
Tem algum programa de DEI por aí? Foto: Depositphotos.
A Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, e a Amazon, uma das maiores empresas de e-commerce do mundo, estão fechando seus programas de diversidade.
As decisões foram reveladas pela Reuters na sexta-feira, 10, e antecedem em poucos dias a posse do novo presidente Donald Trump, cujos apoiadores são críticos declarados das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI, na sigla em inglês), uma febre no mundo corporativo na última década.
A Meta enviou um memorando sobre o tema para os funcionários, afirmando que estava encerrando seus programas de DEI, incluindo os voltados para o favorecimento de minorias em contratações, treinamento e escolha de fornecedores. O time interno focado em DEI foi extinto.
No mesmo dia, o CEO da empresa, Mark Zuckerberg, anunciou o fim do uso de agências de checagem de fatos, outro alvo trumpista, e pediu ajuda para o novo presidente para enfrentar governos hostis, incluindo no Brasil.
A Meta não está poupando esforços para agradar à nova istração, incluindo a contratação de Joel Kaplan, um conhecido republicano, para o cargo de chief global affairs officer e de Dana White, CEO da UFC e amigo pessoal de Trump para o seu conselho de istração.
As mudanças na Amazon podem não ser tão chamativas, mas vão na mesma direção. Segundo um memorando de dezembro visto pela Reuters, a empresa está “encerrando programas e materiais desatualizados”, relacionados ao tema inclusão, o que deveria ser concluído até o final do ano ado.
Vale lembrar que o The Washington Post, jornal controlado pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, anunciou durante a campanha eleitoral americana que deixaria de recomendar candidatos.
O Washington Post tradicionalmente apoia democratas e a decisão foi vista na época como uma bandeira branca em direção a Trump, que tinha a Amazon e a AWS como alvos durante o seu primeiro governo.
“O cenário jurídico e político em torno dos esforços de diversidade, equidade e inclusão nos Estados Unidos está mudando”, disse Janelle Gale, vice-presidente de Recursos Humanos da Meta, em outro memorando visto pela Reuters.
Ainda no ano ado, a justiça americana decidiu que a Nasdaq, bolsa de valores de tecnologia, não poderia exigir que empresas listadas explicassem que ações relacionadas a DEI as mesmas estavam tomando.
A Microsoft encerrou sua equipe dedicada à diversidade, equidade e inclusão (DEI) ainda em julho do ano ado.
O termo DEI começou a surgir de forma mais constante no vocabulário corporativo nos anos a partir de 2010, como parte da reorientação das atividades de responsabilidade social corporativa em torno da chamada agenda ESG (sigla em inglês para ambiente, social e governança).
O tema ganhou um impulso adicional em 2020, quando o assassinato de George Floyd deflagrou uma onda de protestos de grande porte nos Estados Unidos, liderados pelo movimento Black Lives Matter.
Como costuma acontecer, a orientação das matrizes das gigantes de tecnologia chegou também às subsidiárias brasileiras, que também criaram grupos internos focados em minorias.
A comunidade gay (ou LGBTQIAPN+, para quem gosta de siglas) têm lugar de destaque nessa pauta no Brasil, com empresas como Microsoft, Dell, Zendesk e outras sendo patrocinadores frequentes de paradas do Orgulho Gay pelo país afora.
A introdução dessa agenda no Brasil, no entanto, não foi lá sem seus conflitos.
Os leitores do Baguete podem lembrar do caso do country manager da Salesforce demitido pela matriz da empresa nos Estados Unidos em 2018, depois de posar para fotos com um funcionário fantasiado de Negão do WhatsApp em uma festa de final de ano da empresa (sim, isso realmente aconteceu).
Mas, de maneira geral, as grandes empresas se ativeram às orientações vindas de cima, inclusive no período entre 2019 e 2021, quando o Brasil foi governado por Jair Bolsonaro, um presidente com uma orientação mais conservadora sobre a pauta de costumes.
Grandes empresas brasileiras de tecnologia seguiram a deixa das multinacionais, aderindo elas mesmas à agenda de igualdade e inclusão (alguns leitores certamente notaram coisas como anúncios de emprego buscando “pessoas programadoras” e programas de formação de mão de obra focados em nichos específicos).
Esse é um processo que ainda está em curso. Em novembro do ano ado, por exemplo, a CI&T, uma das maiores empresas de desenvolvimento de software do Brasil, nomeou uma nova head para a sua área de ESG: Cinthia Oliveira, uma executiva que esteve envolvida numa série de iniciativas da área no Nubank e Uber.
Agora é ver até que ponto as multinacionais vão reorientar o seu discurso no Brasil, e até que ponto as grandes empresas nacionais vão seguir a deixa da nova tendência.