
Descontos seriam embolsados por funcionários, parceiros e clientes. Foto: Pexels.
A Microsoft tem um problema institucional de corrupção na África, com os desvios para pagamentos de propinas para parceiros e integrantes de governos na região chegando na casa dos US$ 200 milhões anuais.
Pelo menos, é o que garante Yasser Elabd, um funcionário com 20 anos de carreira, que publicou uma descrição detalhada do funcionamento da Microsoft no continente.
Na denúncia, repercutida desde então por veículos respeitados como o The Verge, Elabd lista negócios escusos em países como Gana, Nigéria, Arábia Saudita e Egito, entre outros, incluindo como provas relatórios internos de empresas de consultoria como a PwC.
Elabd foi contratado em 1998, quando os negócios da empresa na região África e Oriente Médio ficavam em torno de US$ 1 milhão. Hoje, elas giram em torno de US$ 4 bilhões.
O sistema de corrupção descrito por Elabd não é especialmente inovador. Os compradores no governo pedem descontos para a Microsoft, que são concedidos pela empresa.
No final das contas, o cliente final paga o preço cheio e a diferença é dividida entre os compradores, os funcionários da Microsoft e os parceiros que fecham o negócio.
Na estimativa de Elabd, entre 60% e 70% da equipe de venda e gerência da Microsoft no Oriente Médio, África e algumas partes da Europa estão recebendo propinas para aprovar contratos fraudulentos.
Algumas vendas envolvem produtos desnecessários. O parlamento da Nigéria, em um exemplo citado por Elabd, teria pago US$ 5,5 milhões por softwares para hardware não existente. O ex-funcionário cita exemplos parecidos no Catar, Camarões e Arábia Saudita.
Nesse último caso, o CIO do Ministério da Saúde teria ameaçado com uma auditoria caso 10 mil licenças de Skype que haviam sido pagas, mas nunca entregues, não fossem entregues em 72h. A Microsoft deu as licenças.
Elabd começou a denunciar a situação internamente em 2016, quando viu um pagamento de US$ 40 mil do fundo de desenvolvimento de negócios da Microsoft para um cliente na Nigéria, que na verdade acabou se revelando um ex-funcionário.
Então já um diretor de mercados emergentes para África e Oriente Médio, Elabd conseguiu bloquear o pagamento, mas os seus superiores não se aprofundaram no assunto. Quem sofreu as consequências na verdade foi o próprio Elabd.
Nos meses seguintes, Elabd afirma que pedidos de viagens normalmente aprovados começaram a ser bloqueados. O profissional acabou sendo demitido em 2018. Em 2020, um colega da Arábia Saudita teria encaminhado os documentos internos.
O The Verge procurou a Microsoft, que respondeu em uma nota dizendo que a empresa tem treinamentos sobre boa conduta nos negócios e oferece coaching sobre como denunciar episódios de corrupção.
"Nós acreditamos que já investigamos essas alegações, que já tem alguns anos, e endereçamos eles”, disse ao The Verge Becky Lenaburg, VP da Microsoft responsável por temas de governança corporativa.
Não é a primeira vez que o tema corrupção surge na Microsoft. A empresa pagou US$ 25 milhões numa multa para a SEC em 2019, depois de denúncias de corrupção na Hungria e na Arábia Saudita.