
Auditório da Unisinos encheu para o evento: Foto: Rodrigo W. Blum
A Aliança para Inovação, movimento lançado por UFRGS, PUC-RS e Unisinos para fomentar o ecossistema inovador de Porto Alegre, está bombando: o evento de abertura dos trabalhos atraiu 600 pessoas na capital gaúcha nesta quarta-feira, 04.
Foi gente suficiente para lotar o auditório do campus da Unisinos, deixando 200 de fora, assistindo a transmissão em três salas diferentes com telões.
A comunidade de tecnologia da cidade esteve presente em peso, assim como os reitores das três universidades, as mais relevantes do Rio Grande do Sul, os ex-prefeitos José Fogaça e José Fortunati e o atual, Nelson Marchezan Jr.
Marchezan, aliás, deu uma bela força para o público, ao “convidar” 200 funcionários da prefeitura de Porto Alegre, virtualmente todos os CCs e altos cargos que não podem dizer não a um convite do chefe.
O ponto alto da manhã foi a apresentação de Josep Piqué, presidente da Associação Internacional de Parques Científicos e Áreas de Inovação e consultor contratado pelas universidades para ser o ponto focal do movimento (PUC-RS e Unisinos são instituições religiosas e sabem que santo de casa não faz milagre).
Piqué detalhou o caso do 22@ Barcelona, um projeto de regeneração urbana de uma área decadente da cidade espanhola, em linha do que Porto Alegre vem projetando há anos para o chamado Quarto Distrito, além de outros trabalhos feitos para Bogotá e Santa Catarina.
O espanhol não chegou a abrir nada de mais prático sobre os próximos os da Aliança para Inovação durante sua apresentação. Em conversa com a Zero Hora, Piqué disse que uma mesa com mais de 40 agentes deverá ser formada até outubro para dar andamento ao trabalho.
É a partir desse momento que a Piqué vai precisar mostrar a que veio. Segundo a reportagem do Baguete averiguou com pessoas próximas, o consultor trabalha em ritmo acelerado, medindo o progresso dos projetos em semanas por meio de “entregáveis”.
Piqué tem como tarefa entregar um mapeamento das capacidades instaladas na cidade, assim como os principais “desafios” e sugestões de ações.
O projeto de Porto Alegre é especialmente desafiador, porque envolve três instituições de grande calibre, a prefeitura e todo um espectro de players no ecossistema de inovação como aceleradoras, entidades empresariais de TI e outras instituições que devem estar representados na mesa a ser formada.
Também são stakeholders importantes um grupo de empresários de Porto Alegre cujos nomes ainda não foram revelados: eles estão bancando a contratação de Piqué.
É sem dúvida a articulação mais complicada já posta em prática na área de tecnologia no Rio Grande do Sul. A única mobilização similar em tempos recentes foi a feita em torno da vinda da BITS, feira de tecnologia com a grife da alemã Cebit, cuja primeira edição na capital gaúcha foi feita em 2010.
A vinda da feira envolveu um grande número de participantes, desde a Fiergs, onde a mesma foi sediada, entidades do setor de TI, a prefeitura e a Hannover Fairs Sulamérica, representante no Brasil da Deutsche Messe, gigante alemã de feiras e dona dos brands Cebit e BITS.
A mobilização foi bem sucedida no sentido de fazer a feira acontecer em Porto Alegre, quando São Paulo seria a candidata natural. Porém, quando a mesma começou a funcionar, a diversidade de envolvidos se tornou um fator complicador do sucesso do evento.
Desde a estréia a BITS decepcionou em público e visitantes, uma tendência que se agravou com o ar dos anos, quando começou a ficar claro que o evento não tinha futuro, a menos que sofresse alterações significativas.
A falta de um líder claro fez com que nenhum plano de alteração de rumos fosse para frente e desperdiçou oportunidades valiosas frente a governo e grandes empresas que poderiam ter uma influência decisiva. A edição de 2015 foi cancelada dois meses antes da abertura.
A situação da Aliança para Inovação é um pouco diferente. Para começar, o sucesso da iniciativa não será medido por um só indicador, como o sucesso de uma feira (um formato de evento que, aliás, já encontra dificuldades mesmo em encontros com uma longa trajetória).
Parte do sucesso da Aliança para Inovação pode se dar pela simples aproximação entre PUC-RS, Unisinos e UFRGS, algo que está totalmente na mão das instituições.
A agenda de cooperação já prevê o compartilhamento de estruturas dos parques tecnológicos entre todas as empresas e incubadas e instaladas, além do início de trabalhos de pesquisa conjuntos e até cursos de especialização e mestrados construídos a três mãos, um fato inédito.
Claro que se fosse para ficar apenas nisso, não seria preciso fazer tanto barulho. A regulamentação da Lei de Inovação aprovada em 2013 e o avanço na situação do projeto de revitalização urbana do Quarto Distrito são pautas que também podem estar nos planos.
A mobilização das universidades é um marco em um estado que cunhou expressões como “grenalização” (a divisão de facções políticas que se sabotam mutuamente, independente da importância do tema em discussão), ou ainda “síndrome de caranguejo” (o comportamento de atores que estão mais preocupados com o ganho do outro lado numa negociação do que com os próprios interesses).
Agora é ver o que isso consegue produzir na prática.