
Assunto nas redes sociais em Porto Alegre nessa semana, o site PoaBus é um case duplo.
A página, que mostra num mapa as rotas do transporte coletivo na capital, exemplifica a facilidade com que boas ideias podem ser executadas na Internet, mas também a dificuldade em rentabilizá-las.
Tuitado e retuitado centenas de vezes desde a última segunda-feira, 29, o site já ou por algumas horas de indisponibilidade, e tem preocupado o idealizador do projeto, Bruno Jurkovski, 20 anos, estudante de Ciências da Computação da Ufrgs.
Pelo número de tuitadas desde a segunda, – 916 até a publicação desta matéria – a ideia pegou bem entre os usuários do transporte coletivo porto-alegrense. O site recebeu elogios como “obrigado meldels” e “alguém fez o que a EPTC nunca vai conseguir”.
Na segunda, o site teve cerca de 4 mil visitas, segundo Jurkovski. Na terça-feira, 29, foram outras 6 mil. Resultado: indisponibilidades prolongadas do serviço, hospedado no Google App Engine. Foram duas horas de indisponibilidade na segunda e quatro horas na terça.
“Está complicado manter a página”, ite o estudante. De acordo com o Google, o preço para o GB transferido é de US$ 0,12, após esgotado o volume do limite gratuito. “Acaba ficando pesado”, explica Jurkovski, sem revelar os valores gastos até agora.
“Manter o serviço de pé é um desafio. Já tenho uma área para doações, mas estou aberto a outras propostas e ideias para conseguir sustentar a colaboração”, conta.
Criatividade e anticoitadismo
Do poder público, o PoaBus sequer recebeu informações. O desenvolvedor chegou a entrar em contato com a EPTC atrás da lista de roteiros para inserir no site, mas não foi atendido.
Conforme dito à reportagem do Baguete Diário, ele não ofereceu o site comercialmente à prefeitura.
Para Bob Wollheim, fundador da Sixpix e colaborador do blog especializado em empreendimentos tecnológicos Startupi, no Brasil, começar um negócio na web não é fácil.
“O Brasil já não tem uma estrutura organizada de investimento. Aqui a coisa acontece, mas vai muito na criatividade. É isso que esse garoto tem que fazer, ser criativo”, sugere.
Algumas alternativas, para Wollheim, seriam propor permutas para a hospedagem do serviço, dividindo o crédito da ideia, ou então recorrer ao crowdfunding, em portais como o Catarse, em que o público colabora com projetos.
“Uma coisa é ter uma ideia legal, outra é ver se as pessoas estão dispostas a bancá-la”, destaca.
“Agora, não dá pra ter uma postura de ficar chorando. Me parece que não é o caso desse garoto, mas muita gente ao empreender faz isso. O Skype, que é esse sucesso todo, recebeu 26 nãos antes de ter investimento. Ninguém tá aí para nos ajudar”, completa Wollheim.
O blogueiro de negócios do Baguete Diário Gustavo Chierighini sugere também um plano bem estruturado para levar o site adiante de forma lucrativa.
“É o mínimo que qualquer pessoa que pense em investir vai exigir”, comenta.
Como alternativa imediata, Chierighini também defende a entrada do projeto em uma encubadora universitária, onde o site teria todo o auxílio necessário para virar uma empresa, da criação do CNPJ ao registro da marca.
Ideia vinda no Fisl
Em Porto Alegre, são 1,1 milhão de ageiros diários do transporte coletivo. Com 364 opções de itinerários, saber qual a mais perto do ponto de chegada pode complicar ao ir a lugares novos.
No site da EPTC, os itinerários são informados, mas através de uma lista das ruas por onde a o ônibus em cada um dos sentidos em que trafega. Para quem não conhece as rotas, é difícil saber exatamente onde o ônibus dobra e qual o trecho percorrido de cada logradouro.
“O mapa facilita”, conta Jorkovski, morador de Canoas e usuário diário do sistema de transporte público na Região Metropolitana.
A ideia surgiu de uma palestra no Fórum Internacional Software Livre (fisl) do ano ado, quando Carlos Duarte do Nascimento, ou Chester, apresentou o projeto Cruzalinhas.
O site traça trajetos de ônibus na cidade de São Paulo. Apesar da inspiração, e de o Cruzalinhas ser um projeto open source, a versão gaúcha não chegou a aproveitar o mesmo código fonte.
“Seria mais complicado eu aprender o código dele do que desenvolver o meu. Então fiz o PoaBus individualmente. O processo todo levou uns três meses, já que trabalhei nele nas férias e horas de folga, fora do meu trabalho na universidade”, conta o estudante, que é bolsista da UFRGS.
Versões já existentes
Além do projeto de São Paulo, que inspirou Jurkovski, o projeto de Londres é bastante parecido com o PoaBus. Usando o ponteiro do mouse, é possível marcar ponto de partida e destino num mapa do Google.
O sistema do London BusMapper sugere as rotas e trajetos automaticamente.
No Google, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro também já oferecem opções de trajeto roteado, incluindo dados do sistema de transporte público.
Em números
Com 70 linhas mapeadas, o PoaBus exibe hoje mapas de 19% dos trajetos abrangidos pelos ônibus em Porto Alegre. As rotas cobrem linhas em todas as regiões da capital, e incluem o trajeto do trem e de pelo menos um itinerário intermunicipal: a linha Porto Alegre/Canoas.
A página é aberta a colaborações de usuários, que podem inserir com novos itinerários. Hoje, há um espaço para doações na própria página.