
Reges Bronzatti, advogado especialista em negociações e contratos de tecnologia. Foto: LinkedIn.
A aceleração tecnológica, alicerçada pela crescente proliferação de aplicações e tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA), está no centro das discussões sobre inovação, produtividade e o futuro do trabalho. Ao mesmo tempo, debates sobre regulação se intensificam, especialmente em países que estão fora da competição global por liderança na IA.
Na prática, quem não compete tecnologicamente busca estabelecer limites e proteções onde ainda consegue exercer alguma influência: privacidade, ética e até mesmo a "proteção da humanidade" diante das disrupções trazidas pela IA. É um esforço legítimo, mas insuficiente para acompanhar os avanços liderados por países que priorizam a inovação como motor de crescimento.
Quem apenas regula, está fora do jogo. Esse mecanismo de defesa demonstra que a inovação não é a prioridade, e a incapacidade de competir com potências como Estados Unidos e China evidencia a desigualdade global na corrida pela hegemonia da IA.
O paradoxo de regular sem inovar
Apenas regular, sem promover conhecimento, pesquisa e inovação, é itir a perda de protagonismo mundial. É aceitar que quem regula será, no futuro, cliente ou consumidor das nações que desenvolvem e comercializam IA.
Enquanto isso, EUA e China avançam.
- China: Anunciou em 2017 sua meta de liderar globalmente em IA até 2030, investindo em infraestrutura, conhecimento, pesquisa e aplicações estratégicas.
- Estados Unidos: Seguem à frente em pesquisa e inovação, com empresas e universidades liderando patentes e desenvolvimento tecnológico.
Já a Europa, com seu rígido marco regulatório, luta para equilibrar proteção e inovação, mas correndo o risco de sufocar startups e inibir novos players no setor de sua região.
Qualquer comparação com o Brasil não é mera coincidência.
Um dilema inquietante
Enquanto reguladores tentam desacelerar a IA, a maioria das pessoas não se importa em alimentar essas tecnologias com seus dados.
O motivo? O desejo por uma IA que faça o trabalho por elas.
O ser humano, por natureza, é imediatista. Queremos conforto, eficiência e conveniência. Por isso, entregamos nossos dados ( inclusive dados pessoais sensíveis) em troca de serviços que prometem nos poupar tempo e esforço, mesmo sabendo dos riscos.
Esse comportamento é explorado pela indústria da IA, que utiliza o imediatismo humano como combustível para avançar. O paradoxo é que, ao mesmo tempo em que promovemos o crescimento da IA, nos tornamos cada vez mais vulneráveis a ela. A tecnologia que hoje auxilia pode, amanhã, substituir.
Será que estamos caminhando para a previsão de Yuval Harari, que alerta sobre a criação de duas espécies humanas: uma dominante, controladora da tecnologia, e outra subserviente, excluída pela automação?
Regulação: freio ou preparação?
Os reguladores, na ânsia de proteger o "seu quintal", correm contra o tempo. É inegável que diretrizes são necessárias para evitar abusos e proteger direitos. Mas será que o foco está no lugar certo?
A IA não respeita fronteiras ou legislações provincianas. Sua capacidade de ser desenvolvida e aplicada em qualquer parte do mundo supera as barreiras locais. A regulação deveria ser pauta de um grande acordo internacional, mas a fragmentação dos interesses globais torna isso improvável.
Enquanto isso, a corrida pela IA plena continua, e ela não espera por regulação.
A conta vai chegar
A falta de preparo e harmonia global terá consequências severas. Quando empregos ou funções simples desaparecerem, quando países virarem eternos consumidores de humanóides, quando a IA ocupar funções estratégicas e máquinas tomarem decisões sem intervenção humana, o impacto será avassalador.
Já temos a previsão de que o número de humanóides em 2040 será maior do que a população da raça humana. Não é por acaso que Elon Musk e algumas outras empresas americanas e chinesas querem a IA plena e autônoma em robôs.
Todos nós desejamos um humanóide que faça, inclusive, todas as nossas tarefas domésticas. Por que não ? "Multitrilhões de dólares" serão gerados pela indústria de robôs nos próximos anos, segundo Jensen Huang, CEO da NVIDIA, dita em janeiro de 2025 e um dos grandes líderes de nova corrida do ouro.
O mais intrigante é que grande parte da população não parece preocupada. O imediatismo ofusca a visão de longo prazo. Queremos que a IA resolva problemas hoje, mas ignoramos que ela pode nos tornar dispensáveis amanhã.
Entre reguladores que tentam frear abusos e empresas que competem para criar a primeira IA superior à inteligência humana, uma questão se impõe: Onde traçaremos a linha entre a redução de custos ou conforto e a sobrevivência da espécie?
Educação e consciência coletiva
A solução não está apenas na regulação.
É essencial preparar a sociedade para coexistir com a IA.
- Educação: Promover alfabetização digital em larga escala, capacitando pessoas a entender os riscos e as oportunidades da IA. Todos precisaremos de novas habilidades e funções, independente da profissão ou formação atual.
- Inovação Responsável: Fomentar o desenvolvimento de tecnologias alinhadas a valores éticos e humanos é quase uma obviedade. O problema é que o viés cognitivo nos humanóides não será seu, mas de uma empresa, de algum país, do ocidente ou oriente, que desenvolveu o algoritomo de IA presente no seu robô doméstico.
- Colaboração Internacional: Apesar das divergências, o futuro da IA exige um esforço global. Ainda estamos na fase de querer sobrepujar uma nação sobre a outra. O medo ainda pedirá união em um futuro próximo.
A IA deve ser vista não como uma ameaça a ser contida, mas como uma ferramenta a ser usada com sabedoria e responsabilidade.
Uma pequena reflexão
O paradoxo da IA é um lembrete de quanto somos imediatistas. Regulamos o avanço, mas consumimos sem restrições.
Se continuarmos nesse ritmo, corremos o risco de nos tornarmos os maiores responsáveis pela nossa própria obsolescência – tudo em nome de uma vida mais prática e eficiente.
A pergunta que fica é: Estamos realmente prontos para esse futuro?
Bons Negócios a Todos.
O tempo de mudar está ando....
*Por Reges Bronzatti, advogado especialista em negociações e contratos de tecnologia.