
Alckmin, durante o anúncio dos novos nomes. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Não há grandes surpresas na lista de 12 nomes que irão compor a equipe de transição para o novo governo Lula na área de Ciência e Tecnologia, anunciado pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin em Brasília nesta última quarta-feira, 16.
O nome mais chamativo é o de Ricardo Galvão, ex-presidente do Inpe, demitido por Jair Bolsonaro ainda em 2019, depois do presidente Jair Bolsonaro criticar a divulgação de dados sobre o desmatamento da Amazônia pelo instituto.
A atitude tornou Galvão um herói em círculos ligados à ciência e tecnologia e a sua nomeação parece ser um desagravo do novo governo.
No mais, a lista tem dois ex-ministros de Ciência e Tecnologia: Sergio Machado Rezende, que esteve no cargo entre 2005 e 2010, durante o segundo mandato de Lula, e Celso Pansera, dono no cargo nos estertores do governo Dilma (apesar de estar no PMDB na época, Pansera se engajou com força para tentar parar o processo de impeachment).
Os demais nomes são menos conhecidos do público geral, e incluem Alexandre Navarro, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas; André Magalhães, ex-presidente do Dataprev durante o governo Temer; Leone Andrade, diretor de Tecnologia e Inovação do Senai; Luiz Antônio Elias, ex-secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, ligado à Fundação Perseu Abramo, associada ao PT.
A participação de nomes sem background de governo ficou limitada ao circuito acadêmico, como Ildeu de Castro Moreira, doutor em física pela UFRJ; Glaucius Oliva, professor Titular do Instituto de Física de São Carlos; Ima Vieira, agrônoma especializada em genética e ecologia; Iraneide Soares da Silva, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Memória da Escravidão e do Pós-Abolição da UESPI; e Luis Manuel Rebello Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacional da PUC-RJ.
O novo governo nomeou 285 pessoas para a transição, divididos em 30 grupos técnicos que devem espelhar os futuros ministérios. Parece uma quantidade algo inchada, e é mesmo: a legislação que trata do processo de transição prevê apenas 50 vagas para cargos comissionados no processo.
Isso significa que a maioria dos anunciados para os trabalhos atuarão como voluntários, sem receber salário.
Por outro lado, quem está no meio do processo de transição faz parte do pool de candidatos para ocupar o futuro cargo de ministro, ou outros postos nomeados dentro do ministério, ou simplesmente aparece como um nome tido como influente pela próxima istração.
Pela composição do grupo Ciência e Tecnologia, o novo governo está apostando em mais do mesmo para a área, trabalhando a partir de nomes da máquina do governo ou do circuito acadêmico mais clássico que formam normalmente os quadros de comando e o foco das atenções do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Chama atenção por exemplo a ausência de qualquer representante do mundo privado (a inovação se dá por uma interação entre empresas, governo e academia, ou isso dizem os teóricos da coisa), ou pelo menos pesquisadores com um background em tecnologias voltadas para Indústria 4.0, um dos focos da estratégia industrial de Brasília nos últimos anos.