
Dilma: "Eu juro manter a autonomia do BC". Na verdade, a foto é da reunião do Conselhão, certo? Foto: Wilson Dias/ABr
A grande questão do futuro econômico do Brasil no médio prazo é simples: resistirá a presidente Dilma Rousseff à tentação de não deter um eventual sobreaquecimento da economia, levando o país a perder o controle da taxa da inflação?
A opinião é do economista Eduardo Gianetti, que conversou com jornalistas em São Paulo nesta quinta-feira, 20, durante um evento promovido pela seguradora Allianz.
Na opinião de Gianetti, o Brasil deve superar os índices pífios de crescimento dos dois primeiros trimestres – 0,2% e 0,4% - até o final de 2012, quando a economia deve se expandir 3,5% no último trimestre, como resposta às últimas medidas de desoneração da produção e aumento da produtividade.
Com uma previsão de crescimento entre 3,5% e 4% para 2013 que o professor do Ibmec São Paulo considera ser a “velocidade de cruzeiro” para a economia brasileira, a questão ará a ser se Dilma manterá a autonomia do Banco Central para tomar medidas para desaquecer o mercado.
“A autonomia do Banco Central ainda não foi testada durante o governo Dilma. Não está claro qual vai ser a resposta”, explicou Gianetti. “Não é fácil tirar o barril de chope da sala quando a festa fica boa, mas é o trabalho do BC. Na Argentina, não tiraram, trouxeram um barril de cachaça e deu no que deu”, brincou.
O articulista e autor de diversos livros, nas últimas eleições presidenciais Gianetti declarou apoio público à candidatura de Marina Silva pelo Partido Verde e não poupou críticas a aspectos da política econômica petista, principalmente a interferência no mercado privado através do BNDES e dos bancos públicos.
“Desde 2008, o total de crédito direcionado no mercado saltou de 28% para 38% do total disponível, mesmo em um momento de forte expansão da base”, avaliou Gianetti, fazendo menção ao total de empréstimos abaixo das taxas nominais do juros e controlado pelo governo para políticas habitacionais, agrícolas e o BNDES.
Para o professor, o papel que o banco estatal de fomento vem exercendo fornecendo crédito abaixo do valor de mercado para a consolidação de grandes grupos empresariais de capital brasileiro é especialmente preocupante.
“O governo deixou de financiar o BNDES com verbas do FAT para usar títulos da dívida pública. A diferença entre o juro da dívida e a TJLP é financiada pelo contribuinte e equivale ao total gasto na bolsa família, todo ano”, comentou Gianetti, que considera a política “uma brincadeira perigosa”.
Sempre num tom leve que contrabalança a dureza das críticas, Gianetti fez menção à “incapacidade crônica de gestão” da istração federal, exemplificada nos descumprimento sistemático das metas de investimento previstas nas obras do PAC, o “Programa de Abuso da Credulidade”.
Para o ex-professor da Universidade de Cambridge, o reconhecimento da dificuldade em executar obras e a pressão do prazo de entrega estabelecido pela Copa está levando Dilma “a aceitar a contragosto a privatização” do investimento em infraestrutura.
Citando o caso da recente turnê de representantes do governo na tentativa de convencer es dos aeroportos de Paris e Frankfurt em serem sócios minoritários da Infraero em aeroportos brasileiros, que não encontrou interessados e foi substituído pelo modelo “golden share” já usado na Vale, Gianetti concluiu: “A realidade acaba de impondo sobre os obstáculos ideológicos”.
* Maurício Renner participou do Fórum Internacional de Seguros para Jornalistas em São Paulo à convite da Allianz.