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Laércio Cosentino.
O processo de transição de comando da Totvs está “fora da agenda” pelos próximos dois ou três anos.
É o que afirma o presidente e fundador da companhia, Laércio Cosentino, que conversou com exclusividade com a reportagem do Baguete na sede da companhia em São Paulo nesta segunda-feira, 27.
“Às vezes você tem a oportunidade, mas não tem a pessoa. Às vezes você acha que tem a pessoa e não tem”, comenta Cosentino.
O CEO da Totvs está fazendo uma menção indireta ao processo de transição iniciado em julho do ano ado, quando Rodrigo Kede, ex-IBM, ou a dividir o comando da empresa com o Cosentino.
O arranjo deveria durar até três anos, quando Kede assumiria o comando em definitivo, mas foi encerrado em janeiro deste ano.
A Totvs divulgou uma nota dizendo que Kede saía por motivos de saúde, mas no dia seguinte o executivo assumiu o posto de gerente geral da IBM na América Latina.
Discreto, Cosentino se limita a dizer que a transição “não deu certo” e enfatiza que foi um processo planejado por parte da Totvs, incluindo um período de um ano e meio antes do anúncio no qual Kede esteve no conselho de istração da empresa.
O problema da transição se somou nos últimos meses à diminuição no faturamento e a saída de altos executivos, a primeira uma situação inédita e outra bastante atípica na Totvs na qual a rotatividade é tradicionalmente menor do que a média do mercado de software.
“Temos o controle da situação. As mudanças que estão sendo feitas na companhia não são algo que se faça da noite para o dia. A empresa nunca saiu dos trilhos”, comenta Cosentino.
As alterações mencionadas por Cosentino incluem a introdução de um modelo por para compra de software, que tem um impacto na receita no curto prazo, além da abertura de uma “nova fase”, inaugurada com compra da Bematech.
A primeira situação é conhecida de quem acompanha os resultados da Totvs. A medida que o faturamento oriundo de s sobe, o faturamento que antes vinha up front com a licença é diluído ao longo de anos.
Inciado pela Totvs em 2013, o novo modelo foi acelerado pela crise econômica dos últimos dois anos, que teve também como efeito colateral a queda na venda de licenças para os grandes clientes do modelo tradicional.
Assim, a Totvs fechou o primeiro trimestre com uma inédita queda de 1% na receita líquida, depois de fechar um 2015 fraco em 3%. A receita de s foi pela primeira vez superior à de novas licenças, que caiu 30%.
“Essa é uma situação que toda a software house que quiser se manter no mercado vai enfrentar”, aponta Cosentino, destacando que a virada de licenças para s era esperada só para 2017.
Já a “nova fase”, uma das seis na qual a divide a sua história desde a fundação da Microsiga, em 1983, é o motivo por trás da saída recente de executivos como Marília Rocca, VP de Serviços e Cloud Computing e Gilsinei Hansen, VP de Sistemas e Segmentos, além de Gilmar Hansen, diretor de Produto do Fluig, todos executivos com uma década de Totvs.
De acordo com Cosentino, o fato principal dessa nova fase é que os ERPs “terão mais coisas do que pessoas conectadas neles” o que exige deixar de pensar a razão de ser da Totvs em torno de “produtos” para pensar em “plataformas”.
“É uma mudança de mentalidade bastante grande que temos em curso no momento”, comenta Cosentino, que destaca as saídas como algo “parte da evolução natural da companhia”, incluindo fundadores como Ernesto Haberkorn, Miguel Abuhab e, um dia, ele próprio.
O novo posicionamento inclui a divisão da Totvs em seis “torres” sob as quais se distribuem 11 verticais de negócios. Essa nova divisão mostra uma série de executivos em alta dentro da gigante brasileira de ERP, com tanta experiência como os que saíram.
Alguns deles são Eros Jantsch, executivo vindo da Bematech com a torre de Micro e Pequenos Negócios, que distribui o pacote de hardware da companhia paranaense com o software para micro empresas Fly 01; Ronan Maia, vindo da PC Sistemas, agora à frente da torre Consumer (onde estão as verticais distribuição e varejo) e, sem muito alarde, o filho de Consentino, Marcelo Cosentino, com a torre Services (serviços, educacional, jurídico, construção e projetos e Hospitality).
Os problemas na transição com Kede, as eventuais dificuldades da integração da Bematech (um negócio de R$ 550 milhões fechado a menos de um ano, vale lembrar), os impactos transição de modelo de negócios e mesmo a crise sem precedentes na economia do país não tiraram a calma de Laércio Cosentino, que inclusive encontra espaço para uma dose de otimismo.
“Acredito que com definição da situação do comando do país, seja qual for ela, a situação deve começar a andar”, afirma Cosentino.
O executivo destaca que nos últimos 90 dias a empresa já notou um aumento do interesse de clientes, que deve resultar em breve em um desaguamento de investimentos represados.
“A Totvs está muito bem preparada para aproveitar a oportunidade quando a economia deslanchar”, conclui Cosentino.
* Maurício Renner viajou a São Paulo a convite da Totvs.