
Greves são fato inédito numa empresa como a Qintess. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Funcionários da Qintess, uma das maiores integradoras de tecnologia do país, devem entrar em greve no estado de São Paulo nesta segunda-feira, 10.
A paralisação começa depois do fracasso da negociação com o Sindpd, sindicato dos profissionais de TI de São Paulo, que rechaçou a proposta da empresa na quinta-feira, 6.
Já na sexta-feira, 7, durante o feriado da Páscoa, a Justiça do Trabalho derrubou duas liminares da Qintess, argumentando que a greve seria abusiva.
Segundo a Folha de São Paulo, a Qintess disse nas suas liminares que 50% dos empregados devem aderir à greve, o que afetaria a prestação de serviços para clientes como Via, Raizen, Banco do Brasil, TRT-SP (Tribunal Regional do Trabalho) e Caixa Econômica Federal.
Ainda de acordo com o jornal, representantes da Qintess e do sindicato da categoria se reuniram com a AGU (Advocacia-Geral da União) e desembargadores do TRT paulista, duas das instituições para as quais a companhia presta serviços.
Segundo Antonio Neto, presidente do Sindpd, o TRT pediu que seja garantido contingenciamento de funcionários para evitar que os serviços sejam afetados, e o pedido será atendido.
A greve foi aprovada em assembleia com 900 participantes no último dia 31. Segundo o Sindpd, a Qintess está atrasando salários, falta de pagamento de férias, vale-transporte, vale-refeição, depósito do FGTS e outras obrigações.
A Qintess não falou publicamente sobre a situação, mas a resposta da empresa ao Sindpd mostra que realmente existe um problema, porque a companhia propõe prazos para pagar obrigações trabalhistas que já deveriam estar pagas.
O sindicato divulgou publicamente uma lista, rebatendo ponto a ponto as propostas da Qintess.
Elas incluem o comprometimento com o pagamento de salários até o quinto dia útil do mês, a regularização dos pagamentos pendentes de FGTS em 120 dias, e o de valores rescisórios pendentes de até R$ 30 mil em 75 dias e superiores a R$ 30 mil em 120 dias.
As medidas foram pouco para o Sindpd, que quer o pagamento de multas sobre os salários atrasados, com pagamento do FGTS em 30 dias e dos valores rescisórios de maneira imediata.
O que não fica claro é a extensão do problema. A Qintess fala em “casos e valores pendentes”, o que sinaliza um problema localizado. A argumentação do Sindpd aponta para um problema generalizado dentro da companhia.
"Muitos trabalhadores relatam que a situação atual não é uma exceção, mas sim a regra", diz o Sindpd na nota.
O sindicato se diz ainda "perplexo" com as justificativas da Qintess (que, de novo, não estão disponíveis na íntegra no texto). Elas incluiriam a guerra na Ucrânia, a quebra de bancos nos Estados Unidos.
A Qintess teria mencionado ainda as recentes demissões em massa no setor de tecnologia, o que, para o Sindpd seria uma “ameaça velada”, uma vez que companhias do nicho da integradora não fizeram cortes em massa (o que é verdade, pelo menos até agora).
Agora, resta saber quantos dos 2,6 mil funcionários em São Paulo (a maioria dos 3,5 mil no Brasil) vão aderir ao movimento, quanto ele vai durar, quais serão as consequências no médio prazo para os clientes, um grupo que reúne grandes empresas e no longo prazo para a própria Qintess.
Os sindicatos de profissionais de TI são mais ativos normalmente em empresas públicas da área, nas quais greves são um acontecimento relativamente frequente.
Numa empresa privada do porte da Qintess, uma greve é um acontecimento inédito no Brasil (pelo menos até onde a reportagem do Baguete consegue lembrar).
Agora, resta saber quantos dos 2,6 mil funcionários em São Paulo (a maioria dos 3,5 mil no Brasil) vão aderir ao movimento, quanto ele vai durar, quais serão as consequências no médio prazo para os clientes e no longo prazo para a própria Qintess.
Uma paralisação bem sucedida pode inclusive ter repercussões muito além da Qintess, uma fato que o Sindpd reconhece indiretamente no seu comunicado: “Reiteramos que a greve não é do Sindpd, mas dos trabalhadores da Qintess. Mais: conta com o apoio de toda categoria que está cansada desse tipo de prática no mercado”.
QUEM É A QINTESS
O nome Qintess é relativamente novo, tendo sido adotado no final de 2019. Mas as empresas que deram origem à organização são todas conhecidas no mercado de TI.
O começo da história está em 2011, quando um grupo investidores liderados pelo americano Nana Baffour comprou a Cimcorp, então uma das grandes integradoras de tecnologia do país.
Em 2014, a Cimcorp comprou os negócios das empresas Damovo, Getronics e Sopho no Brasil.
A grande tacada veio em 2019, quando a Cimcorp comprou a Resource, outra grande integradora de TI.
Ao contrário da Cimcorp, cujos anos dourados ficavam mais para o começo do milênio, em 2000, a Resource fechou 2018 com um faturamento de R$ 470 milhões, um crescimento de 20% em relação a 2017.
Já sob o nome Qintess, a empresa fez mais algumas aquisições, como a CSC Brasil, uma companhia que está entre as maiores especialistas no assunto análise de dados e Business Intelligence do país.