
Quem é o culpado? Foto: Depositphotos.
O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, decidiu quebrar o silêncio e partir para o ataque, apontando o dedo para os principais acionistas da varejista em meio à investigação do escândalo contábil na empresa.
Em um documento para a I que investiga o tema em Brasília, Gutierrez disse que é um “bode expiatório a ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”.
As figuras notórias em questão são Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, nomes por trás do fundo 3G e acionistas líderes da Americanas desde os anos 80.
O texto também diz que Gutierrez nunca “participou, autorizou, ordenou, tolerou ou teve conhecimento de qualquer tentativa de manipular as contas financeiras da empresa”.
Desde que o escândalo estourou, em janeiro, os acionistas mantêm que não tinham conhecimento das manobras contábeis que geraram um buraco de R$ 20 bilhões e uma recuperação judicial de dívidas na casa dos R$ 40 bilhões.
Gutierrez também afirma que as vendas da Americanas eram monitoradas diariamente por Sicupira e Eduardo Saggioro, presidente da Americanas e sócio da LTS Investments, que é um family office dos três.
Atualmente em tratamento médico na Espanha, Gutierrez trabalhou na varejista por três décadas, das quais as duas últimas no comando. O profissional já não estava no comando quando a bomba estourou.
Quem revelou a fraude (ou “inconsistências contábeis”, como foi falado na época), foram o novo CEO e CFO da Americanas, apenas nove dias depois de terem assumido o cargo, o que na época levantou suspeitas que a tarefa dos dois era justamente essa.
Um dia antes do comparecimento do atual CEO na I, em junho, a Americanas assumiu em um comunicado ao mercado que o que acontecia na empresa era fraude, pura e simples (já na I, o CEO deu detalhes sobre a operação do esquema).
"Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da Companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas", diz um trecho da nota, acrescentando ainda que foram identificados os esforços dos então executivos de ocultar a situação patrimonial do mercado e do próprio conselho de istração.
Gutierrez apresentou um atestado médico para não ir à I e não tinha falado publicamente sobre o assunto, pelo menos até agora.
A LTS reagiu rápido, divulgando uma nota afirmando que Gutierrez não tem provas para sustentar suas alegações e que os acionistas “foram enganados por uma fraude ardilosa cujos infratores serão responsabilizados pelas autoridades competentes”.