
Bill McDermott, CEO da ServiceNow. Foto: Divulgação
A ServiceNow parece ter feito uma provocação para a concorrente SAP ao lançar nesta semana um programa batizado de RiseUp with ServiceNow, visando atingir 1 milhão de profissionais certificados na plataforma de gestão de workflows até 2024.
O nome é muito parecido ao do programa Rise with SAP, lançado pela multinacional alemã em 2021 visando promover a migração para a última versão do seu ERP, o S/4, rodando em infraestrutura na nuvem.
Companhias de tecnologia copiam estratégias de marketing uma das outras toda hora, mas o caso em questão é mais saboroso porque Bill McDermott, atual CEO da ServiceNow, no cargo desde 2019, foi por uma década CEO da SAP.
McDermott é um executivo experiente e um CEO estrela na tradição americana, que certamente não deixou de notar que os nomes dos dois programas são muito parecidos.
A situação das empresas, no entanto, é diferente, o que reforça o potencial da brincadeira.
A ServiceNow fechou ano ado com uma receita total de US$ 4,5 bilhões, uma alta de 32%. McDermott diz ter estabelecido um plano para transformar que a ServiceNow seja a "empresa de software corporativo que definirá o século XXI".
Nesse contexto, o plano de certificar 1 milhão de profissionais (a empresa não diz quantos são certificados hoje) parece até bem factível.
A SAP, apesar de ser uma empresa bem maior do que a ServiceNow (€ 27.84 bilhões de faturamento em 2021), cresce bem menos (2% no último ano) e, talvez mais importante, está enrolada na sua transição para a nuvem.
Lançado em 2015, o S/4 vem enfrentando resistências dos grandes clientes da SAP, receosos em embarcar numa grande migração nos seus sistemas de gestão, cuja complexidade é aumentada pela mudança de infraestrutura para a nuvem.
Mais do que isso, não é a primeira vez que McDermott diz algo que pode ser entendido como uma provocação para o seu antigo empregador.
Em janeiro, McDermott resolveu dizer que a ServiceNow não faria aquisições de outras empresas.
“Não temos alvos para fusões e aquisições. Quando eu escuto engenheiros em outras empresas que querem vir para cá, eles dizem que am 90% do tempo fazendo integrações, no lugar de inovar para o futuro”, disse McDermott.
Uma declaração notável, tendo em conta que na SAP McDermott liderou mais de 40 aquisições em uma década, incluindo aí diversos negócios com valores na casa do bilhão de dólares para cima.
O interessante é que McDermott disse isso após a estratégia de aquisições da SAP ser criticada por nada menos do que a Hasso Plattner, um dos fundadores e atual presidente do conselho de istração da SAP.
Em uma entrevista em maio de 2020 para o Handelsblatt, o maior jornal de economia da Alemanha, Plattner foi bastante duro.
“Nós compramos algumas empresas porque eles tinham uma quantidade bacana de usuários. Isso não é o suficiente”, afirmou Plattner, em uma afirmação dura até para os seus padrões de franqueza germânica.
Segundo Plattner, o último dos cinco fundadores envolvidos diretamente na SAP, a estratégia de McDermott de manter as companhias adquiridas nos Estados Unidos com uma atuação independente gerou um conflito com a matriz alemã, além de problemas de integração tecnológica.
Plattner chegou a citar como exemplo de uma política de integração de empresas adquiridas da concorrente Oracle, o que é um requinte de crueldade.
“Tão logo a Oracle compra uma empresa, os chefes antigos vão para casa. Isso foi assim inclusive com o CEO da Sun. E isso nós devemos fazer no futuro, porque só existe um caminho: o da integração”, disse Plattner. “A integração na SAP não funciona, isso é um fato”, concluiu Plattner.