
Funcionários em startup. Emprego garantido? Foto: Pexels.
Uma pesquisa da Telefônica feita com 500 startups participantes dos programas de aceleração da operadora mostrou otimismo frente aos desafios gerados pelo coronavírus: nada menos que 80% delas disseram não ter planos de demitir funcionários.
A pesquisa foi realizada entre os dias 1 e 3 de abril com as startups do portfólio global da Wayra e do Telefónica Open Innovation espalhadas pela Alemanha, Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, Espanha, Peru, México e Reino Unido. No Brasil, a Wayra tem 36 aceleradas.
Muitas falam até em contratar: 72% disseram ter planos de manter ou até expandir suas equipes dentro dos próximos meses, especialmente em setores beneficiados pelas tendências atuais como educação (edtech), finanças (fintechs), saúde (ehealth) e telecomunicações.
O otimismo em relação à manutenção das equipes, em um momento em que empresas tradicionais falam em cortes, adesão de programas de lay off e outras medidas parece produto de uma série de características do negócio de empresas nascentes de tecnologia.
A primeira é a flexibilidade característica das startups: 85% delas disseram ter conseguido implementar rapidamente o trabalho a partir de casa, continuando com suas operações mesmo com as equipes atuando à distância.
Outra parte do otimismo pode vir de não ter pensado muito a fundo nos problemas. Na Europa, onde a pandemia começou antes, 66% das empresas adotou um planos de contingência para mitigar os efeitos da crise. Na América Latina, o número é menor: 34%.
Pode ainda estar em jogo uma certa dose de wishful thinking: 74% das empresas acham que a crise do novo coronavírus terá impactos negativos nos seus negócios, uma constatação que parece algo em desacordo com a perspectiva de manter ou aumentar o staff.
Em geral, a maior preocupação é a queda nas vendas (43%), seguida pela suspensão de pagamentos (17%) e a perda de clientes (11%).
As empresas acreditam que poderão superar o momento mais complicado com medidas como redução dos custos operacionais, a redução de investimentos em marketing e estratégias que ajudem a reter os clientes já conquistados.
Esse reconhecimento é amenizado pelo que parece ser otimismo de médio prazo. Para 57% das entrevistadas, dias melhores devem vir assim que a crise arrefecer, o que, agora mesmo, parece difícil de prever quando será exatamente, principalmente no caso do Brasil.
"A maior parte das startups do portfólio da Wayra no Brasil vem desenhando cenários em meio à crise, redesenhando estratégias e segurando bastante o caixa. Muitas delas, inclusive, possuem soluções para ajudar empresas e população durante esse período e, com isso, aumentar sua receita e clientes", comenta Carolina Morandini, head de Portfólio e Startup Scout da Wayra Brasil.
NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA?
Alguns sinais do mercado nas últimas semanas parecem também indicar que talvez as startups da Wayra estejam sendo otimistas demais.
A Trampos.co, um dos maiores sites de vagas de empregos para tecnologia e comunicação do país, acaba de lançar o Offboarding Kit, um pacote de serviços para que as empresas possam a fazer a chamada “demissão responsável”.
O serviço é uma espécie de “tratamento VIP” para os demitidos dentro do Trampos.co, incluindo consultoria para construção de currículos que atraiam mais recrutadores, priorização desses profissionais na lista de candidatos nas vagas disponíveis na plataforma e treinamentos online para atualização e recapacitação.
Mas nos últimos dias, algumas startups conhecidas anunciaram cortes significativos, muitas vezes com o próprio CEO vindo a público para dar explicações sobre o que geralmente é o primeiro corte de pessoas em massa da história das empresas.
Foi assim no caso da Rock Content, plataforma mineira de marketing de conteúdo, que fez um corte de 20% na sua equipe (cerca de 90 pessoas) ou MaxMilhas, um portal de compra e venda de milhagem áreas, que cortou 42%, totalizando 167 demissões. Ainda ontem a Omie, badalada startup de sistema de gestão na nuvem, cortou um terço do time, demitindo 132 pessoas.