PLANOS

A bolha do venture capital estourou, e agora, startups? 68222w

Empreendedores precisam se libertar da narrativa de que só existe um caminho.  693ih

20 de março de 2025 - 10:27
Alberto Azevedo (Foto: Divulgação)

Alberto Azevedo (Foto: Divulgação)

Nos últimos anos, o mercado de venture capital no Brasil ou de euforia à retração. Se antes havia um excesso de liquidez impulsionando investimentos em startups promissoras, hoje o cenário é outro. A alta da taxa Selic e a maior seletividade dos investidores impam um freio no ecossistema, tornando a captação de recursos um desafio crescente. Dados da LAVCA mostram que os investimentos caíram de US$ 3,2 bilhões em 2022 para US$ 2,1 bilhões em 2023, e despencaram para apenas US$ 225 milhões nos primeiros três trimestres de 2024. Essa nova realidade obriga os empreendedores a repensarem suas estratégias de financiamento e a explorarem caminhos menos convencionais, mas muitas vezes mais sustentáveis.

O ecossistema de startups foi cativado pela ideia de que um negócio inovador precisa, obrigatoriamente, de investidores tradicionais para existir. Rodadas de venture capital, valuations inflados e a obsessão por captar milhões logo no início se tornaram quase um rito de agem. Entretanto, o questionamento que fica: e se estivermos comprando um mito que beneficia mais o mercado financeiro do que os próprios empreendedores?

Construir um MVP - versão mais simples de um produto que pode ser lançada no mercado - e validar uma ideia são desafios cruciais, mas o capital de risco não é a única, e talvez nem a melhor opção para essa etapa. Na ânsia por dinheiro rápido, muitos fundadores acabam diluindo sua participação cedo demais e perdem o controle sobre a empresa antes mesmo de entenderem seu verdadeiro potencial de crescimento. O modelo de captação impõe uma pressão por escalabilidade artificial, o que pode ser fatal para negócios que precisam de tempo para amadurecer.

Empresas como Mailchimp, Amazon e Duolingo seguiram caminhos diferentes, explorando alternativas como bootstrapping, rodadas com familiares, grants e crowdfunding. O Mailchimp, por exemplo, nunca recebeu um centavo de capital de risco e foi vendido por US$ 12 bilhões. O Duolingo garantiu suas primeiras fases de desenvolvimento com bolsas de pesquisa. Já Jeff Bezos deu os primeiros os da Amazon com um investimento da própria família.

O modelo tradicional de investimento cria um ciclo vicioso, onde startups captam para crescer, crescem para captar mais e, no processo, perdem identidade e propósito. Muitas organizações acabam reféns de investidores que exigem retornos acelerados, forçando pivôs desnecessários e decisões que podem comprometer a longevidade do negócio. A cultura do crescer ou morrer levou gigantes como WeWork e Peloton a queimarem bilhões antes de perceberem que o crescimento sustentável deveria ter sido a prioridade desde o início.

Existem alternativas. O bootstrapping garante controle total. O crowdfunding valida o mercado e gera caixa sem diluição. Grants e subvenções oferecem dinheiro sem necessidade de reembolso. Programas de aceleradoras podem ser um atalho para conexões estratégicas, e a pré-venda de produtos permite que clientes sejam os verdadeiros investidores iniciais. O Airbnb começou vendendo caixas de cereal para se manter até validar seu modelo de negócio. A Pebble arrecadou mais de US$ 10 milhões no Kickstarter antes de fabricar um único smartwatch.

Empreendedores precisam se libertar da narrativa de que só existe um caminho. O capital de risco pode ser uma ferramenta útil, mas deve ser encarado como uma escolha estratégica, não como um pré-requisito. Startups que entendem suas opções aumentam suas chances de construir negócios sólidos, sustentáveis e alinhados à visão de seus fundadores. O dinheiro está aí, só precisamos parar de olhar sempre na mesma direção.

*Por Alberto Azevedo, especialista em investimentos e CEO da Alby Foundation.

Leia mais 6z23s

GESTÃO

Você conhece seus riscos humanos? 502fc

Há 92 dias
JUDICIÁRIO

Advogado pede anulação de sentença por uso de IA 115j1k

Há 119 dias
DEI

Navegando em mercados polarizados 6421p

Há 129 dias
NEGÓCIOS

Prospecção relacional no mercado de TI b324m

MERCADO

Conexão: o alicerce de vendas 31443r