
Tania Boler criou um app para exercícios pélvicos.
O chamado femtech, campo que reúne aplicações e gadgets pensados especialmente para atender as necessidades das mulheres, é uma área em alta no setor de tecnologia.
Pelo menos, foi o que deu para perceber no último TechCrunch Disrupt, evento realizado em Berlim nesta semana na qual femtech foi um dos tópicos principais.
A vencedora da competição de pitches startups, uma das principais atrações, foi uma empresa chamada Lia, que levou 42 mil euros para o seu projeto de um teste de gravidez biodegradável feito de papel.
“Os testes de gravidez são basicamente a mesma coisa desde a sua introdução no mercado em 1987. É uma loucura, se você pensar”, afirma Bethany Edwards, uma das fundadoras da startup sediada na Filadélfia.
Com o novo produto a empresa promete retirar alguns de circulação alguns milhares de quilos de plástico usados nos produtos de teste de gravidez usados.
Mas esse não é o principal atrativo para o consumidor final do Lia, que enfatiza a privacidade gerada pelo fato de poder jogar o produto na privada e dar a descarga depois de utilizado.
Eliminar os vestígios do exame é uma preocupação para muitas das compradoras de testes de gravidez, aponta Bethany. O custo do plástico corresponde por metade do preço final de um teste, cujo preço nos Estados Unidos gira entre US$ 8 e US$ 22.
Esse conhecimento do ponto de vista de usuário dos produtos e por tanto das possibilidades de inovação é uma característica comum de fundadoras de outras startups focadas no nicho de saúde das mulheres que estiveram no TechCrunch Disrupt.
Algumas tem aplicações bem mais sofisticadas do que o Lia, como a Elvie, criadora de um aparelho para exercícios pélvicos que é inserido na vagina e funciona conectado a um app no celular da usuária.
Os exercícios para musculatura pélvica são populares como fisioterapia para mulheres que acabaram de dar a luz de maneira natural ou que estejam interessadas em reforçar a musculatura da vagina para melhorar a vida sexual.
“Depois de que eu tive um filho fui ver o tipo de produtos disponíveis na área e notei que não havia nada”, afirma Tania Boler, uma da co-fundadoras da empresa. “Nós levamos algo que estava no campo dos aparelhos médicos para ser um produto de life style”, agrega.
Hoje a startup já levantou 10 milhões de euros em capital com investidores e ou a casa do milhão em vendas, mas o começo foi complicado.
A estimativa é que apenas 8% das posições nos fundos de investimento são ocupados por mulheres, o que torna um wearable íntimo focado em saúde feminina um conceito mais complicado de ser vendido.
“Nós tivemos que trabalhar duro para provar que havia um mercado potencial”, comenta Boler. “Mas o fato é que nossas usuárias estão comprando um resultado e 80% reportam mudanças nos primeiros 4 meses”, complementa.
Talvez o campo mais desenvolvido no universo femtech seja o de apps para fazer tracking do ciclo menstrual. Meia dúzia de apps estão focados nesse mercado, um deles nativo em iPhones.
Uma das maiores companhias no segmento é a Clue, uma startup baseada em Berlim que já levantou mais de US$ 30 milhões de fundos de investimento nos Estados Unidos e já tem hoje 5 milhões de usuárias.
Com as informações introduzidas no app, as mulheres podem ter uma previsão do seu ciclo menstrual, períodos férteis ou de tensão pré-menstrual. O plano a longo prazo é expandir para ser uma “plataforma de saúde feminina”, explica Ida Tin, uma das fundadoras.
“Acho que no futuro as pessoas vão ver que coletar informações sobre a própria saúde é um excelente negócio, como ter uma apólice de seguro”, afirma Ida, citando como exemplo o caso do câncer de ovário, que é tratável com sucesso quando detectado cedo, o que dificilmente acontece.
Com um campo de tecnologia dominado por homens, não surpreende que mercados potenciais como os mirados por Lia, Elvie e Clue tenham ado tanto tempo desapercebidos.
Mas talvez a dominação masculina não seja o único fator. Tania Boler, da Elvie, fez um comentário interessante sobre como a tendência contrária, no sentido de afirmar a igualdade absoluta entre homens e mulheres pode ser contraproducente à sua própria maneira.
“Em um mundo tão politicamente correto parece que não se reconhece que homens e mulheres são diferentes e tem necessidades diferentes”, comenta Tania.
* Maurício Renner faz a cobertura do TechCruch Disrupt em Berlim em um projeto de conteúdo do Baguete com patrocínio da Wow.
A Wow Aceleradora conta com mais de 150 investidores e 45 startups investidas desde seu início, em 2013. Foi pioneira em criar um modelo para organizar pessoas físicas em grupos investimento, que fornecem capital financeiro e intelectual para as startups. Hoje é a maior aceleradora do país neste modelo. Para o investidor é uma forma segura e prática de entrar neste ecossistema; para o empreendedor, a garantia de receber, além do investimento, conhecimento e conexões.