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Edson Fonseca (Lage Landen), Luiz Janssen (Yara), Rafael Souto (Produtive) e Roberto Petry (Dell) debateram carreira em TI. Foto: Baguete Diário
Os cargos de alta gerência em TI estão diminuindo no Rio Grande do Sul, o que pode ser um desestímulo para quem aspira chegar algum dia ao nível C nas empresas gaúchas.
Quem traz a má notícia é Rafael Souto, diretor da consultoria de RH Produtive.
Segundo levantamento feito com as recolocações via Produtive durante o primeiro semestre de 2012, constatou-se que, da carteira de clientes da empresa gaúcha, apenas 20% acabou ocupando cargos “level C” no estado.
De acordo com Souto, do universo total de reposicionados, independente da região no Brasil, os cargos de alta gestão representam 33%, contra 77% do nível médio, que designa as posições de gerência e coordenação.
A maior fatia de “chiefs” fica com São Paulo, que tem 62% dos cargos, num universo de 95 posições trabalhadas no período por Souto e sua equipe. O que explica a situação?
“São fatores macroeconômicos. As empresas são adquiridas e acabam não tendo dois executivos para uma mesma área no mesmo local”, avalia Souto.
Só nos últimos meses, o Rio Grande do Sul assistiu à uma série de aquisições, indo desde negócios bilionários, como a compra da gaúcha Puras pela sa Sodexo, até negócios menores, como a aquisição da Eletrônica pela Schneider Electric.
O consultor, que participou nessa quinta-feira, 12, do Comitê Aberto Tecnologia da Informação e Comunicações da Amcham, em Porto Alegre, também observa que, apesar do encolhimento, os cargos existem, mas falta quem seja capaz de ocupá-los.
Agora, o o problema é a qualificação e o perfil.
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No primeiro quesito, o problema não é tanto o conhecimento técnico, mas sim questões mais básicas, como domínio de inglês.
Luiz Janssen, CIO da Yara Brasil Fertilizantes há seis anos, que também participou do Comitê, comparou o conhecimento de inglês com uma rotina pessoal básica.
“Muita gente vem perguntar se a empresa paga o curso de inglês. Ora, essa é uma preocupação do profissional para a sua carreira. É como escovar os dentes. Você não vem trabalhar de manhã sem escovar os dentes, é uma obrigação sua”, diz Janssen.
No raciocínio do CIO, assim como a empresa não vai escovar os dentes do funcionário todos os dias de manhã, também deve partir dele a iniciativa de dominar o inglês.
No futuro, completa Janssen, o idioma será cobrado.
“Eu hoje tenho um chefe palestino que mora na Noruega. Eu tenho uma operação de outsourcing na Índia. Sem inglês, eu não consigo trabalhar”, declara.
Segundo Souto, apenas 22% dos profissionais em cargos executivos de TI tem inglês fluente no Rio Grande do Sul.
SABER DE TUDO
No caso da qualificação, basicamente se exige do executivo interesse. Em primeiro lugar, o interesse por outras áreas da empresa que sejam importantes para o negócio.
“Mas é importante tomar cuidado”, diz Souto.
O alerta serve para não perder o foco. O consultor explica que, dos 20 aos 30 anos, os profissionais começam a formar o “core” da carreira, buscando ser referência em uma área, especializando-se nela.
Na sequência, dos 30 aos 40 anos, está na hora de consolidar a carreira. “Aí é que entra a importância de estudar outras áreas, para agregar valor como profissional”, completa Souto.
Na prática, quem é da TI deve focar em TI, em termos de especializações, projetos e certificações.
Mas se quiser aspirar cargos de nível executivo, deverá conhecer também a parte financeira, de pessoal, contábil, industrial, logística e outras.
“Nossa área permeia todas as outras, chegando até a ser invasiva. Por isso é importante saber de tudo. Hoje, se eu contratar um gerente de e, antes de apresentar ele para os cabos das máquinas, vou sentar e falar com ele sobre transações bancárias”, acrescenta Edson Fonseca, IT Manager do Banco de Lage Landen, também participante da reunião.
Com oito anos de casa, Fonseca explica que nem sempre é fácil ter esse bate-papo inicial.
“Muitas vezes o cara não se interessa e sai dizendo que não estudou pra isso. Daí não dá”, diz Fonseca.
SER POLÍTICO
Outro aspecto importante para a carreira de TI hoje é comunicar-se.
“Teve um tempo, na era do pré-nerd, que o cara da TI sentava num aquário em que ninguém se falava. Era o esquisitão, que não conversava. Hoje isso acabou”, acrescenta Fonseca.
Tanto Fonseca quanto Janssen disseram que gastam mais 50% do seu tempo de trabalho “alinhando expectativas” e construindo, com muita conversa, os rumos da TI na empresa.
Roberto Petry, gerente de TI da Dell e membro do Comitê, diz que seu índice de “alinhamento” diário é o mesmo, e acrescenta: “se a TI não estiver alinhada com o negócio, estamos perdendo o nosso tempo”.