
Hackers são conhecidos por trabalhar de máscara. Foto: Pexels.
Um ataque hacker tirou do ar os sites e o correio eletrônico de 245 das 295 prefeituras catarinenses nesta quarta-feira, 1.
O alvo foi a Federação Catarinense de Municípios (Fecam) que oferece o serviço para as cidades catarinenses.
Os hackers, que tem um viés político bolsonarista, se aproveitaram de uma fragilidade no sistema da Fecam, desenvolvido em PHP, uma linguagem de programação popular para a criação de sites.
“Olá programadores da Fecam, acho que vocês faltaram algumas aulas de PHP na faculdade. Como vocês já são crescidinhos não terão anotação na agenda para seus pais verem, mas levarei a maior parte das cidades de Santa Catarina pro Zone-H”, afirma a mensagem deixada no site.
A Zone-H é um arquivo digital de sites invadidos (ou defaced, no jargão da área de TI), criado em 2002.
“Não queremos máscaras nem distanciamento social. Bolsonaro 2022”, segue o texto, dando a entender que o ataque é um protesto contra o posicionamento da Fecam em relação às medidas contra o coronavírus.
(Ataques de cunho bolsonarista, aliás, são uma nova tendência: recentemente, o iFood teve milhares de nomes de restaurantes com nomes alterados com mensagens de cunho político como "Bolsonaro 2022" ou "VacinaMata". A empresa disse que foi coisa de um colaborador terceirizado).
A Fecam inicialmente tirou do ar todos os sites, restabelecendo o serviço na totalidade ainda na quinta-feira, 2.
De acordo com a entidade, apenas as páginas iniciais foram afetadas, e não houve comprometimento de dados.
O ataque não afetou a totalidade das prefeituras, só aquelas que usam o “sistema antigo”, enquanto “novos portais e sistemas não foram afetados devido a serem desenvolvidos com as melhores práticas e tecnologias do mercado”, revela a Fecam em nota.
“Reforçamos o convite para que os municípios utilizem a nova plataforma de portais o mais breve possível”, aponta a Fecam.
Nas entrelinhas, é possível entrever o que aconteceu. A Fecam oferece um novo sistema, ou de desenvolvimento seu, ou talvez de algum grande player e talvez já não dê tanta bola para a velha plataforma.
No entanto, a migração é voluntária. Grandes cidades, ou cidades médias com áreas de TI mais organizadas migraram, mas a grande maioria não.
De acordo com o site NSC, entre as cidades afetadas estão Tubarão, Laguna, Imbituba, Biguaçu, São Bento do Sul, Xanxerê e Navegantes, municípios de porte médio no estado por populações acima de 40 mil habitantes e, no caso de Tubarão, acima de 100 mil.
Uma particularidade de catarinense é ter muitos municípios: apesar de ter 1,1% da área do país, sendo o vigésimo maior estado, Santa Catarina é a sexta em número total de cidades, das quais apenas 13 têm mais de 100 mil habitantes. A grande maioria (224), tem menos de 20 mil.
As prefeituras brasileiras, em geral, não estão bem preparadas quando o assunto é segurança da informação e são um alvo cada vez mais frequente de ataques.
As prefeituras de mais de 30 municípios brasileiros sofreram ataques cibernéticos desde o final do ano ado, aponta um levantamento realizado pela Trend Micro, multinacional especializada em cibersegurança.
Entre as atingidas, estão as capitais Vitória, Florianópolis, Belo Horizonte e Cuiabá, mas os ataques vão desde cidades minúsculas, como a catarinense Santa Rosa de Lima, com pouco mais de 2 mil habitantes, até Campinas, por exemplo, que possui uma população maior que 1,2 milhão.
No que a empresa classifica como uma “epidemia de ataques cibernéticos”, o fato dos incidentes incluírem cidades de todos os tamanhos demonstra a natureza automatizada dos softwares que coordenam essas ações, ao contrário do caso catarinense.
O Brasil tem 5,5 mil municípios, muitos com uma gestão muito precária da sua área de TI.
De acordo uma pesquisa de 2014 do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) com 334 municípios brasileiros, mais da metade deles (54%) não tinham nem sequer um departamento ou área de TI dedicados.
Uma área do tipo é coisa de cidades grandes apenas. Entre as questionadas com mais de 500 mil habitantes, todas tinham áreas de TI. Ao todo, o país tem cerca de 40 cidades desse tamanho.
O levantamento já é algo antigo, mas parece difícil de se acreditar que a situação tenha melhorado consideravelmente desde então.