
Uma luz no final do túnel? Foto: Pexels.
O Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da sua Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia, assinou um memorando de entendimento com a empresa HyperloopTT e vai financiar um estudo de viabilidade, conduzido pela Escola de Engenharia da UFRGS, para a construção de uma linha ligando Porto Alegre à Serra Gaúcha. E isso é bom.
O Hyperloop é uma tecnologia recente, que vem sendo desenvolvida por diferentes empresas com base em um conceito aberto, inicialmente sugerido pelo ora homem mais rico do mundo, Elon Musk. Ainda está longe do estágio maduro de desenvolvimento, mas progressos têm sido registrados entre as diferentes empresas que apostam nesse novo modal.
A iniciativa dos gaúchos é positiva pois traz ares de pós-modernidade a um setor estagnado há décadas: o de transporte sobre trilhos. É flagrante o descaso do País com suas ferrovias. Lá atrás, apostou-se tudo nas rodovias. Governar é construir estradas, já foi dito por um presidente em priscas eras. E pouco mudou, de lá para cá.
Ainda que seja um o modesto, começando por um estudo de viabilidade que pode resultar negativo, o fato de se estar falando de tecnologias disruptivas na área da mobilidade é positivo. Pelo menos, aponta uma visão de futuro a longo prazo. Coisa que poucos governadores têm feito.
Mas é preciso mais. Existem mais tecnologias fervilhando na área da nova mobilidade. A ascensão da Tesla como fabricante de carros mais valiosa do mundo ao mesmo tempo em que a vovó Ford se despede é um grito alto demais para não ser ouvido.
O Brasil como um todo, e o Estado do Rio Grande do Sul, onde nasci e cresci, deve olhar para toda a sua cadeia produtiva e se perguntar: onde estão os riscos e onde estão as oportunidades?
A resposta para essa pergunta é de difícil aproximação. Em casos assim, e seguindo um princípio natural, o ideal é criar condições ideais para que novos negócios floresçam, sem apostar todas as fichas em em apenas subsetor, em apenas uma ponta da cadeia ou apenas uma empresa.
O RS tem um um importante corredor do setor automotivo, que vai de Gravataí até a região metropolitana de Caxias do Sul. É preciso um olhar de águia sobre essa região para se enxergar o que está acontecendo e o que pode vir a acontecer em termos de desenvolvimento tecnológico e econômico.
Por outro lado, a HyperloopTT não é a única empresa que vem desenvolvendo a tecnologia, tampouco a mais avançada. Quem está na frente é a Virgin Hyperloop, que já tem um protótipo testado, ainda que modesto e sobre rodas, não com a tão sonhada levitação magnética, que tem se provado inviável (japoneses tentam a mais de 50 anos sem grande sucesso).
Portanto, é preciso apostar, mas não todas as fichas apenas em uma ideia, mas em várias. E deixar que a seleção natural defina os vencedores. Ainda mais considerando que a própria HyperloopTT já tentou em Minas Gerais e São Paulo sem sucesso, até agora.
Mesmo assim, a iniciativa de dar início às conversas com esta empresa, com essa nova tecnologia e com esse propósito é bom, como afirmei no início deste texto.
Assim como seria bom começarmos a falar também sobre tunelamento de baixo custo, a exemplo do que vem fazendo a Boring Company, com sucesso. É dessa forma que se abrem portas para a inovação e para outras ideias que podem ser tão ou mais auspiciosas em termos de solução de grandes problemas e geração de emprego e renda. E começar com um estudo sério de viabilidade certamente é melhor do que aportar grandes somas de verba pública sem a devida precaução.
* Carlos Martins é Diretor Executivo do E-24 Mobility Lab e idealizador da primeira corrida de carros elétricos do Brasil. Escreve para o Baguete sobre temas relacionados com indústria automobilística e mobilidade.