
Gráfico mostra o tamanho do papagaio da Saraiva com a Infosys. Foto: .flickr.com/photos/ambriola
Com uma dívida de R$ 33,8 milhões, a Infosys é um dos três maiores credores individuais da Saraiva, rede de livrarias que entrou com um pedido de recuperação judicial nesta sexta-feira, 23.
A gigante indiana de TI só fica atrás do Banco do Brasil (R$ 90,7 milhões) e do BNDES (R$ 41,7 milhões) na lista dos credores.
A dívida total chega a R$ 674 milhões, a maior parte deles concentrados em editoras de livros e fornecedores de eletrônicos dos quais a Saraiva comprou produtos e não pagou.
Não se sabe quais são os serviços prestados pela Infosys para a Saraiva nem desde quando.
A justificativa da empresa para entrada em recuperação judicial, no entanto, traz uma pista.
Na lista de causas da sua situação calamitosa, a Saraiva enumera a estagnação da economia do país, a greve dos caminhoneiros e até a Copa do Mundo, além de, atenção, “problemas na implementação do novo sistema interno de gestão”.
A Infosys tem entre suas atividades no país a consultoria para implementação de sistemas de gestão da SAP. O valor devido pela Saraiva bate com um grande projeto de ERP.
Seja como for, parece complicado para a Infosys cobrar a sua dívida com a maior rede de livrarias do país.
Entre abril e junho, a receita líquida da companhia somou R$ 364,5 milhões, uma queda de 1,6% na comparação com o segundo trimestre de 2017.
O prejuízo, no entanto, dobrou, chegando a R$ 103 milhões
No final de outubro, a Saraiva anunciou o fechamento de 20 lojas em todo o país. Segundo a companhia, cerca de 700 funcionários foram desligados em todas as unidades de negócios da empresa.
Segundo dados da Economatica, a Saraiva estava avaliada até esta quinta-feira em R$ 58 milhões em valor de mercado, ante R$ 120 milhões no final do ano ado. Em janeiro de 2011, a empresa chegou a valer R$ 1,210 bilhão na bolsa.
É difícil também estimar o tamanho do impacto de um não pagamento na operação da Infosys no país.
A Infosys iniciou operações no Brasil em 2009 com uma unidade em Belo Horizonte. Em 2014, quando abriu um centro de entrega de serviços, em Araraquara, no interior de São Paulo, a empresa divulgou ter 700 funcionários no país.
Infosys, Wipro, TCS e Mahindra, as maiores multinacionais indianas de TI, chegaram ao Brasil na primeira década dos anos 2000, sendo seguidos por uma leva de empresas menores na década seguinte.
Os indianos não conseguiram repetir por aqui o sucesso da sua presença nos Estados Unidos, onde as companhias do país emplacaram grandes contratos de outsourcing usando como diferencial o baixo do custo da mão de obra na Índia.
Os custos do Brasil também não tornam o país especialmente atrativo para a implantação de centros de offshore, a partir dos quais as indianas poderiam atender seus clientes no 24h por dia (o que se chama de “follow the sun”, no jargão da área).
As gigantes da Índia optaram nos últimos anos por adquirir players locais para acelerar o crescimento no Brasil, atendendo clientes brasileiros com profissionais brasileiros.
Parece que esse caminho também tem as suas surpresas.