
Motoristas de app, uma profissão em extinção? Foto: Pexels.
Você teve uma corrida cancelada em um aplicativo recentemente? O motivo pode ser a alta dos combustíveis, que está fazendo muitos motoristas desistirem do trabalho, ou pelo menos de trajetos que acabam dando prejuízo.
De acordo com a Associação de Motoristas de Aplicativos de São Paulo (Amasp), 25% dos motoristas de aplicativo deixaram de trabalhar para a plataforma desde o início de 2020.
A Amasp aponta como fonte da informação uma base de dados da prefeitura da cidade, onde o total de cadastrados teria caído de 120 mil motoristas cadastrados no início de 2020, para 90 mil hoje.
O dado faz parte de uma extensa matéria da BBC sobre o tema, mostrando como a alta dos combustíveis está tornando os trabalho com os aplicativos inviável para parte dos motoristas e prejudicando a qualidade do serviço para os clientes.
Somente este ano, o preço da gasolina vendida nos postos subiu 28,21%, já o etanol 35,42%.
Para especialistas, o preço deve continuar subindo nos próximos meses. A gasolina, que na média nacional custa hoje R$ 5,85, pode ar de R$ 7 em algumas cidades, como o Rio de Janeiro.
No caso de uma motorista ouvida pela BBC, os preços do combustível já inviabilizaram o negócio no começo do ano. A gasolina já custava em média R$ 200 dos R$ 300 ganhos por dia, em um carro alugado cujo valor fica em R$ 2 mil mensais.
Procuradas pela BBC, Uber e 99 disseram que não têm nenhuma relação com o aumento dos combustíveis (uma informação surpreendente), mas que fazem parcerias com redes de postos, o que garante descontos aos motoristas.
De acordo com a Amasp, os preços das tarifas não são reajustados pelo Uber e 99 desde 2015.
Os motoristas que seguem trabalhando com os aplicativos tentam melhorar suas margens de lucro cancelando corridas com baixa rentabilidade, uma situação que se tornou um tópico recorrente de queixas em redes sociais, com usuários narrando cancelamentos em série.
A chave para a decisão do motorista sobre se cancelar ou não é o tamanho do percurso até o ponto de recolhida do ageiro.
Um motorista ouvido pela BBC colocou a coisa em números: “Semana ada, tive de rodar 17 minutos (5,9 km) para chegar ao ageiro. Quando o peguei, percorri 1,5 km em cinco minutos. Ganhei R$ 8 pela corrida, o que mal deu para pagar o combustível, já que meu carro faz 5,9 km com um litro de etanol".
Tanto a 99 quanto a Uber disseram que punem os motoristas que cancelam corridas com frequência.
As empresas não detalham qual é a punição. O mais provável é que o algoritmo e menos corridas aos motoristas, ou deixe de funcionar por períodos, o que diminui a oferta, levando a mais motoristas receberem corridas cujo ponto de partida é distante, aumentando assim os cancelamentos.
Uma situação que os especialistas em economia chamam de “Efeito Tostines”.
Até agora, os apps não têm tido dificuldades em encontrar novos motoristas, ao oferecer um trabalho quase sem barreira de entrada em um momento no qual o desemprego bate recordes, atingindo 14,8 milhões de pessoas.
Porém, se num cenário de recuperação a taxa começa a cair, ao mesmo tempo em que a gasolina se mantém alta, os apps podem se ver em uma conjuntura muito menos favorável.