
Italo Nogueira.
A Assespro, entidade que congrega 2,5 mil empresas de TI em todo país, quer a criação de uma agência ou outro tipo de governo que atue na “coordenação operacional” e na “construção de ações voltadas ao desenvolvimento do setor” no Brasil.
A sugestão faz parte de um manifesto com diagnósticos e propostas de política setorial para o setor de tecnologia a ser entregue aos pré-candidatos à Presidência da República.
Como costuma acontecer nesse tipo de documentos, a Assespro é um pouco vaga no que isso significaria na prática.
O texto fala de um “redesenho institucional do sistema de apoio à inovação", que reuniria sob a mesma autoridade a “capacidade de articulação, de formulação de prioridades operacionais, de pesquisa e investimento, reduzindo ou eliminando regulamentações ineficientes ou excessivamente onerosas”.
A Assespro também não menciona onde estão hoje os poderes que ela deseja ver reunidos nessa nova autoridade, mas isso é fácil de imaginar para quem conhece a política setorial brasileira na área de ciência e tecnologia.
Hoje, o Brasil tem as políticas voltadas para a pesquisa acadêmica concentradas no Ministério da Ciência e Tecnologia, sob cujo guarda chuva estão órgãos como o CNPq ou a Finep.
A política setorial de incentivo ao setor de software fica mais concentrada na Softex e seus representantes regionais, entidades de cunho misto, com representantes do governo e das entidades empresariais.
Além da sugestão da nova agência, a Assespro também bate na tecla do problema da falta de profissionais, uma pauta das entidades representativas há pelo menos 20 anos.
A Assesspro fala em um déficit de centenas de milhares de profissionais qualificados e o risco de um apagão de mão de obra no setor (a essa altura, talvez fosse o caso de se perguntar se o apagão já não aconteceu).
Uma faceta nova do problema é o que a Assespro chama de “emigração virtual”, com grande número de profissionais brasileiros trabalhando de maneira virtual para empresas situadas no exterior (e recebendo salários em dólar por isso, vale lembrar).
“Devemos seguir o exemplo de países que são exemplos de transformação digital e que começaram pela base. Para que a transformação digital no país ocorra, de fato, é preciso investir em programas de educação, treinamento e capacitação de jovens, além de criar incentivos que funcionem como impulsionadores do processo de inovação”, afirma o presidente da Federação Assespro, Italo Nogueira.
Como exemplo, Nogueira cita que o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em países como Israel, Coréia do Sul e Suécia é superior a 3,5% do PIB, enquanto o Brasil registra investimento de apenas 1,21% do PIB.
A Assespro não chega a tocar no assunto, mas a criação de uma política setorial de tecnologia no Brasil não esbarra apenas na dispersão de responsabilidades pelo lado do governo, mas também na falta de um interlocutor articulado pelo lado das empresas.
A representação do setor de tecnologia do país está espalhado por uma boa dezena de entidades diferentes, sem uma frente comum reconhecível e muitas vezes em conflito interno.
Entre as mais representativas estão a própria Assespro, atuante há quase 50 anos e representando principalmente pequenas e médias empresas brasileiras, e, mais recentemente, a Brasscom, que reúne os pesos pesados brasileiros e multinacionais atuando no país.