
Javier Milei, presidente da Argentina - Foto: Depositphotos
O presidente argentino, Javier Milei, se enrolou ao promover o lançamento de uma criptomoeda que explodiu em valor para depois cair rapidamente nesta sexta-feira, 14.
Em posts no X, o Milei promoveu a Libra como parte da política liberal do governo e parte de um projeto privado para incentivar a economia argentina, financiando pequenos negócios e startups no país de Messi.
“O mundo quer investir na Argentina. Viva La Libertad, Carajo”, finalizava a mensagem de Milei no X.
A publicação ainda continha dois links: um da página do projeto e outro com a tag do token promovido, além do contrato do bitcoin, operado pela carteira de criptomoedas Solana.
O endosso de um chefe de estado foi suficiente para causar um furor mundial, fazendo com que o ativo saltasse de valores em centavos para um pico de US$ 4,97 (R$ 29,70). Em menos de cinco horas, o valor despencou para US$ 0,05 (R$ 0,27).
Especialistas afirmam que a tática utilizada é conhecida como “tapete puxado”. Lança-se uma criptomoeda com liquidez relevante para dar a impressão de valor, realiza-se uma campanha publicitária para atrair investidores, o ativo sobe até o momento em que os es retiram o dinheiro, provocando o colapso.
Estima-se que, em um intervalo de duas horas, a operação envolveu um volume de aproximadamente US$ 4,4 bilhões. Especula-se que o valor embolsado pelos criadores da Libra gire em torno de US$ 107 milhões.
Horas depois da operação, começaram a surgir nas redes sociais diversos relatos de pessoas, inclusive apoiadores de Milei, que investiram e perderam dinheiro.
O influenciador americano Threadguy afirmou ter perdido US$ 250 mil (cerca de R$ 1,5 milhão) na criptomoeda.
Por outro lado, insiders — investidores com informações privilegiadas — faturaram na casa dos US$ 60 milhões. Alguns relataram no X que investiram nada e saíram com US$ 3 milhões.
A polêmica levantou suspeitas de um suposto esquema de pirâmide envolvendo o presidente Javier Milei.
Circularam informações de que um especialista em blockchain teria feito uma visita recente à Casa Rosada, sede do governo argentino, chegando a tirar uma selfie com o mandatário.
Também surgiram imagens de Milei com membros da empresa Kip Protocol, que poderia estar por trás de toda a operação. No entanto, os representantes da empresa negaram envolvimento, apesar de afirmarem que o lançamento foi um sucesso.
Ciente do “embaraço”, o presidente retirou a publicação promocional do ar e postou uma nova mensagem, afirmando: "Não tinha conhecimento dos detalhes do projeto e, depois de tomar ciência, decidi não continuar a divulgá-lo".
Não seria a primeira vez que Milei se envolve em polêmicas com criptomoedas. Em 2021, enquanto parlamentar, ele promoveu a plataforma CoinX, que oferecia lucros mensais de 8% em dólares e que atualmente está sendo investigada por suposta fraude.
Membros do governo, cientes do arranhão na imagem do presidente, correram para anunciar a abertura de uma investigação interna, encaminhando o caso ao Escritório Anticorrupção para apurar se houve conduta imprópria de membros do governo, incluindo Milei.
A oposição, formada pela União pela Pátria, anunciou que nesta segunda-feira apresentará um pedido de impeachment em razão do ocorrido. Cristina Kirchner, ex-presidente e líder do peronismo, chamou Milei de “golpista de criptomoedas” em suas redes sociais.