
Frederico Renner Mentz é idealizador do Tijolo e um dos criadores do Instituto Caldeira. Foto: divulgação.
Mais de 30 empresas do setor de construção civil e do mercado imobiliário do Rio Grande do Sul já fazem parte do Tijolo Hub, uma iniciativa que visa aumentar o grau de inovação dentro e fora do canteiro de obras.
A lista inclui nomes de peso do mercado imobiliário, como Auxiliadora Predial, Imóveis Crédito Real, Guarida; construtoras de porte, como Maiojama e Melnick; e players de tecnologia, como a Inesoft.
“Tem empresas de todos os portes, desde capital aberto em bolsa até pequenas imobiliárias do interior. Elas conseguem ter o no modelo de cluster a coisas que, sozinhas, dificilmente teriam”, destaca Frederico Renner Mentz, idealizador do Tijolo.
Durante os primeiros seis meses de projeto, o foco do hub foi a camada educacional. Como algumas das companhias estavam mais evoluídas no quesito inovação, e outras, começando, o objetivo era que todas chegassem ao mesmo nível de maturidade.
Isso foi fomentado através de eventos e workshops, um deles uma missão no ecossistema gaúcho. A ideia era conhecer os ambientes de inovação, começando pelo Instituto Caldeira, um badalado hub de inovação em Porto Alegre que tem o próprio Mentz entre seus idealizadores (mais sobre isso adiante).
“Isso gerou a oportunidade de a gente falar a mesma língua. Várias coisas abriram a cabeça das empresas mantenedoras e fizeram com que todo mundo estivesse na mesma página”, conta o executivo.
Na mesma vertente, o hub está organizando uma missão para conhecer o ecossistema de Florianópolis na segunda semana de novembro.
CONEXÃO COM STARTUPS
A partir do segundo semestre deste ano, o Tijolo também está focando na conexão dessas empresas do setor com as startups, que buscam clientes e a experiência de mercado dos mantenedores, oferecendo tecnologias que esses geralmente não têm.
Para isso, lançou recentemente o Viga, seu primeiro programa de conexão propriamente dito. Nele, foram apresentados para startups os gargalos e pontos de atrito que precisam ser melhorados na jornada de compra e locação de imóveis.
“Conseguimos levantar essas problemáticas que, muitas vezes, as empresas nem sabem direito quais são. Estamos dando visibilidade através do hub e fazemos todo esse filtro das startups que se conectam ao programa, checando se elas realmente conseguem resolver essas dores e entregando isso pronto para os mantenedores usufruírem”, explica Mentz.
Esse programa deve ter diversas outras versões no futuro, com novas temáticas. Segundo Mentz, a ideia é estar sempre mapeando problemas e trazendo essa melhoria incremental.
Outro projeto em andamento é o chamado Escritório do Futuro, que será voltado para o nicho dos arquitetos e deve ser lançado até o final do ano.
“É como se fosse um hub dentro do hub. Vai ser dentro do Instituto Caldeira, onde a gente vai interagir mais com essa turma do design, como fornecedores de cadeira para escritório, mesas, de insumos para design e com a camada criativa dos arquitetos, que hoje, no Tijolo, não participam tanto”, explica Mentz.
Segundo o executivo, esse espaço físico terá uma série de tecnologias para mapear em tempo real como está sendo o uso desses mobiliários.
Os dados gerados devem trazer insumos para que empresas possam cocriar com o usuário final e trazer insights para melhoria de produto, além da criação de novos produtos e novos negócios.
Hoje, o Tijolo tem dois espaços físicos. Um deles fica anexo ao Instituto Caldeira, porém com o independente pela rua. O outro é um escritório dentro do Instituto, em parceria com a Fundação A.J. Renner, que funciona como um radar para mapear as startups que estão lá dentro.
Para além do segmento da construção, Mentz já mira outros nichos, como o agronegócio. Voltado a esse mercado, já existe o Celeiro, um hub dentro do Tecnopuc que está em um estágio um pouco mais inicial.
O foco neste começo é a criação de um fundo de investimentos para startups do ramo. Depois, deve haver uma etapa para conectar as empresas do agronegócio com o hub.
“Eu enxergo isso como uma tendência. Os hubs multissetoriais vão continuar existindo, mas faz muito sentido quando a gente trabalha uma camada que conhece seu segmento. O diálogo flui muito melhor. No Vale do Silício, eu visitei um hub de biotecnologia, por exemplo. É uma questão de maturidade de ecossistema para começarmos a ter isso”, acredita Mentz.
Frederico Renner Mentz é da quarta geração da Família Renner e foi um dos principais idealizadores do Instituto Caldeira, inaugurado em março do ano ado. O local onde hoje fica o Caldeira é um prédio da família, que antigamente abrigava uma confecção fundada pelo seu bisavô.
Após uma imersão no Vale do Silício, em 2017, Mentz começou a montar um projeto de hub para esse prédio. Paralelamente, descobriu que havia um grupo de empresários já trabalhando para juntar lideranças em prol da inovação no estado.
“Acabei me conectando com esse pessoal para a gente ter mais força e fazer algo juntos. Eu tinha um espaço físico para fazer isso e consegui oferecê-lo. Eu e os empresários tocamos dentro do nosso tempo livre, pró-bono, para que a iniciativa fosse estruturada”, conta Mentz.
Depois disso, o grupo conseguiu estruturar uma governança e, hoje, existe um time de executivos que toca o dia a dia da operação. Atualmente, Mentz é conselheiro do Caldeira e também se dedica à AnLab, uma empresa ligada à educação corporativa.
Antes de focar na chamada nova economia, Mentz já empreendeu no mercado de moda masculina, com a marca Spirito Santo, além de ter sido gerente de investimentos no Banco Renner.
COMO SURGIU O TIJOLO
A ideia do Tijolo veio após o aprendizado com o Caldeira, conta Mentz. O executivo vinha mapeando os movimentos dos hubs de inovação por nicho de mercado, tanto no Vale do Silício quanto no Brasil, e começou a pensar no que faria sentido no mercado brasileiro e quais seriam os segmentos importantes no país.
“Um deles, em que o Brasil é enorme em termos de geração de receita e de negócios, é o mercado imobiliário e a construção civil. A gente pegou uma pesquisa onde a construção civil só ganhava da pesca em inovação. Parece uma piada, mas enxergamos isso como uma grande oportunidade para esses mercados”, conta.
De acordo com o executivo, o mercado está olhando bastante para fora do canteiro de obras, com tecnologia para venda de imóveis, mas ainda há pouca inovação dentro do canteiro, onde também haveria grandes oportunidades.
“Em países mais desenvolvidos, é uma tendência. Estão surgindo tecnologias de construtechs que vão automatizando vários processos e os tornando mais eficientes”, exemplifica Mentz.
A partir dessa constatação, o desafio era mostrar para as empresas o tamanho dessa oportunidade e ajudar a melhorar o índice de inovação do segmento.
“No fim das contas, inovação tem que gerar resultado, algum tipo de incremento, um processo novo que gere mais eficiência. Tudo isso pode ser alavancado. O hub propõe alavancar tudo isso gerando valor”, resume Mentz.