
Processo nos EUA está revelando segredos dos chineses. Foto: Pixabay.
Os problemas da Huawei assumiram uma nova dimensão nesta segunda-feira, 28, com a revelação por parte de procuradores americanos de que a multinacional chinesa teria roubado propriedade intelectual da T-Mobile em 2012.
A revelação faz parte das acusações contra a CFO da Huawei, Meng Wanzhou, que está presa no Canadá a pedido da Justiça americana desde dezembro, podendo ser deportada e enfrentar julgamento nos Estados Unidos.
Inicialmente, as acusações contra Wanzhou afirmavam que a executiva teria organizado um esquema para fazer exportações de equipamento para o Irã a partir dos Estados Unidos, o que é proibido pela lei americana, uma vez que os iranianos estão sob embargo comercial.
É uma acusação grave, mas no final das contas diz respeito a um quadro geopolítico que é indiferente para a maioria dos clientes e potenciais clientes da Huawei no resto do mundo. O assunto da T-Mobile é bem diferente.
De acordo com a acusação, a Huawei usou bônus em dinheiro para encorajar os seus empregados a roubarem informação relativa a um robô de testes de smartphone da T-Mobile chamado de Tappy.
Os profissionais da Huawei teriam violado acordos de confidencialidade e não abertura de informações (os famosos NDAs) ao tirar fotos e fazer medidas às escondidas do robô, chegando a roubar um pedaço dele para ser replicado na China.
As informações teriam sido enviadas para a Huawei por meio de uma conta de email encriptada, afirma a acusação, que diz ainda que a T-Mobile tomou conhecimento do caso e procurou os chineses.
A Huawei teria respondido dizendo que os funcionários eram “rogue actors”, o que poderia ser traduzido para o português como os famosos “aloprados”, agindo por conta própria sem aprovação do comando. O assunto teria sido resolvido pelas partes em 2017.
A T-Mobile não é qualquer operadora: a marca pertence à alemã Deutsche Telekom AG e opera em uma dezena de países.
Nos Estados Unidos, em particular, ela é a terceira maior operadora móvel, com quase 80 milhões de clientes.
O tipo de revelações que o processo ainda pode trazer tem a possibilidade de colocar uma pilha atrás da orelha de outras operadoras de telecomunicações.
Os problemas acontecem em meio a escalada de uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, na qual os dois lados estão buscando aliados.
Em uma das frentes da disputa, os Estados Unidos querem que o Canadá deixe a Huawei de fora dos possíveis provedores de infraestrutura para a próxima geração de redes de 5G.
Austrália e Nova Zelândia já tomaram essa decisão, alegando riscos de segurança nos equipamentos da Huawei, que poderiam ser usados pelo governo chinês para fins de espionagem. Recentemente, executivos da empresa foram acusados de espionagem na Polônia.
A crise ainda não chegou ao Brasil. A decisão recente da Huawei de romper o acordo com a Positivo para trazer celulares para o país não parece relacionada, mas com a dificuldade da empresa de ter uma estratégia comercial consistente para o mercado brasileiro, que já vem de anos.
Apesar dos problemas no mercado de celulares, ao longo dos últimos anos os chineses tem feito um esforço para incrementar sua presença no Brasil por meio de dezenas de acordos de pesquisa com diferentes universidades.
Mas o novo governo de Jair Bolsonaro tem se alinhado quase que automaticamente à política exterior americana em questões de grande impacto como a localização da embaixada brasileira em Israel.
Parece difícil de imaginar que a Huawei vá ser o ponto onde essa orientação vá mudar de curso.
Como todas as grandes empresas chinesas, a Huawei tem relações próximas e nem sempre totalmente transparentes com o governo do país.
O fundador da Huawei, hoje o maior empregador privado da China, era engenheiro do exército.
Wanzhou, que também gosta de ser chamada de Sabrina, foi apontada CFO da Huawei em 2011, tem 46 anos, é um dos quatro executivos no topo da empresa.
Para muitos, a executiva está sendo preparada para assumir o cargo de CEO da empresa, a segunda maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo.