
Paulo Cunha, gerente da AWS para o setor público no Brasil.
A Amazon Web Services (AWS) está confiante sobre a continuidade da política de adoção de nuvem no governo federal brasileiro, que, na visão de executivos da empresa, já é uma “política de estado”, ancorada na legislação sobre compras públicas de TI e em necessidades técnicas.
A reportagem do Baguete repercutiu com executivos da empresa as declarações de César Alvarez, um dos integrantes da transição do governo Lula, para quem a adoção de nuvem no governo da maneira atual era uma “irresponsabilidade”, a ser corrigida com um movimento de “voltar para uma política de data centers”.
Paulo Cunha, gerente geral da companhia para o setor público no Brasil, não quis comentar diretamente as declarações de Alvarez, afirmando que ainda se trata de uma especulação e que a empresa não comenta especulações, uma resposta clássica de executivos treinados para falar de assuntos espinhosos.
O que Cunha sim pode fazer é explicar em detalhes o marco regulatório em torno do tema, que começou a se consolidar no país em 2018, com a conceituação da chamada “política estratégica de governo digital”.
No ano seguinte, o Ministério da Economia lançou a Instrução Normativa nº 1/2019, que estabelece diretrizes para a contratação de serviços em cloud pelos órgãos públicos.
“É um guidance para o poder executivo que diz: em todo novo projeto, você tem que prioritariamente buscar por um provedor de nuvem. Porque não queriam mais investir no que eles chamavam de sala cofre. Em função disso, houve uma mudança de visão de como criar sistemas e escalar”, resumiu Cunha, que está em Las Vegas participando do AWS re:Invent 2022.
Segundo o gerente, essa política pública foi estendida, com uma nova versão que vai pelo menos até 2023, onde são estabelecidos novos parâmetros para que isso possa acontecer.
O gerente também ressaltou que a gigante da nuvem está em conformidade com a instrução normativa nº 5 do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), de 2021, que dispõe sobre os requisitos mínimos de segurança da informação para utilização de soluções de computação em nuvem.
Mais além de instruções normativas A, B ou C (um marco sujeito a mudanças do novo governo, no final das contas) Cunha frisa o aspecto técnico da capacidade de processamento de dados, como no caso das últimas eleições, no qual a AWS proveu tecnologia para o TSE.
“O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, que diz ‘eu não tenho data center suficiente para ar o que está acontecendo’ e você fazer uma relação de custo-benefício. Os dados estão no Brasil, são geridos pelo cliente e ele vê o que acha melhor”, exemplificou Cunha.
(O exemplo de Cunha é especialmente pertinente, porque na eleição municipal de 2020 uma pane em um equipamento da Oracle em um data center do TSE causou atraso nos resultados, enquanto a atual teve um desenrolar sem problemas, pelo menos no que tange a apontar rapidamente o vencedor).
Alex Coqueiro, diretor de tecnologia da AWS para América Latina, Canadá e Caribe, destaca a atuação da gigante no quesito “soberania de dados”, como é conhecido no jargão o atendimento à demanda dos governos de que todos os seus dados fiquem no território nacional, sob jurisdição das leis do país, além dos aspectos de segurança da cibernética.
“Na última segunda-feira, nós fizemos o anúncio de um compromisso global de soberania dos dados, de respeitar cada um dos países para que eles tenham a decisão de onde os dados devem ficar”, salientou Coqueiro. “Nós respiramos segurança. E, quando você compara cloud com um data center istrado por uma instituição, as aplicações são 30% mais baratas, em média. Em algumas situações, chega a 90%”, destacou Cunha.
A defesa bem azeitada dos executivos da AWS não é à toa. Assim como já acontece no setor privado, a AWS parece estar assumindo a liderança nos grandes contratos de nuvem do governo federal.
O primeiro grande edital do tipo, vencido no final de 2018 pela Embratel oferecendo nuvem da AWS, levou à migração em um total de 26 órgãos públicos, somando R$ 55 milhões.
Em abril de 2021, já no governo Bolsonaro, foi feita uma nova compra, no valor de R$ 65,94 milhões, em um pacote com nuvens da AWS, Huawei e Google.
A AWS foi também a primeira empresa a fechar um acordo com o Serpro, a maior estatal de tecnologia do governo federal, que está atuando como intermediária na venda de nuvem para órgãos de governo, com um contrato de R$ 71,2 milhões por cinco anos fechado em 2019.
De novo, a concorrência veio atrás, com contratos pelo mesmo prazo, mas valores menores: Huawei (R$ 23 milhões), Microsoft (R$ 22,6 milhões), Oracle (R$ 41,5 milhões) e IBM (R$ 40,3 milhões).
O AWS re:Invent é o maior evento do ano da companhia de computação em nuvem da Amazon. Nesta décima primeira edição, a estimativa é de um público de 50 mil pessoas, entre clientes, parceiros, desenvolvedores e experts.
Só vindos do Brasil, cerca de 500 clientes e 100 parceiros estão participando. No total, a conferência conta com mais de 1 mil atividades entre sessões, hackathons, bootcamps e workshops, entre outros.
No mercado há 16 anos, a AWS tem mais de 200 serviços a partir de 96 zonas de disponibilidade em 30 regiões geográficas, com planos anunciados para mais 15 zonas de disponibilidade e mais cinco regiões na Austrália, Canadá, Israel, Nova Zelândia e Tailândia.
A companhia tem milhões de clientes, desde startups a grandes empresas e agências governamentais.
No Brasil, a lista conta com nomes como Agi, Banco Inter, Itaú Unibanco, Grupo Boticário, BTG Pactual, C&A, C6 Bank e Cielo, entre muitos outros. A empresa está no país há 11 anos.
* Luana Rosales está acompanhando o AWS re:Invent, em Las Vegas, a convite da AWS.