
Greve na Qintess não chegou a decolar. Foto: Brayan Martins PMPA.
Durou menos 24 horas a greve na Qintess, uma das maiores integradoras de tecnologia do país.
Iniciado na meia noite da segunda-feira, 10, o movimento terminou no final do dia com um acordo entre a empresa e o Sindpd, sindicato dos profissionais de TI de São Paulo, durante uma audiência de dissídio de greve no Tribunal Regional do Trabalho.
De acordo com o termo divulgado pelo Sindpd, a Qintess se comprometeu a pagar os salários até o quinto dia útil do mês, além de regularizar os depósitos de FGTS em nove meses e os descontos e reconhecimentos do INSS em 180 dias (30 dias em ambos casos, caso o funcionário “comprove necessidade”).
Já no caso das verbas rescisórias de funcionários demitidos, ficou estabelecido o pagamento de quatro parcelas mensais até 10 de maio.
As condições são mais ou menos as mesmas que a Qintess havia proposto para o sindicato antes da greve. O prazo para o pagamento do FGTS ficou mais longo e o das verbas rescisórias, mais curto.
O Sindpd pedia inicialmente o pagamento de multas sobre os salários atrasados, com pagamento do FGTS em 30 dias e dos valores rescisórios de maneira imediata.
A chave para o desenlace rápido da greve parece ter sido a baixa adesão ao movimento dentro da Qintess.
De acordo com a empresa, aderiram ao movimento apenas 5% dos 2,6 mil funcionários em São Paulo, o que seria algo em torno de 130 pessoas. Os dados seriam do controle de ponto.
São Paulo concentra a maioria dos 3,5 mil funcionários da Qintess e é onde a greve foi convocada pelo Sindpd, o sindicato estadual da área de informática.
Que a empresa divulgue um número baixo é o que se espera numa situação dessas.
Por outro lado, o Sindpd não divulgou uma cifra geral de funcionários parados, o que seria de se esperar.
O sindicato falou em “participação efetiva”, especialmente dos funcionários em home office.
Ainda de acordo com o Sindpd, Caixa Econômica Federal, Natura e Tribunal Regional do Trabalho foram clientes da Qintess nas quais a “adesão dos funcionários terceirizados foi mais alta”.
Segundo o Sindpd, os três clientes concentram sozinhos metade dos profissionais da Qintess. Pode ter influído o fato de que ddos três, um é um grande banco público e outro é um órgão do governo, ambos com uma tradição de greves relativamente frequentes.
O Sindpd já havia divulgado antes a existência de um acordo com um acordo com o TRT para que fossem mantidos ao menos 50% dos funcionários na ativa para não prejudicar a população que necessita do atendimento no tribunal.
Há bons motivos para explicar uma possível baixa adesão à greve na Qintess.
O mais óbvio é que movimentos do tipo são muito raros em companhias privadas de TI. Os sindicatos geralmente usam esse recurso em empresas públicas, nas quais as condições são totalmente diferentes.
Por outro lado, o fim da greve era só um problema de curto prazo para a Qintess, que agora vai ter que lidar com as consequências do que só pode ser entendido como um problema de fluxo de caixa na empresa.
As movimentações públicas do Sindpd para iniciar uma greve expam a situação, até então desconhecida no mercado.
A greve foi aprovada em assembleia com 900 participantes no último dia 31 de março.
Segundo o Sindpd, a Qintess estava atrasando salários, pagamento de férias, vale-transporte, vale-refeição, depósito do FGTS e outras obrigações.
O que não fica claro é a extensão do problema. A Qintess fala em “casos e valores pendentes”, o que sinaliza um problema localizado. A argumentação do Sindpd aponta para um problema generalizado dentro da companhia.
QUEM É A QINTESS
O nome Qintess é relativamente novo, tendo sido adotado no final de 2019. Mas as empresas que deram origem à organização são todas conhecidas no mercado de TI.
O começo da história está em 2011, quando um grupo investidores liderados pelo americano Nana Baffour comprou a Cimcorp, então uma das grandes integradoras de tecnologia do país.
Em 2014, a Cimcorp comprou os negócios das empresas Damovo, Getronics e Sopho no Brasil.
A grande tacada veio em 2019, quando a Cimcorp comprou a Resource, outra grande integradora de TI.
Ao contrário da Cimcorp, cujos anos dourados ficavam mais para o começo do milênio, em 2000, a Resource fechou 2018 com um faturamento de R$ 470 milhões, um crescimento de 20% em relação a 2017.
Já sob o nome Qintess, a empresa fez mais algumas aquisições, como a CSC Brasil, uma companhia que está entre as maiores especialistas no assunto análise de dados e Business Intelligence do país.