
Sede do Serpro em Brasília.
Caio Mario Paes de Andrade, um empresário com investimentos no setor de tecnologia, é o novo presidente do Serpro, estatal federal de processamento de dados.
O novo presidente foi nomeado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
De acordo com o site Poder360, que cobre de perto os acontecimentos em Brasília, Andrade terá como braço o direito Wilson Coury.
Coury é um funcionário com décadas de experiência na estatal e será uma espécie de VP.
Segundo o Poder360, é uma fórmula que está sendo usada por Guedes: alguém com “espírito inovador”, junto com algum profissional que conheça o histórico do órgão e possa garantir que a transição seja “suave”.
Andrade participou do boom da Internet brasileira, no final dos anos 90. Em 1999, ele era presidente da PSINet Brasil e diretor-geral para América Latina. Adquiriu e consolidou 15 provedores de o na região, sendo o principal deles o STI em São Paulo.
Em 2000, fundou a WebForce, empresa que atua como incubadora/aceleradora de novos empreendimentos.
Logo no início de sua operação, a WebForce desenvolveu e vendeu o hpG, uma empresa de hospedagem de sites.
Em 2004, CMPA (como Caio Mario é conhecido, pelas iniciais de seu nome) foi para o mercado imobiliário e atuou como incorporador e fundador da Maber –imobiliárias de São Paulo depois adquirida pela Lopes, em 2010.
De 2010 para cá, a WebForce se consolidou e tem em seu portfólio marcas e serviços como 123i, Emoda, Newcore e Credihome. A WF tem também investimentos no setor agropecuário.
Andrade tem um pezinho no jetset internacional. Em 2012, o presidente do Serpro casou-se com Margot Alyse Greenman, que à época era diretora em São Paulo da firma de investimentos Morgan Rio Capital Management. A cerimônia foi anunciada no jornal The New York Times, com a foto dos noivos.
Agora é aguardar para ver qual será o rumo no qual o empresário colocará o Serpro, uma estatal fundada nos anos 60 que tem entre suas principais atribuições atender as demandas da Receita Federal, mas nos últimos anos vem ampliando seu escopo incluindo outros órgãos do governo e projetos como o carteira de motorista digital.
Recentemente, o Serpro adiantou a divulgação dos seus resultados de 2018 em um mês, no que pode ser visto uma maneira de escapar dos planos de privatização do novo governo federal.
De acordo com a divulgação, a estatal federal de processamento de dados terá um lucro de R$ 191 milhões neste ano, uma alta de 54% frente aos resultados de 2017.
Em 2016 o prejuízo foi de R$ 162,3 milhões. Em 2015, o buraco fora de R$ 335 milhões.
O faturamento bruto será de R$ 3,13 bilhões, frente aos R$ 2,93 bilhões de 2017.
O texto destacou as realizações da nova gestão do Serpro, nomeada pelo governo Michel Temer (PMDB), destacando que em maio de 2016 a empresa acumulava prejuízos de R$ 310 milhões e que até aqui houve total reversão do cenário.
“O ano de 2018 marca a conclusão de um ciclo de transformação no Serpro”, afirmou a presidente da estatal, Glória Guimarães, que anunciou sua saída do cargo no dia 28 de dezembro.
A movimentação tem suas razões de ser. Nesta semana, fundador da locadora de veículos Localiza, Salim Mattar, assumiu a secretaria-Geral de Desestatização e Desimobilização.
"A nova secretaria vai ser responsável pelos desinvestimentos, desimobilização e busca de maior eficiência na gestão dos ativos da União", explicou em nota o futuro super ministro da Economia, Paulo Guedes.
Guedes, como até os postes da rua sabem, é um liberal convicto e não tem apreço algum por estratégias de política industrial e participação do estado na economia que justificam em última análise a existência do Serpro.
O Serpro costumava ser acusado por parte da iniciativa privada de ser inchado e competir em condições de favorecimento no atendimento de necessidades do governo que poderiam ser supridos pelo mercado, além de inflacionar preços de mão de obra por meio de constantes concursos.
Um dos líderes desse tipo de acusações era a Assespro Nacional, que chegou a entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade em 2012 contra uma lei federal que permitiria ao governo contratar o Serpro sem licitação para serviços considerados estratégicos.
O assunto está atualmente parado no Supremo Tribunal Federal.
Multinacionais como SAP, IBM e Oracle nunca chegaram a ter enfrentamentos abertos como os da Assespro Nacional, mas em conversas privadas era comum os executivos da área pública das empresas reclamarem da perda de oportunidades gerada pela orientação pró-open source e desenvolvimento interno em estatais dos governos petistas.
Nos últimos tempos, uma variação desse posicionamento era a tentativa do Serpro de ser um “cloud broker”, intermediando a contratação de nuvens privadas pelo governo. Isso aparentemente não emplacou: o Ministério do Planejamento acaba de contratar a Embratel para esse papel.
A visão defendida pela Assespro é que o Serpro seja uma agência reguladora para os softwares e serviços, tendo como papel subcontratar a iniciativa privada para as execuções dos mesmos.
Um plano que circula com frequência desde o início do governo Michel Temer (PMDB), a por uma fusão com o Dataprev, estatal federal com atribuições similares, que tem entre suas principais responsabilidades o atendimento da Previdência Social.
Andrade parece ser o homem para colocar em prática uma visão desse tipo.