços e este controle custa dinheiro. É possível expandir e buscar novas receitas sem precisar de grandes investimentos", finaliza Osato.
* Leandro Souza viajou a São Paulo a convite da Amdocs.