
Porto Alegre: uma cidade, dois vídeos. Foto: flickr.com/photos/robertawb
Dois vídeos filmados em Porto Alegre, exibindo visões diferentes da cidade no YouTube, são o assunto do dia na capital gaúcha.
Produzidas com a mesma trilha sonora [o hit Happy, do cantor soul americano Pharell Williams], ambas gravações mostram pessoas comuns dançando em pontos da cidade.
A diferença é que no primeiro vídeo a ser postado nesta terça-feira, 25, as locações são uma dezena de obras em andamento na capital nos últimos anos, muitas delas inciadas focando na Copa do Mundo e atualmente sem prazo de conclusão em vista.
Além das obras, que tem transformado o trânsito em um caos, a gravação também mostra o interior de um ônibus T9 lotado, um hospital em greve e diversas pixações pela cidade com protestos relativos à Copa.
A produção é de duas analistas de mídia social da Pimenta do Reino, Letícia Bastos e Amanda Abreu, com a colaboração de duas dezenas de pessoas, muitos deles alunos de comunicação da PUC-RS.
O segundo vídeo, um dia depois, vem assinado pela prefeitura de Porto Alegre, através do Poa Digital, e mostra dançarinos em uma dezenas de pontos turísticos da cidade, incluindo o Mercado Público, a Rua da República, o Guaíba e Redenção.
Ao contrário do que possa parecer a primeira vista, o vídeo da prefeitura não é uma resposta ao vídeo de protesto.
Pelo menos, é o que garante Thiago Ribeiro, coordenador do Porto Alegre Digital. Ribeiro assegura que o vídeo “happy” vinha sendo produzido desde antes do lado “unhappy” entrar no ar , inspirado por conteúdos semelhantes divulgados por metrópoles como Londres e Nova Iorque, cidades brasileiras como Rio de Janeiro e Curitiba [que também tem uma versão crítica] e até pequenas localidades como Stabia na Itália e Ruse, na Bulgária.
“Nós queríamos dar um presente para a cidade no seu aniversário. Não sabíamos do outro vídeo”, resume Ribeiro. Porto Alegre comemorou nesta quarta-feira, 26, 242 anos da sua fundação, mensagem que fecha o vídeo da prefeitura.
Timing no entanto é tudo e o fato é que, seja qual fosse a intenção de Ribeiro, o vídeo da prefeitura [301 visualizações, 48 marcações positivas contra 118 negativas] está sendo interpretado por internautas como uma resposta à gravação crítica [11 mil visualizações, 1,1 mil avaliações positivas contra 16 negativas].
“Acho que nós tocamos em uma questão latente na população, na insatisfação com a situação da cidade”, analisa Letícia Bastos. “Nós queríamos gravar dentro de um hospital e numa rua alagada durante uma chuva, mas não deu”, completa a produtora, que, com 28 anos, é a integrante mais velha do grupo que produziu o vídeo.
Letícia prefere não polemizar se o vídeo da prefeitura é uma resposta ou não, afirmando que a produção independente também planejava usar como gancho o aniversário da cidade.
As datas de produção do primeiro vídeo dão margem às intepretações conspiratórias às quais a Internet é tão afeita. As gravações da versão de protesto foram feito no tempo livre de 20 voluntários ao longo de duas semanas, tempo e gente suficiente para produzir um vazamento de informação para o “outro lado”.