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Knut Barthel, responsável pela localização do portfólio para o mercado brasileiro. Foto: divulgação.
Centenas de funcionários do SAP Labs Latin America, centro de desenvolvimento e e localizado em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, estão trabalhando em boa parte das adaptações necessárias nas soluções da multinacional alemã para a reforma tributária que acontece a partir de 2026.
“Ainda falta mais de um ano, mas um ano a rápido. Principalmente para uma mudança desse tamanho”, destaca Knut Barthel, head de product management da SAP e responsável pela localização do portfólio para o mercado brasileiro.
O executivo explica que a SAP não tem um time dedicado à reforma tributária, mas sim uma equipe focada na localização. Em um total de 2,2 mil funcionários que compõem o centro de desenvolvimento gaúcho, cerca de 330 estão neste time.
Essa equipe de desenvolvimento é estruturada por funcionalidades como logística, vendas, compras, finanças, contabilidade. Além disso, existem soluções específicas, como a nota fiscal eletrônica, que são componentes à parte, não ficam dentro do S/4 ou do ECC, os ERPs da SAP adotados na maioria das empresas.
“Dentro desses times, tem pessoas que trabalham mais em inovação, outras mais em manutenção, então é impossível calcular quanto por cento trabalha na reforma tributária”, detalha Barthel.
Com isso, as contratações são feitas conforme a necessidade, sem um montante específico para a reforma.
“Obviamente estamos monitorando a situação, se precisa aportar mais recursos ou não. Então, isso se define dinamicamente. A princípio, temos um time que está cuidando do dia-a-dia e tomamos as medidas quando necessário”, explica Barthel.
Neste momento, a equipe está trabalhando em atualizações do eSocial e, frequentemente, faz atualizações da nota fiscal eletrônica, por exemplo, além de precisar monitorar a legislação todos os dias para atualizar o sistema.
“A legislação tributária muda todo dia, literalmente. Mas nem tudo que é uma nova lei exige uma atualização de software. Se muda a alíquota, por exemplo, os clientes conseguem configurar, a SAP não precisa fazer tudo isso. Nós temos que filtrar o que realmente impacta o produto, onde precisa mexer no código-fonte”, explica Barthel.
Nesses casos mais simples, a maior atuação é dos parceiros especializados em tecnologia de tributos ou consultorias tributárias como as Big Four (jargão usado para as quatro maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo, EY, PwC, Deloitte e KPMG).
“Agora, a reforma tributária é uma mudança sistêmica, vai introduzir três novos impostos. E isso, graças a Deus, não acontece todo dia. Temos talvez uns 20 casos por ano. Às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos. Com isso, soltamos um monte de atualizações no sistema, chamadas de packages ou hotfix, para basicamente todos os produtos que a gente tem em manutenção”, explica Barthel.
Ao todo, cerca de 20 versões de produtos da SAP precisarão ser atualizadas para a reforma.
“Se você tem só um sistema, é fácil. O desafio é exatamente ter que fazer em 20. Algumas soluções têm uma arquitetura diferente, então você não pode fazer um copiar e colar. A solução no S/4 Hana pode ser diferente do ECC e a gente precisa ar tudo isso”, explica Knut.
Este é, inclusive, um dos argumentos que a empresa está usando para convencer os clientes a migrarem para o S/4, a última versão do seu software de gestão.
A meta da SAP é migrar todos eles até 2027, quando a companhia deixará de oferecer a manutenção padrão para o produto.
“Se você está no ECC, implementa a reforma tributária, depois migra para o S/4, talvez seja preciso fazer uma outra migração ou adequação porque a solução pode ser tecnicamente diferente. Mas a gente não vai deixar os clientes que ainda estão no ECC na mão. Todas as versões que têm um contrato de manutenção vigente vão receber as atualizações”, reitera Barthel.
Como a reforma tem uma fase transitória que vai de 2026 a 2033, várias entregas terão que ser feitas de acordo com a necessidade.
“A gente tem a reforma aprovada do jeito que está, mas os detalhes, as normas técnicas podem mudar e isso é uma experiência que a SAP já tem com a nota fiscal eletrônica. Quantas mudanças de layout já aconteceram, estão acontecendo nesse momento, então isso é uma constante”, explica Barthel.
De acordo com Roberto De Lazzari, diretor-gerente da All Tax Platform, consultoria brasileira investida ainda em 2013 pela SAP com clientes como Petrobras, BRF e Três Corações, a reforma já está definida do ponto de vista de software, mas as empresas precisam esperar as definições do governo.
“É uma situação que tem gerado um estresse muito grande. Eu preciso ter regras, um escopo bem definido. Isso depende do governo e o governo não publica. Com sorte, a gente vai ter talvez 90% disso publicado esse ano, mas isso gera uma insegurança muito grande para os clientes”, destaca De Lazzari.
Segundo o head da SAP, a intenção é sempre fazer as entregas com tempo hábil para que as empresas possam implementar, testar e ajustar os processos.
“Você não vai implementar em 1º de janeiro e já era. Do nosso lado, já estamos trabalhando para poder entregar as atualizações e já temos N releases com janelas de quando vai sair o hotfix. Mas é impossível dar uma data fixa, dizer que dia X vai ter isso”, salienta Barthel.
O conselho do executivo da SAP é que as companhias foquem nas muitas coisas que podem fazer antes das entregas da multinacional, como tomar algumas decisões estratégicas, rever os processos e modelos de negócio.
“Tem empresas que vão deixar de ter benefícios fiscais, outras vão se beneficiar de algumas características, então tudo isso não é uma questão de sistema, mas sim de construção tributária, de logística, de cadeias de suprimentos”, destaca Barthel.
O SAP Labs está localizado junto ao campus da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) desde 2006, mesmo ano em que entrou em vigor a primeira versão da Nota fiscal eletrônica (NF-e), o que provavelmente não foi uma coincidência.
“A gente tem várias linhas de negócio que estão atuando lá, mas a localização foi um dos primeiros times porque o Brasil é um país que tem muita complexidade fiscal que exige uma localização”, explica Barthel.
Nos primeiros anos, a atuação do laboratório foi voltada para o Brasil e, em 2013, o centro ou a fornecer soluções para toda a América Latina.
Durante esses 18 anos, a alemã investiu R$ 40 milhões na construção de instalações próprias no Parque Tecnológico São Leopoldo (Tecnosinos). Em 2009, foram outros R$ 60 milhões para uma expansão e, em 2018, mais R$ 120 milhões para um novo aumento da estrutura.
Voltado ao desenvolvimento de aplicações e serviços de e, o SAP Labs Latin America é o primeiro e único centro da companhia na região, um dos 20 em todo o mundo e um dos quatro centros de pesquisa e desenvolvimento do Brasil.
Além de estar entre os seis maiores do mundo em quantidade de pessoas, o local ganhou em 2022 o status de hub global de inovação, pesquisa e desenvolvimento junto ao seleto grupo de labs que inclui instalações nos Estados Unidos, China, Índia e Canadá.
Esses laboratórios são responsáveis por desenvolver soluções de alto padrão que vão desde a gestão de programas de sustentabilidade até tecnologias de gestão em nuvem de alta capacidade.