
Cristian Mairesse Cavalheiro.
Cristian Mairesse Cavalheiro, profissional que por muitos anos foi a cara da área de TI da Getnet, participando desde o começo da trajetória da empresa, está de saída do Santander, banco que comprou a Getnet em 2014.
O executivo, que desde 2019 atuava como COO da PagoNxt, uma nova empresa de pagamentos globais do Santander, visando a internacionalização da Getnet, comunicou a contatos no WhatsApp que deixará a empresa no final do mês.
“Só tenho a agradecer aos milhares de amigos que ajudaram na realização desse sonho iniciado no longínquo 2003. O sentimento é de dever cumprido”, resume Cavalheiro na mensagem.
Depois da saída oficial, Cavalheiro pretende fazer um período sabático antes de ingressar no mercado novamente, o que provavelmente é merecido.
Cavalheiro ingressou na Getnet no começo das operações, como diretor de tecnologia, quando a ideia de criar um competidor viável para o duopólio da então Visanet (hoje Cielo) e Redecard (hoje Rede) era muito mais ousada do que parece hoje.
Uma ousadia adicional foi fazer isso a partir de Campo Bom, um município na região metropolitana de Porto Alegre mais conhecido pela indústria calçadista do que por empresas de alta tecnologia.
O caso é que Ernesto Corrêa, um bilionário muito discreto cuja fortuna começou justamente com calçados comprou a ideia, vinda de José Renato Hopf, um ex-executivo do Banrisul (Hopf também já saiu da Getnet e hoje lidera a 4all).
Deu certo: nos últimos anos, a Getnet saltou de uma participação de 3% para 15% no mercado de processamento de cartões, um sólido terceiro lugar que torna a empresa uma concorrente viável para o antigo duopólio.
O Santander adquiriu o controle da empresa em 2014, pagando R$ 1,1 bilhão para Corrêa. Em 2019, o Santander pagou outro R$ 1,43 bilhão pelos 11,5% que estavam na mão de fundos e de um dos investidores iniciais.
No caso da TI, o comando da área na Getnet ficou entre 2003 e 2019 nas mãos de Cavalheiro. O ex-analista de sistemas no Exército entre 1990 e 1997 e contratou alguns ex-colegas, o que dava a tônica de eficiência disciplinada das operações de TI da empresa.
Ao longo dos anos, Cavalheiro liderou a criação de cinco data centers, incluindo um Tier 4 na estrutura do Santander em Campinas, a implementação de selos de qualidade como PCI e ISO 27.000 e a implementação de um centro de inovação no Tecnopuc, o parque tecnológico da PUC-RS em Porto Alegre.
Depois de comprar 100% do controle, o Santander promoveu uma grande alteração interna na Getnet em abril de 2019, colocando Cavalheiro à frente da PagoNxt, uma operação visando internacionalizar a Getnet em 10 países.
Na nota interna que divulgou a movimentação (outros nomes estavam envolvidos, além de Cavalheiro), o presidente da Getnet, Pedro Coutinho, no cargo desde 2014, disse que “o que nos trouxe até aqui não irá garantir nosso futuro”, o que envolve “transformar a Getnet em uma plataforma global do Santander”.
Desde então a vida anda meio turbulenta na Getnet. Plínio Patrão, um executivo experiente no mercado de pagamentos nomeado para o cargo de VP de TI no lugar de Cavalheiro, ficou apenas até o final do mesmo ano.
Ele foi substituído por Ricardo Roquette, ex-superintendente executivo de TI do Santander, contratado meses antes vindo do SafraPay, operação de pagamentos do banco Safra, que segue no cargo.
O Santander partiu para uma linha diferente com a Getnet, anunciando em julho que a Getnet tinha voltado a ser um negócio independente e estava dando os primeiros os para uma abertura de capital no Brasil e nos Estados Unidos.
A oferta deve atrair interessados. A Getnet encerrou o primeiro trimestre com 875 mil clientes e no período movimentou R$ 87 bilhões, 47% de expansão em relação aos primeiros três meses do ano ado.
A empresa também aumentou no mundo digital: sua participação da adquirente no comércio eletrônico saltou de 14% para 25%. Hoje, cerca de 30 mil lojas digitais usam soluções de pagamentos da Getnet.
Mas quanto a Getnet vale hoje, com a nova participação de mercado e o negócio emergente no digital, é uma incógnita.
O Neofeed revelou que um levantamento do Morgan Stanley sobre a Getnet feito no final do ano ado indica valores que vão desde R$ 4 bilhões, se a Cielo for tomada como referência, a R$ 138 bilhões, se o parâmetro PagSeguro e Stone.
A diferença é que a Cielo tem um negócio de processamento de cartões mais clássico, enquanto a PagSeguro e Stone são mais digitalizados, e, no caso da Stone, contam agora com uma operação de software de gestão depois da aquisição da Linx.
Mas isso agora é outra história, nas mãos do Santander. Com a saída de Cavalheiro, o tempo dos pioneiros de Campo Bom ficou definitivamente para trás.