
Ginni Rometty liderou a IBM em uma época complicada. Foto: https://www.flickr.com/photos/fortunelivemedia/
Ginni Rometty, CEO e presidente da IBM desde 2012, está de saída do cargo e vai se aposentar.
Os substitutos serão Arvind Krishna, o líder da área de pesquisa e desenvolvimento, responsável pelas novas linhas de cloud e inteligência artificial, na posição de CEO e Jim Whitehurst, ex-CEO da Red Hat, adquirida pela IBM por US$ 34 bilhões em julho.
Arvind Krishna tem 30 anos de IBM (Rometty acaba de fechar 40), é um profissional mais técnico e está à frente de iniciativas nas quais a gigante americana colocou suas fichas, como a plataforma de inteligência artificial Watson.
Ele liderou a compra da Red Hat, um dos maiores negócios do setor de tecnologia nos últimos anos. Essa é uma alteração mais típica da IBM, na qual um executivo com décadas de casa substituiu outro executivo com décadas de casa.
Jim Whitehurst, por outro lado, veio de fora da IBM e é mais focado no lado operacional. Ele entrou na Red Hat em 2007, vindo do cargo de chief operating officer da Delta Air Lines, onde foi responsável pela reestruturação da companhia aérea depois de uma falência.
A aposta de analistas ouvidos pelo New York Times é que a divisão dos cargos de CEO e presidente, inédita na história da IBM, não deve durar: Krishna seria um CEO para o curto prazo e deve ser eventualmente substituído por Whitehurst.
Seja como for, Krishna e Whitehurst tem a difícil missão de seguir a virada do modelo de negócios na IBM, rumo aos chamados “imperativos estratégicos”: tecnologias quentes com margens altas como serviços cloud, inteligência artificial, segurança, blockchain e computação quântica.
O histórico da gestão Rometty à frente da IBM mostra o quanto isso é difícil.
A maioria dos analistas concorda que a missão da executiva era difícil. A IBM demorou para embarcar na onda da computação em nuvem, deixando novos competidores e velhos competidores como a AWS e Microsoft tomarem a liderança, com o Google correndo por fora.
Rometty tomou decisões de impacto, como vender o negócio de servidores mais básicos e computadores para a Lenovo em 2014. Ao todo, a executiva vendeu áreas que somavam vendas anuais de US$ 9 bilhões, mais ou menos 10% da receita anual da IBM.
Ao mesmo tempo, ela gastou US$ 21 bilhões em compras de 65 empresas, a maioria startups com negócios em áreas como nuvem híbrida, inteligência artificial e blockchain, os famosos imperativos estratégicos. Essas compras foram culminadas pela aquisição da Red Hat, uma líder em software para infraestrutura open source.
Com as medidas em curso, a IBM chegou a ficar um total de 22 trimestres (cinco anos e meio) divulgando quedas nas vendas, uma série histórica que só foi interrompida em janeiro de 2018 (devido a um pico de vendas causado por um novo mainframe, ainda por cima).
Em 2019, mesmo com o embalo da compra da Red Hat, as vendas ficaram em US$ 79,6 bilhões, uma queda de 3,1%.
A título de comparação, o resultado é só um pouco acima das vendas da empresa em 1997 (isso em valores constantes: se fosse corrigida pela inflação americana no período, a receita da IBM teria que ser de US$ 120 bilhões).
Mais importante do que o número do faturamento é o fato de que os novos negócios nos quais a IBM está apostando seu futuro não crescem mais rápido do que as áreas tradicionais, deixando a companhia mais próxima do mundo do mainframe do que do badalado universo de inteligência artificial do Watson.
O mercado fez uma avaliação dura dos resultados dos últimos anos: as ações da IBM durante a gestão Rometty caíram 26%, ao mesmo tempo em que o índice S&P 500, que reúne as maiores empresas americanas, cresceu 160%.
As empresas na Nasdaq, bolsa de tecnologia, tiveram um crescimento no valor das ações de 257%.