
Andrzej Jarzyna
Uma relação de ganha-ganha, que enriquece não só o ambiente de trabalho, mas também a bagagem cultural.
É o que se estabelece entre empresas que contratam intercambistas de outros países e os próprios estudantes, conforme comprovam experiências atualmente em curso no mercado gaúcho, uma na Office Technologies Group, outras duas na Ilegra.
Na Office, atualmente estagia o francês Anthony Henrique, 23 anos. Em fase de conclusão do curso tecnólogo em Redes de Telecomunicações pela Université de Rennes, ele veio parar na empresa porto-alegrense por indicação de uma professora que morou dois anos na capital gaúcha e conheceu a companhia.
“Já pensava no mercado brasileiro, para fazer meu estágio conclusivo, pois meus pais são portugueses e com eles aprendi o idioma, que pretendia aperfeiçoar”, conta Henrique. “Com a indicação de minha professora, vim para a Office, onde estou há cerca de 1,5 mês. Meu estágio obrigatório para o curso é de dois meses, mas ficarei mais dois, a pedido da empresa”, orgulha-se.
Aqui e lá
Para Henrique, o estágio tem sido mais do que uma oportunidade de enriquecimento do idioma ou da cultura em geral – é também um upgrade no currículo, que facilitará a conquista de um bom emprego em seu país.
“Na França, o mercado de trabalho é mais fechado do que no Brasil para quem faz cursos tecnólogo, como o meu. Aqui, é possível conseguir um bom emprego com esta formação. Lá, é necessária uma formação maior, de no mínimo quatro anos”, avalia. “Por isso, em setembro farei uma especialização em segurança de redes”, projeta.
Já a análise de um dos estagiários estrangeiros da Ilegra, o polonês Andrzej Jarzyna, 25 anos, vai na direção oposta: para ele, em seu país o mercado é mais aberto, por exemplo, a oportunidades de intercâmbio profissional.
“Sempre pensei em fazer intercâmbio na América do Sul, por isso me cadastrei na Aiesec (organização que intermedia contatos entre empresas e profissionais de diferentes países) e, por meio disso, consegui a vaga na Ilegra”, conta. “O que vejo é que no mercado brasileiro é menos comum se ver intercambistas estrangeiros do que, por exemplo, na Polônia. Lá, o mercado é menos burocrático, então esta é uma prática mais comum entre as empresas”, acrescenta.
Paixão ao primeiro estágio
A tão conhecida burocracia trabalhista do mercado local, entretanto, não desanima Jarzyna, que é formado em Ciência da Computação pela Warsaw University of Science and Technology, com especialização em Engenharia de Sistemas pela Aalborg University, da Dinamarca; e mestrado em Ciências da Computação (Engenharia de Software), pela Lublin University of Technology.
Pelo contrário: ele pretende continuar no mercado sul-americano depois que sair da Ilegra, onde entrou em março de 2010 e fica até o mesmo mês de 2011. O novo destino ainda não foi escolhido.
Bagagem
Além do crescimento profissional, muita troca cultural ocorre em intercâmbios como estes.
No caso de Henrique, o dia-a-dia na Office enriquece o português, enquanto para a empresa a contribuição vem em francês, inglês e espanhol.
Já para Jarzyna, além de praticar português, espanhol e inglês com os colegas de trabalho, há ainda uma contribuição em técnicas mnemônicas, nas quais o intercambista é certificado.
Mnem... o quê?
Trata-se de técnicas de aprimoramento dos processos de memorização, pela integração do que já se sabe com aquilo que se pretende aprender.
“Com estas técnicas, é possível memorizar melhor e muito mais rápido. As pessoas aprendem, por exemplo, a tomarem melhores notas, a melhorarem sua velocidade de leitura”, conta ele, que também fez curso específico de leitura rápida e afirma ser possível ler cerca de 1,2 mil palavras em um minuto.
E o polonês garante que as técnicas são perfeitamente aplicáveis ao cotidiano profissional.
“Em desenvolvimento de software, até não aplico tanto estes conhecimentos. Mas se focar a parte de design, que envolve mais criatividade, todo este aprimoramento da memória e da rapidez de raciocínio me auxiliam”, conta ele.
Diversidade pouca é bobagem
Além da TI e das ricas paisagens sul-americanas, outras paixões de Jarzyna são a fotografia e as artes marciais.
O estagiário polonês da Ilegra treinou Taekwon-do por quarto anos, mais dois de Muay Thai, além de fazer um “pequeno período” de Aikido e Karate.
O alpinismo também está entre os gostos do jovem, que todo ano faz escaladas nos Alpes e na região de Karpatas.
Mais: duas vezes vice-campeão polonês de Warhammer Fantasy Battles, ele é fã declarado dos jogos de mesa.
Mochilão
“Mas meu maior hobby é viajar. Sempre que posso, faço algum eio ou viagem para conhecer novas regiões do mundo, novas pessoas, desfrutar da gastronomia local, subir algumas montanhas”, declara Jarzyna, que é categórico em afirmar: “Nunca viajo com agências de viagens”.
Tudo de bom
Para as empresas, toda essa troca de experiências só traz benefícios.
É o que explica Anderson Lattuada, diretor de Recursos Humanos da Ilegra – que, além do polonês, também conta com o estagiário indiano Praveen Kumar Singh Sengar, formado em Engenharia e Ciências da Computação do Kampur Institute of Technology.
“A realização do intercâmbio está relacionada a dois aspectos importantes: incentivar os colaboradores a praticar o inglês e também promover a interculturalidade, em especial para a empresa, que estará mais aberta para entender as diferenças culturais e, assim, obter mais facilidade até mesmo na hora de atender clientes no exterior”, conta o executivo.
Marcus Sperb, diretor da Office, também comemora.
“Há muitos ganhos em troca profissional e cultural. É uma experiência enriquecedora”, destaca o gestor da empresa gaúcha que pretende crescer em torno de 40% este ano.