
O culpado pelo atraso de dois anos na ativação do Ceitec tem nome: consórcio Racional Delta.
Quem apontou o dedo foi ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante, ao dar explicações na Câmara dos Deputados nessa terça-feira, 13.
Mercadante foi convidado por parlamentares a explicar o atraso da produção na unidade, inaugurada em 2010, após R$ 500 milhões em investimentos.
“Temos uma pendência istrativa, e potencialmente jurídica, contra o consórcio”, ameaçou o ministro.
Segundo Mercadante, o consócio responsável fez a entrega com dois problemas que impediram o funcionamento da fábrica: a falta de um sistema de água ultrapura, necessário para a produção de chips, e a ausência de tubulações suplementares de segurança.
O processo de fabricação emite 17 tipos gases extremamente tóxicos, exigindo os tubos especiais.
Agora, o próprio Ceitec, situado em Porto Alegre, está fazendo os ajustes necessários na obra para que a fábrica opere com segurança, e dentro do prazo – ainda em 2012. A conta das reformas vai para a Delta e a Racional.
“Vamos debitar do consórcio os investimentos que forem feitos nesses ajustes”, disse Mercadante.
Empresas brasileiras cujos faturamentos am de R$ 1 bilhão, a Racional Engenharia e a Delta Construções não têm experiência em projetos de fábricas de chips – o Ceitec é a primeira do Brasil.
No entanto, essa não foi a estreia das empresas na área de tecnologia. A Racional assina os 23,2 mil metros quadrados da fábrica da LG Eletronics em Taubaté (SP), planta com mais que o dobro do Ceitec, e que foi entregue em seis meses.
Já a Delta participa da construção da usina termelétrica Presidente Médici Candiota, no Rio Grande do Sul, projeto que também envolve altas medidas de segurança.
Se os antecedentes de competência am no teste de qualidade, a lisura não é a prova de suspeitas.
Matéria do jornal Folha de S. Paulo publicada em janeiro de 2010 aponta a Delta Construções como beneficiária especial do governo Lula, cujos contratos teriam ajudado o faturamento da empresa a crescer cinco vezes de 2002 a 2008, e 1.957% de 2008 para 2009.
Na época, a empresa declarou ao jornal que “o crescimento de sua atuação se deve ao aumento de investimentos do governo federal na área de transportes públicos, que teriam crescido quatro vezes”.
O Ceitec, cuja obra começou em 2005, não foi citado diretamente pela Folha.
Reportagem da revista Isto É publicada em junho desse ano, no entanto, dizia que a fábrica de chips foi superfaturada em R$ 15,8 milhões.
“Desde que assumi a pasta (no início desse ano), não aceitei fazer nenhum aditivo no contrato”, explicou-se Mercadante. O Ministério de Ciência e Tecnologia foi controlado pelo PSB durante os oito anos do governo Lula e o petista Mercadante já deu a entender em outras ocasiões que não assumia responsabilidade pelo legado em relação ao Ceitec.
Hoje com um projeto pronto para uso e em produção terceirizada – o chip do boi – e outros dois em desenvolvimento – o chip Aurum, que será usado pelos hemocentros, e o Sinav, que permitirá o controle da frota automotiva do país, o Ceitec consumiu o dobro do previsto em recursos desde 2001.
Além disso, teve polêmicas reviravoltas em sua gestão, como a demissão do alemão Eduard Weichselbaumer da presidência, que teria pedido demissão fazendo duras críticas à burocracia e à istração da estatal.
Outra questão duvidosa foi a compra de um ERP da SAP, em dezembro do ano ado, por R$ 450 mil, em paralelo a um programa similar da Totvs, adquirido em novembro do mesmo ano por R$ 613 mil.
Apesar disso, Mercadante defende: “a fábrica não é um elefante branco”.