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Cabrito é uma jovem promessa? Foto: reprodução
Uma brincadeira no Twitter foi aceita como informação por parte da imprensa esportiva gaúcha e tornou-se uma grande piada na rede social nesta terça-feira, 05.
Dois usuários criaram a história ao inventarem que um jogador chamado Enrico Cabrito seria contratado pelo Grêmio.
O estudante de Jornalismo Fabiano Estrela conta que iniciou a brincadeira no domingo de Gre-Nal, quando estava “zuando um clássico que não valia nada”. A brincadeira continuou quando o outro usuário, Enrico Lazzaronni, revelou que é chamado de “cabrito” pela namorada.
Na noite dessa segunda-feira, 04, a falsa informação começou a repercutir quando jornalista Farid Germano Filho, que tem agens pelo Grupo RBS, TV Record e atualmente está na Rede Pampa, escreveu em sua conta do microblog, sem mencionar fontes: “Enrico Cabrito, lateral-direito argentino, está sendo contratado pelo Grêmio”.
O tuitero conta, por e-mail, que também utilizou o perfil falso Bátima para criar a brincadeira. “Farid é meu seguidor, pois trabalhei com ele na Guaíba e na Rádio Gre-Nal, leu e a postagem fora de contexto e anunciou a contratação”, revela o ex-estagiário.
Em seguida, com as respostas de que o jogador não existe, o jornalista justificou que sua conta foi hackeada, procedimento já adotado por outros colegas arrependidos de posts pouco felizes. Mas não apagou o tweet que ainda repercute.
A história ganhou grandes proporções doze horas depois no Jornal do Almoço, tradicional noticiário há 40 anos no ar na RBS TV, afiliada da Rede Globo no Sul do país. O narrador e apresentador Paulo Brito declarou a possível contratação mesmo com a informação já desmascarada horas antes.
A partir daí, a mentira tomou conta das postagens nas redes sociais como uma piada e também em forma de crítica ao jornalismo esportivo gaúcho, que, na visão dos críticos, divulga rumores de contratações com pouco ou, como ficou provado pelo affair Cabrito, nenhum embasamento.
“Virou essa bola de neve e involuntariamente derrubamos um mito. Abandonei o âmbito esportivo justamente por essas coisas que vimos. Isso serve como reflexão para o Jornalismo. Farid utilizou meu perfil pessoal como uma fonte, pegando um post meu fora do contexto e cômico. A repercussão imensa evidencia que alguns jornalistas não têm preparo”, acredita Estrela.
Em 2000, uma grupo de torcedores gremistas inventou que o Grêmio contrataria um tal de John McDolph, factóide que foi repercutido pelo colunista Hiltor Mombach. Em 2011, se noticiou em veículos como Rádio Gaúcha a vinda do jogador inexistente do Chelsea Bruno Camargo.
REPERCUSSÃO
Antes mesmo do anúncio de Paulo Brito, um torcedor havia postado uma foto de uma camiseta com o nome do lateral fictício. No fim da tarde, já circulava a imagem de uma faixa com os dizeres "Cabrito Eterno" em homenagem ao "jogador".
Além de diversas montagens, também circulam nas redes sociais imagens com a notícia da contratação estampada nos principais portais, como Terra e ClicRBS, mas não é possível confirmar se as matérias realmente foram ao ar, já que é possível e comum entre alguns veículos deletar notícias que contém erros.
O que irrita muitos críticos da enganação é que não houve verificação nem no próprio Twitter, nem no Google, procedimento padrão para quem vai especular algum jogador.
O comentarista de arbitragem e coordenador de esportes da BandTV-RS, Chico Garcia, fulminou em sua conta: “Como que não checam informação, cara? Não me conformo com isso. Como alguém ouve um nome e publica, sem nem "dar um google"? Isso é inaceitável com a internet hoje”.
Já o coordenador de esportes da rádio Band AM 640, Carlos Guimarães, pede que levem à sério o acontecimento. “Ao invés de rir, colegas, reflitam: o caso Cabrito também foi um golpe de credibilidade pra classe. E sim, feito por dois colegas”, escreveu.
Por outro lado, Alexandre Alliatti, repórter do Globoesporte.com, ponderou sobre a situação de críticas ao Jornalismo. “Amigos, apenas tomem cuidado com generalizações. Não vi ninguém da nova geração, a turma da internet, parir cabritos. Tem gente muito boa”.
O setorista do Internacional para o Correio do Povo, Fabrício Falkowski, tentou amenizar a questão com uma comparação. "Fui ver se "Adriano dos Santos" existe no google. Apareceu um monte de gente que ou no vestibular. E agora?".
Alguns colegas de Paulo Brito, da RBS, riram da “barrigada”, termo para erro jornalístico. Luciano Périco, repórter da rádio Gaúcha, retuitou Franklin Berwig da mesma emissora: “@lucianoperico Hahahahahahaha... Boa! “@FranklinBerwig: Recebi ótimas referências do Enrico CABRITO dadas pelo técnico Mauro OVELHA.”
Rafael Serra, também repórter da rádio, disse que não sente vergonha do que aconteceu e não "tomou as dores" dos colegas. “Quem deu a notícia é que deve sentir. Me impressiona é que em nada me surpreende o fato ocorrido de onde veio”, refletiu.
Mais tarde, Serra entrou em um debate com Farid que posteriormente deletou tweets da conversa.
Já o repórter da Gaúcha deu conselhos e não falou mais sobre o assunto. "Tenho orgulho do meu nome jamais ter sido citado em falcatruas e afins", postou.
André Machado, também da RBS, ironizou: "@faridgermano o delegado @EmersonWendt trabalha com crimes cibernéticos. Pode te ajudar a achar o hacker".
Até o fechamento desta matéria, os termos #CabritoDay e #PauloBrito, constavam em segundo e quarto lugar, respectivamente, no trending topics (assuntos mais comentados) de Porto Alegre.
O apresentador Brito se manifestou em sua conta ao final do dia, às18h, com bom humor e já solicitando audiência. "Amanhã (quarta-feira, 06) vou falar no Jornal do Almoço sobre o assunto ‘Cabrito’. Afinal falei hoje brincando que sobraria pra mim, foi ou não foi?”.